Banco do Brasil (BBAS3) ainda pior? JPMorgan vê outro ‘detrator’ para balanço; veja o que fazer com papel
O Banco do Brasil (BBAS3) enfrentou uma tempestade perfeita nos últimos trimestres, com o lucro despencando mais de 50%.
A piora da inadimplência no agronegócio se somou às mudanças de regras do Banco Central (BC) e à deterioração da carteira de pequenas e médias empresas (PMEs), o que agravou o balanço do segundo trimestre.
Agora, o JPMorgan aponta um novo fator de pressão para o resultado do terceiro trimestre: o desempenho do Banco Patagônia, subsidiária do BB na Argentina.
- CONFIRA: Está em dúvida sobre onde aplicar o seu dinheiro? O Money Times mostra os ativos favoritos das principais instituições financeiras do país; acesse gratuitamente
“Embora essa operação seja pequena — representou 12% do lucro do Banco do Brasil no primeiro semestre de 2025 —, qualquer impacto no lucro por ação (LPA) é considerado relevante”, destaca o banco.
O cenário argentino segue delicado.
Os indicadores econômicos pioraram, e os mercados locais entraram em pânico após o partido do presidente Javier Milei sofrer derrota expressiva nas eleições locais da província de Buenos Aires.
“Como resultado, reduzimos nossa projeção de lucro recorrente em 16%, para R$ 3,6 bilhões, uma queda de 4% em relação ao trimestre anterior e 7% abaixo do consenso da Bloomberg“.
Por outro lado, um ponto positivo pode vir da BB Seguridade (BBSE3), que deve apresentar bom desempenho, segundo dados da Susep, além de uma possível recuperação da margem financeira líquida (NIM), acompanhando a tendência observada no segundo trimestre.
Piora nas expectativas
O JPMorgan também destaca que as expectativas dos investidores se deterioraram desde o Investor Day e a teleconferência de RI, principalmente por causa dos atrasos na tramitação da MP 1.314/2025, que autoriza a renegociação de dívidas do agronegócio.
A medida, vista como um alívio para o BB, ainda está em fase inicial de implementação, o que pode ter gerado um “risco moral” no terceiro trimestre — produtores rurais adiando o pagamento de dívidas à espera da aprovação final do programa.
Os analistas lembram ainda que dados regulatórios do Banco Central referentes a agosto reforçaram o pessimismo, com lucro contábil de R$ 780 milhões — o equivalente a R$ 2,3 bilhões em termos anualizados contábeis ou R$ 3 bilhões em base gerencial, considerando R$ 700 milhões em ajustes de planos econômicos.
- SAIBA MAIS: Investir com inteligência começa com boa informação: Veja as recomendações do BTG Pactual liberadas gratuitamente pelo Money Times
“De forma geral, enquanto há alguns meses se esperava um trimestre semelhante ao segundo trimestre de 2025, acreditamos que agora o consenso aponta para um terceiro trimestre mais desafiador”, avalia o JPMorgan.
O relatório observa que investidores locais estão mais pessimistas que os estrangeiros:
“O buy side local parece projetar um resultado ligeiramente abaixo do 2T25, mais próximo do ritmo observado em agosto, enquanto investidores estrangeiros esperam algo estável ou levemente acima do trimestre anterior.”
Outro ponto levantado é a capacidade do BB de cumprir o guidance de lucro para 2025, estimado entre R$ 21 bilhões e R$ 25 bilhões.
“[Esse intervalo] pode estar em risco, já que o quarto trimestre precisará ser forte para atingir o piso da faixa”, adverte o banco.
Agronegócio segue como pedra no sapato
Os créditos ligados ao agronegócio continuam sendo o principal obstáculo, elevando as provisões para perdas com crédito (PDD) para R$ 16,2 bilhões no trimestre, segundo o JPMorgan.
“Os produtores rurais adotaram uma postura de ‘esperar para ver’ em relação ao projeto de lei. Quanto mais demorar para que esses empréstimos sejam refinanciados, maior a chance de operações classificadas como estágio 2 (risco moderado) migrarem para estágio 3 (inadimplência)”, diz o relatório.
Em entrevista ao Money Times, Alberto Martinhago Vieira, diretor de agronegócios e agricultura familiar do BB, reconheceu que 2025 é um ano de rebalanceamento da capacidade de pagamento dos produtores.
“O grande desafio é não colocar todo mundo nessa caixa de crise do agro, porque ainda temos muitas oportunidades na mesa”, afirmou Vieira.
O que fazer com BBAS3?
O JPMorgan até vê o papel do Banco do Brasil como um bom veículo para capturar a opcionalidade ligada às eleições de 2026, mas acredita as ações tendem a responder melhor mais próximo desse período.
“Observamos deterioração na qualidade dos lucros nos últimos exercícios, com maior volume de renegociações de crédito, crescimento da contribuição contábil da operação na Argentina e lançamento de despesas classificadas como não recorrentes”, ressalta o banco.
Com recomendação neutra, o preço-alvo para dezembro de 2026 é de R$ 24 por ação, o que implica que o BB negocia a 0,7 vez o valor patrimonial projetado para 2025 e 4,3 vezes o lucro estimado para 2026.