Banco do Brasil (BBAS3) contraria consenso e sobe até 4%; o que os investidores veem e os analistas não?

As ações do Banco do Brasil (BBAS3) firmaram alta no Ibovespa (IBOV) no final da manhã desta sexta-feira (15) e mantém o ritmo de ganhos por toda a sessão, contrariando a percepção de um resultado mais fraco do que o esperado e o consenso negativo dos analistas.
Na abertura, BBAS3 caiu 4,13% e os papéis entraram em leilão por oscilação máxima permitida. Após várias pausas nas negociações, as ações inverteram sinal e passaram a subir. Os papéis encerraram com avanço de 4,03%, a R$ 20,65.
A companhia também foi a mais negociada da B3 com um volume de mais de 101 mil negócios e giro financeiro próximo a R$ 2,5 bilhões — o maior desde 16 de maio, dia seguinte à divulgação do balanço do primeiro trimestre (2T25).
Na noite de ontem (14), o banco reportou um lucro líquido ajustado de R$ 3,8 bilhões entre abril e junho, um declínio de 60% na comparação com o mesmo período do ano passado, puxada pela inadimplência no agronegócio.
A cifra ficou abaixo do esperado pelas projeções de analistas compiladas pela LSEG, que apontavam lucro líquido de R$ 5,279 bilhões.
Esse foi o segundo recuo dos números após 16 trimestres consecutivos de crescimento anual do lucro. Além disso, foi o único, entre os grandes bancos, a apresentar redução.
O ROE (retorno sobre o patrimônio líquido) despencou 13 pontos percentuais, encerrando o trimestre a 8,4%. A média de cinco analistas consultados pelo Money Times esperava 11% de ROE. De acordo com dados da Elos Ayta, é o pior rentabilidade desde, pelo menos, 2010.
O Banco do Brasil também cortou as projeções de payout (parcela do lucro distribuída para acionistas) de 40% para 30% e revisou o guidance para 2025, agora prevendo lucro líquido entre R$ 21 bilhões e R$ 25 bilhões — ante a previsão anterior de R$ 37 bilhões a R$ 47 bilhões no acumulado do ano.
- LEIA OS DETALHES DO BALANÇO EM: Banco do Brasil (BBAS3): Lucro cai 60% para R$ 3,8 bi no 2T25, abaixo do esperado; ROE encolhe para 8%, pior marca em décadas
Por que BBAS3 sobe?
Na avaliação de Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o tom positivo é sustentado pelas declarações da presidente do banco, Tarciana Medeiros, durante a teleconferência sobre os resultados com investidores e analistas.
“Tarciana já trouxe um reconhecimento dos problemas e deu alguma luz do que se imagina dos resultados no último trimestre do ano, que são vão mostrar alguma reversão [das perdas]. Ela soube contornar bem o momento negativo da empresa, ao mesmo tempo que, por mais que seja negativo, o banco lucrou”, disse Cruz.
No evento, a CEO do BB disse que o momento do banco exige uma “conversa franca” com o mercado e afirmou que o BB deve mostrar um resultado “mais estressado” no terceiro trimestre, ainda em razão de operações na carteira de crédito do agronegócio, com melhora apenas no final do ano.
Segundo ela, essa melhora no quarto trimestre deve ser apoiada pelo crescimento da margem financeira bruta.
Já em coletiva a jornalistas, a executiva afirmou que 2026 será o ano de recuperação. “O recado que eu dou para o investidor é, aguarde 2025, a gente vai entregar para o mercado o que a gente está se propondo a entregar, e 2026 é um ano de recuperação”.
A analista da Empiricus, Larissa Quaresma, também avalia que a alta é explicada por expectativas futuras, compartilhando a mesma visão de Cruz.
“Quem compra Banco do Brasil no pregão de hoje e que, portanto, está formando a alta de preços que estamos vendo agora, está pensando no que vai acontecer no futuro. As expectativas de futuro são sempre mais relevantes para a formação de preço de uma ação do que o que aconteceu no passado. Portanto, quem compra a ação hoje está pensando na melhora do BB daqui para frente”, disse Quaresma durante o programa Giro do Mercado, do Money Times.
Em relatório sobre o balanço, o Safra também anteviu uma possível reação positiva — apesar da visão mais cautelosa da equipe.
Os analistas afirmaram que os investidores que responderam à pesquisa sobre o BB esperavam o ponto médio da projeção em torno de R$ 20 bilhões e tinham uma postura pessimista em relação à empresa.
Contudo, alguns deles poderiam interpretar os resultados do segundo trimestre como positivos, devido ao resultado final já antecipado e à projeção de guidance melhor do que o esperado.
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Pessoa física salva Banco do Brasil
Há também um movimento técnico: os investidores que estavam vendidos (apostando na queda) estão sendo “forçados” a zerar as posições, gerando uma pressão compradora.
Leandro Siqueira, analista e cofundador da Varus, afirma que 80% dos investidores — e detentores das ações free flow — de BBSA3 são pessoas físicas e estrangeiros. “Tanto pessoa física quanto investidores estrangeiros não fica olhando o resultado trimestral na via ou na contabilidade, que é a tese short que prevalece hoje”, afirmou.
Para ele, o investidor pessoa física está com a ‘mentabilidade’ comprar na baixa. “Banco do Brasil é uma das ações mais queridinhas. Tem muita gente na internet que comenta sobre ela nessa questão de dividendos”.
Já o capital estrangeiro faz uma análise muito mais superficial — isso quando o investimento não é feito através de ETFs, que apenas replicam índices. “Tanto faz como tanto fez o resultado”, disse Siqueira.
A participação de pessoas jurídicas no free flow do BB, que seriam os fundos de investimento, caiu de 23,4% para 18,3% em cinco trimestres.
“Então tem cada vez menos gente com ações do banco do Brasil para se desfazer. Já até teve gestora grande fazendo declaração pública de que tinha montado posição. Que significa que ela muito provavelmente não vai fazer agora e não tem muito de onde tirar são ali para shortear.”