Banco Central considerou acelerar alta de juros na semana passada
O Comitê de Política Monetária (Copom) avaliou a possibilidade de acelerar a alta dos juros em sua reunião da semana passada em meio a uma inflação persistente, mas entendeu que seria mais adequado manter o ritmo de aperto de 0,75 ponto percentual, com a indicação de um possível aumento maior no encontro seguinte, em agosto, mostrou a ata da reunião divulgada nesta terça-feira.
O colegiado avaliou que essa estratégia teria a vantagem de dar mais tempo ao Copom para acumular informações sobre a evolução dos preços mais inerciais, em meio à recuperação do setor de serviços, e também sobre o comportamento das expectativas de inflação, mostrou o documento.
O Copom também chamou a atenção, nesse contexto, para a importância de “esclarecer a distinção entre transparência sobre as projeções condicionais e intenções invariantes de política monetária”.
O colegiado frisou que o compromisso “inequívoco” do BC é com a convergência da inflação para o horizonte relevante e que os passos para se alcançar esse objetivo são ajustados de acordo com as informações que se tornam disponíveis.
“Desse modo, indicações sobre a trajetória futura dos juros, sejam para a próxima reunião ou para o patamar final, são elementos úteis para a compreensão da função de reação da política monetária”, disse o Copom na ata.
“As informações obtidas no período entre as reuniões do Copom modificam as hipóteses presentes no cenário básico e no balanço de risco, e naturalmente alteram a trajetória futura dos juros.”
O Copom levou a taxa Selic a 4,25% em reunião encerrada na última quarta-feira, na terceira alta consecutiva de 0,75 ponto, e indicou a intenção de levar os juros a patamar considerado neutro à frente –o que hoje equivale a cerca de 6,5%, segundo estimativa recente do próprio BC. O colegiado também previu uma elevação de 0,75 ponto para agosto, mas ressaltando que o aperto pode ser maior em caso de deterioração das expectativas.
“Acho que a mensagem que sai dessa ata é o Banco Central entende que agora ele vai ter que realmente levar (a taxa Selic) para 6,5% e que talvez tenha que fazer isso até de forma mais rápida caso as projeções de inflação continuem subindo”, disse Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
Risco Fiscal
Na ata, o BC afirmou que, apesar de seu cenário básico apontar para uma inflação alinhada com a meta de 2022 –que é de 3,5%–, os riscos fiscais do país impõem um viés de alta para essas projeções, o que deve exigir um aperto maior.
O Copom notou que, apesar de uma melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida, o risco fiscal segue elevado e novos prolongamentos de políticas de resposta à pandemia podem elevar os prêmios de risco do país.
“Essa assimetria no balanço de riscos afeta o grau apropriado de estímulo monetário, justificando assim uma trajetória para a política monetária menos estimulativa do que a utilizada no cenário básico”, afirmou o BC.
O cenário básico do Copom considera a trajetória de juros prevista pelo mercado no relatório Focus, que aponta para uma Selic de 6,25% ao final deste ano e de 6,5% em 2022.
A expectativa de inflação do mercado para o próximo ano –horizonte em que está focada a política monetária– está em 3,78%.
Para este ano, em que a meta central é de 3,75%, as expectativas já estão em 5,90%. Nos dois períodos a meta tem uma margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos.