Banco Central vai acelerar os cortes na Selic? Entenda o que muda com projeção de inflação dentro da meta
Pela primeira vez desde 2020, a projeção do Relatório Focus para a inflação ficou dentro do teto da meta, após os economistas reduzirem as apostas de 4,86% para 4,75%.
Vale lembrar, que a meta de inflação para 2023 é de 3,25%, com uma margem de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Ou seja, o teto da meta é de exatos 4,75%. Para o ano que vem, a meta é de 3%, com um teto de 4,50% – a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está em 3,88%.
Segundo o economista André Perfeito, a revisão para baixo se justificam após serem divulgados os últimos dados de inflação.
Em setembro, o IPCA subiu 0,26%, acelerando-se em relação à alta de 0,23% apurada em julho. Com isso, a inflação acumula alta de 3,50% nos primeiros nove meses do ano. Em 12 meses, o acumulado é de +5,19%.
“Vieram melhores que o esperado com melhora nos núcleos e na dispersão. De fato, há bons motivos para se pensar uma inflação melhor a curto prazo”, afirma.
Já Volnei Eyng, economista e CEO da Multiplike, destaca que, normalmente, o indicador varia 0,02 ponto percentual para cima ou para baixo. “Desta vez, a variação veio bem agressiva, principalmente por conta dos núcleos de inflação, que começaram a captar tendências de enfraquecimento no consumo”, diz.
Se a inflação de fato seguir as expectativas, significa que o Banco Central terá cumprido o seu papel de controle dos preços. Além disso, para os mais otimistas, os números também abririam espaço para um corte de juros mais acelerado por parte da autoridade monetária.
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Pedras no caminho do Banco Central
No entanto, nem tudo são flores. Apesar na desaceleração inflacionária, o Banco Central agora precisa incluir nas suas contas da Selic o efeito da guerra em Israel. Com nove dias de guerra, o mercado financeiro acendeu um alerta vermelho sobre o impacto nos preços do petróleo caso o conflito deixe a Faixa de Gaza e se espalhe pelo Oriente Médio.
Se os preços da commodity subirem muito, isso deve contaminar a inflação global e exigir dos bancos centrais uma postura mais firme.
Além disso, Perfeito lembra que ainda existe uma dúvida sobre o comportamento dos juros longos nos Estados Unidos.
“Até antes da guerra os analistas eram unânimes sobre a elevação dos juros longos nos EUA uma vez que dados econômicos melhores por lá sugeriam que a inflação seria persistente e assim a variável de ajuste seria a parte longa da curva”, aponta.
Outro ponto de atenção é o cenário fiscal do Brasil. O Ministério da Fazenda está com cada vez mais dificuldade de fechar as contas para atingir a meta do arcabouço fiscal de zerar o déficit já no ano que vem.
Copom de outubro
Enquanto isso, o mercado segue precificando um corte de 0,50 ponto percentual. Para Eyng, com o Relatório Focus desta semana, o Banco Central fica respaldado para implementar um novo corte de juros.
“Vale lembrar que a Selic é a taxa de juros da economia brasileira e o mercado já precificou dois cortes de 0,50 pp nas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) previstas para os meses à frente”.
O BC iniciou o corte da taxa básica de juros em agosto, quando a Selic estava em 13,75% ao ano. Até agora, já foram dois cortes de 0,50 pp, levando os juros para o patamar de 12,75%.