Banco Central e Tesouro cancela leilões de prefixados por “condições mais restritivas” do mercado
O Tesouro Nacional informou nesta segunda-feira o cancelamento do leilão primário de títulos prefixados (LTN e NTN-F) previsto para 12 de março (quinta-feira), “em virtude das condições mais restritivas do mercado financeiro”, conforme comunicado publicado no site do Tesouro.
O cancelamento é parte de “atuação coordenada com o Banco Central do Brasil”, disse o Tesouro no texto.
Está mantido, contudo, a oferta de LFT (títulos atrelados à Selic) programada para a mesma data.
“O Tesouro Nacional seguirá acompanhando a evolução das condições de mercado, para garantir o bom funcionamento do mercado de títulos públicos e de outros mercados correlatos”, disse a nota.
As taxas de juros dos contratos futuros de DI negociados na B3 –que servem de parâmetro para os juros pagos nos leilões do Tesouro– dispararam nesta segunda-feira, reflexo da onda de aversão a risco que tomou conta dos mercados globais diante da derrocada dos preços do petróleo e dos temores em relação aos efeitos econômicos do coronavírus.
O DI janeiro 2027 –cujo vencimento é um dos contemplados na oferta de NTN-F pelo Tesouro– saltou 45 pontos-base apenas nesta sessão, para 7,02% ao ano, maior alta diária em pontos desde junho de 2018.
Enquanto o Tesouro anunciou o cancelamento da oferta de prefixados, o Banco Central voltou a comunicar leilão, para terça-feira, de até 2 bilhões de dólares em moeda à vista, depois de nesta segunda ter colocado 3,465 bilhões de dólares nessa modalidade. O volume desta segunda é o maior a ser liquidado em um mesmo dia desde pelo menos 11 de maio de 2009.
Na última quinta-feira, o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, disse que não via disfuncionalidade no mercado de títulos, razão pela qual, segundo ele, o Tesouro não estava conversando com o Banco Central sobre eventual ação conjunta.
A última vez que o Tesouro havia cancelado leilões programados por aumento de volatilidade no mercado fora entre maio e julho de 2018, na esteira de uma forte turbulência nos ativos financeiros em meio aos efeitos da greve dos caminhoneiros e preocupações no exterior sobre a guerra comercial.
Entre cancelamento e realização de operações extraordinárias, o Tesouro fez à época recompra líquida de um total de 22,04 bilhões de reais em títulos, dando saída a investidores que desejavam se desfazer dos papéis em forte desvalorização.
Na ocasião, o Tesouro também atuou em coordenação com o Banco Central. Ao longo de maio, junho e julho de 2018, o BC liquidou a venda líquida de 43,616 bilhões de dólares em contratos de swap cambial tradicional –que funcionam como injeção de liquidez no mercado futuro de câmbio.
Nesta segunda-feira, o dólar se aproximou de 4,80 reais, renovando máximas históricas. No ano, a moeda salta 17,76%, o que mantém a divisa brasileira na lanterna entre seus principais rivais no período.