Coluna do Kleber Stumpf

Banco Central, Selic e Lula: Entenda a pressão política sobre taxas de juros no Brasil

16 jun 2024, 15:00 - atualizado em 16 jun 2024, 11:51
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O aumento dos preços exige certa cautela com relação à Selic: se baixam os juros, o consumo aumenta e a inflação volta a subir. (Imagem: Agência Brasil)

Recentemente, o presidente Lula fez um apelo público ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para que contribuísse com as medidas de apoio ao Rio Grande do Sul baixando a Selic.

Dessa forma, o governo poderia emprestar dinheiro a juros mais baixos para os atingidos pelas enchentes no estado. Parece um pedido justo, mas será que, a longo prazo, é uma boa escolha?

O avanço da inflação, que pulou de 0,38% em abril para 0,46% em maio, deve confirmar a manutenção dos juros em 10,5% a.a. no país na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que acontece na semana que vem.

O aumento dos preços exige certa cautela com relação à Selic: se baixam os juros, o consumo aumenta e a inflação volta a subir.

Outro impacto é no mercado financeiro. Se, por um lado, pegar empréstimo fica mais barato, por outro, investir no país não se torna atrativo.

Quando cai a taxa de juros, cai também o rendimento dos investidores, gerando um movimento de retirada do dinheiro do país. O que isso significa? Depreciação cambial. O real desvaloriza e fica mais caro importar insumos e os preços dos produtos sobem ainda mais. Adicione a este cenário a situação atual, com dólar a níveis elevados.

Ou seja, a taxa de juros é uma das principais ferramentas de política monetária usada para controlar a inflação. Por isso, o trabalho do Banco Central é tão importante e precisa de autonomia. As projeções e decisões da instituição moldam expectativas dos agentes econômicos e interferências políticas prejudicam a credibilidade — afastando, por exemplo, investimentos estrangeiros. A falta de independência do BC também desequilibra a economia.

Existem outras maneiras de fazer a roda girar. Incentivos fiscais e investimentos em infraestrutura têm essa função. E, em situações específicas, uma alternativa é o aumento na quantidade de dinheiro em circulação no país, chamado de relaxamento quantitativo. Esse instrumento dá mais liquidez para o sistema financeiro, dando mais acesso ao crédito.

Quando o Executivo pressiona uma autarquia, publicamente, em um momento tão sensível para a população, pode prejudicar uma decisão que é técnica e precisa de visão de longo prazo. Ou a inflação alta nos próximos meses vai ajudar o povo gaúcho a sair da crise?