Economia

Banco Central ‘não é sádico’ e corte nos juros pode estar próximo, avalia economista e ex-presidente do BC

23 maio 2023, 10:51 - atualizado em 23 maio 2023, 10:51
Banco Central
Armínio Fraga avalia que, com apoio fiscal, o corte na taxa de juros pelo Banco Central pode ocorrer em breve (Imagem: Reuters/Ueslei Marcelino)

O Banco Central está próximo de cortar os juros no Brasil, na avaliação de Armínio Fraga, ex-presidente da autoridade monetária. Em entrevista ao Valor Econômico, ele destacou que depende de apoio fiscal para que isso ocorra.

“O Banco Central, em geral, faz um belo trabalho nessa área, ninguém lá é sádico. Tem gente que acha que o BC está a serviço dos rentistas. Eu acho que quem está serviço dos rentistas é o governo, que é o maior tomador de empréstimos e assim pressiona os juros”, disse.

Para o economista, não há margem de segurança para o corte na taxa básica de juros, dessa forma, é necessário resolver as contas, a fim de reduzir as incertezas.

Ao Valor, disse ainda que a meta de inflação — de 3,25%, 3% e 3% para 2023, 2024 e 2025, respectivamente — é adequada. No entanto, defende um prazo maior para o cumprimento, a fim de fazer com que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, se sinta “protegido” no manejo da política monetária.

Neste contexto, Fraga defende uma nova Reforma da Previdência, ainda que a última tenha ocorrido há quatro anos, bem como reformas administrativa e tributária.

Área econômica vai mal

Fraga afirmou que a “área econômica vai mal”, em avaliação do Governo Lula até o momento. “Olhando para o lado econômico, confesso que esperava mais. Imaginava que as lições do PT no poder, tanto as positivas quanto as negativas, tivessem sido razoavelmente absorvidas”, disse.

Para o economista, os ministérios da Fazenda, de Fernando Haddad, e do Planejamento, de Simone Tebet deram um sinal correto na questão fiscal, na direção de recuperação da credibilidade do Brasil, o que Fraga avalia como um pilar do “tripé macroeconômico”.

“Com as taxas de juros que temos, o Banco Central está precisando é de ajuda. Nossa política macroeconômica está desequilibrada, impondo muito peso ao monetário”, disse.

Presidente do Banco Central concorda com reformas

Campos Neto, afirmou na sexta-feira (19) que o Brasil passa “muito tempo” discutindo se as taxas de juros estão subindo ou descendo, mas que é preciso falar de reformas estruturais.

“Precisamos focar em fazer mais e mais reformas. Porque no momento o equilíbrio entre dívida mais alta, taxa neutra mais alta e crescimento estrutural mais baixo é muito prejudicial”, afirmou, durante o encerramento do “High Level Seminar”, evento promovido pelo BC em São Paulo com dirigentes de bancos centrais de vários países.

Campos Neto pontuou ainda que é preciso perseverar no combate à inflação. “Devemos perseverar na inflação, devemos levar a inflação para a meta”, disse.

Metas de inflação

Na reunião de junho, ocorre a definição da meta para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de três anos-calendário à frente, pelo Conselho Monetário Nacional (CMN)

No começo do ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a criticar a meta de inflação, alegando que ela está muito baixa e isso atrapalharia a redução da taxa Selic. Na época, Lula foi orientado a reduzir o cabo de guerra sobre esse tema e o Ministério da Fazenda assumiu o comando do debate de metas.

A equipe econômica estuda uma forma de flexibilizar o regime de metas. A ideia é que o governo adote um tempo mais longo para cumprimento do objetivo. Sendo assim, espera-se a substituição da regra baseada em ano-calendário.

O modelo defendido pela Fazenda é o de meta de inflação contínua, que basicamente tem um prazo mais longo que 12 meses.

O motivo da mudança é que os efeitos da política monetária tendem a aparecer, em média, após 18 meses – e o governo que alinhar a meta com essa janela de tempo.

* Com Reuters e Juliana Américo

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