Banco Central x Governo: Quem sai vitorioso do debate sobre Selic?
Pela primeira vez, o Governo Federal e Banco Central estiveram frente a frete em um debate público sobre o atual patamar da Selic, que é mantida em 13,75% desde agosto do ano passado e vem desagradando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O Senado organizou uma sessão de debates sobre juros, inflação e crescimento econômico, que contou com a presença dos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento), além do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Até então, as falas do governo e da autoridade monetária eram feitas em entrevistas e discursos.
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Também foram convidados representantes de diversos setores econômicos, como da Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF) e da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
Ainda estavam presentes a Confederação Nacional da Indústria (CNI), da Confederação Nacional do Transporte (CNT), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Por fim, foram representantes do Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor (Brasilcon) e da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE).
Selic: cortar ou não cortar?
Campos Neto seguiu o mesmo discurso que fez na sabatina de terça-feira (27), no qual destacou que as decisões do Banco Central são técnicas e levam em conta os dados de inflação, o hiato e as projeções do mercado.
Ele também repetiu a fala de que sabe o quanto a inflação alta é custosa para o país, especialmente para a população pobre. No entanto, apontou que se o Banco Central não tivesse elevado a Selic, o cenário econômico estaria pior. “Não se consegue estabilidade social com inflação descontrolada”, disse.
Campos Neto ainda afirmou que a redução da Selic pode não ser suficiente para aliviaria a situação do crédito e fez um aceno para o governo ao dizer que a equipe econômica está caminhando na direção correta, se referendo ao arcabouço fiscal.
Haddad, por sua vez, disse que uma desaceleração da economia relacionada à condução da política monetária levaria a problemas fiscais. “Eu não vejo a política fiscal e a política monetária como separadas. Se eu desacelero a economia, saindo de 4% para 3%, para 2%, para 1%, eu vou ter impactos fiscais”, afirmou.
Ele aproveitou o evento no Senado para defender o corte de gastos públicos e defender o combate às renúncias fiscais. Em sua fala, Haddad também destacou a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre descontos do ICMS, que tem um impacto estimado de R$ 90 bilhões aos cofres públicos.
O ministro da Fazenda teve apoio de Simone Tebet. A ministra aponto que o Banco Central não pode considerar que suas ações são apenas técnicas, pois as decisões da autoridade monetária interferem na política.
“A autonomia do Banco Central é importante para a estabilidade econômica, portanto o governo não interfere nas decisões técnicas. Mas o Banco Central não pode considerar que suas ações são apenas técnicas, são técnicas, mas também são decisões que interferem na política, especialmente seus comunicados e suas atas”, afirmou.
O lado que defende a queda dos juros também ganhou coro das entidades do setor econômico que reforçaram a desaceleração econômica e industrial.
No entanto, o governo não saiu ileso. Senadores da oposição, como Sérgio Moro, destacaram que não adianta o governo reclamar da taxa de juros e do trabalho do Banco Central sem fazer reformas necessárias para reduzir os gastos.