Banco BV espera geopolítica ‘ruidosa’ com Trump, cita desaceleração da China e projeta dólar a R$ 6
O economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, disse que uma eventual vitória do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump nas eleições deste ano pode ser “mais prejudicial para os mercados emergentes”.
Ele vê o republicano com uma agenda de expansão fiscal parecida com a da candidata Kamala Harris. A democrata, no entanto, tenderia a uma geopolítica menos ruidosa, disse a jornalistas em apresentação das previsões da instituição nesta segunda-feira. (4),
Uma pesquisa do New York Times/Siena College apontou que Harris e Trump estão em uma disputa acirrada nos sete Estados cruciais do país. A partir de amanhã (5) já começam as apurações de voto.
Para Padovani, o cenário global deve se deteriorar nos próximos meses.
“Uma coisa que eu aprendi lá nas conversas dos Estados Unidos, é que o Trump é um cara transacional e a Kamala ideológica”, diz. “O Trump é um cara que vai falar: vou pôr 60% ali, depois faz 30 rodadas de negociação com a China e ele fica em 40%. Depois ele chega no 40%, ele decide rever. É um processo ruidoso ao longo de quatro anos”.
O BV montou suas previsões e perspectivas conforme a hipótese da vitória de Trump nas eleições dos EUA.
Não só eleições americanas
O banco atribui o pessimismo em relação ao cenário global para os próximos dois anos a uma série de fatores, incluindo a desaceleração econômica de países importantes — com destaque para a China –, uma maior prevalência do tema fiscal no cenário externo, pressão sobre os preços de commodities e choques climáticos.
“Não é um ambiente favorável para mercados emergentes, cenário global não vai ajudar a gente. Os investidores vão ficar muito mais cautelosos com os ativos que vão comprar”, disse Padovani.
Segundo o BV, após fechar este ano com uma alta prevista no Produto Interno Bruto (PIB) de 3,1%, a economia brasileira desacelerará para uma taxa de crescimento de 1,8% em 2025. No ano seguinte, a projeção é de uma expansão de 2%, que o banco vê como o PIB potencial do Brasil.
No lado dos preços, os economistas do BV projetam que a inflação encerrará 2024 em 4,5%, exatamente o teto da meta perseguida pelo BC. Nos próximos dois anos, a alta dos preços deve chegar a 3,9% e 4%, respectivamente, acima do centro do objetivo, de 3%.
Juros altos e dólar a R$ 6
O BV projeta que a taxa Selic continuará em patamares altos nos próximos dois anos, enquanto o real permanecerá pressionado, com o dólar atingindo níveis recordes no mercado de câmbio brasileiro.
De acordo com o balanço do banco, o atual ciclo de aperto monetário do Banco Central se encerrará no próximo ano com a taxa básica de juros em 12,50%, iniciando-se depois uma campanha de afrouxamento à medida que a inflação convergir para a meta. Assim, o banco vê a Selic em 11,50% ao fim de 2025.
Em 2026, com a inflação ainda um pouco distante do centro da meta, a taxa de juros será mantida em 11,50%.
No câmbio, a previsão é de que a moeda norte-americana atinja R$ 5,90 ao fim do próximo ano e R$ 6,00 no encerramento de 2026. Na esteira da forte alta do dólar, para além da cena global, estaria também a preocupação do mercado com a trajetória da dívida pública brasileira.
*Com informações da Reuters