Arena do Pavini

B3 estuda mercado alternativo ao Bovespa Mais para empresas menores

08 ago 2018, 8:15 - atualizado em 08 ago 2018, 3:38

Arena do Pavini – A B3 estima que o Brasil tem cerca de 2 mil empresas que poderiam negociar ações em bolsa e busca formas de atrair essas companhias. Para isso, estuda criar um mercado alternativo para empresas de menor porte abrirem seu capital, uma vez que o mercado de acesso, o Bovespa Mais, não tem conseguido atrair muitos interessados. A informação é de Juca Andrade, vice-presidente de Produtos e Clientes da B3, que participou hoje do 24º Congresso da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec).

Segundo ele, foi criado um grupo na bolsa para tentar desenvolver o mercado brasileiro de capitais como forma de financiamento para empresas menores. Ele lembra que hoje a B3 tem o Novo Mercado, um segmento destinado a empresas com valor acima de R$ 500 milhões, e a regulamentação de crowding funding (captação via internet) para empresas pequenas, de até R$ 5 milhões. “Entre R$ 5 milhões e R$ 500 milhões fica um vazio, por isso pensamos em criar um outro ambiente para empresas menores com algum diferencial regulatório”, explica. Corretoras ou bolsas teriam participação no controle dessas empresas menores e em sua regulação, que seria especial para atrair essas empresas de menor porte e menores condições financeiras de arcar com muitos custos de divulgação e controles.

Valor médio de IPO nos EUA é menor

Segundo ele, a bolsa já tem hoje o Bovespa Mais, mercado de acesso para empresas menores, que não tem se mostrado suficiente para atrair essas empresas. “Nos Estados Unidos, o valor médio de uma abertura de capital (IPO) é de US$ 400 milhões, enquanto aqui é de US$ 1,7 bilhão, então precisamos ver por que não conseguimos financiar esse segmento de mercado”, afirma Andrade. “Talvez seja um problema regulatório, e criar um mercado específico será uma alternativa”.

Aproximação dos private equities

Responsável por produtos e clientes, Andrade reestruturou a área, criando equipes de relacionamento. Assim, está procurando trabalhar em conjunto com outros participantes de mercado ligados à aberturas de capital, como bancos de investimentos, consultorias e fundos de participações, ou private equities.

Esses fundos costumam comprar participações relevantes em empresas médias fechadas e depois investem para fazê-las crescer e montar estruturas de governança para se preparar para abrir capital. Depois, vendem suas participações em bolsa e recuperam o dinheiro investido com lucro. “No ano passado, 70% das ofertas de ações na bolsa tinham fundos de private equity como acionistas”, diz Andrade.

Para ele, a redução da participação do BNDES no financiamento dos projetos tende a aumentar a importância do mercado de capitais no crescimento das companhias. “E há também a queda dos juros na economia, que incentiva os mercados de dívida e de ações”, observa.

Processos mais simples

Andrade diz que está em discussões com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) para reduzir as dificuldades para as empresas usarem o mercado de capitais para se financiar. Há também discussões para reduzir o chamado custo de observância, que é o gasto das empresas, corretoras, bancos e investidores para montar e manter estruturas exigidas pelos reguladores para controlar e fornecer dados de suas operações.

Estão em discussão também formas de facilitar as emissões por um critério de meritocracia das empresas, além de simplificação de demonstrações financeiras como o Informe Trimestral (ITR) ou o fim da exigência de publicação dos balanços em jornais. “Hoje, com a grande quantidade de veículos digitais, é preciso ver qual a necessidade de publicar ainda os balanços”, diz.

Ofertas no exterior

Outra preocupação da bolsa é com as empresas de tecnologia e alto crescimento que têm preferido fazer ofertas no exterior, caso da PagSeguro (NYSE:PAGS), que abriu o capital nos Estados Unidos. A explicação da empresa foi que os investidores em empresas de tecnologia estão mais presentes no mercado americano. Andrade, porém, diz ter dúvidas sobre esse argumento. “O investidor de lá também está aqui”, diz. Outro desafio para atrair essas empresas é a base de analistas local, que precisa estar preparada para avaliar empresas recém-formadas e de alto crescimento. “Esse tipo de oferta precisa de um analista mais preparado para calcular o valor dessas empresas iniciantes”, diz.

Mercado secundário de títulos privados

O mercado secundários de títulos privados é outro desafio da bolsa, diz Andrade, que acredita que a baixa liquidez se deve em boa parte a questões tributárias. “O estrangeiro é isento ao comprar um título do governo, mas paga imposto se comprar papel privado, e isso cria poças de liquidez”, diz. O tratamento fiscal igualitário ajudaria os dois mercados, acredita Andrade. A bolsa estuda também criar derivativos de crédito privado.

Formador de mercado autônomo

Já para aumentar a liquidez do mercado secundário de ações, a B3 está ampliando a atuação dos formadores de mercado, empresas que têm a função de negociar determinado papel. A bolsa está criando formadores autônomos, contratados pela própria B3 para aumentar a liquidez de alguns papéis. “Estamos criando a possibilidade de a B3 trazer o formador autônomo por conta própria, para reforçar o trabalho dos formadores hoje contratadas pelas empresas”, diz. Andrade. Ajuda nesse trabalho também o sistema de empréstimos de ações da bolsa, que passará a contar com uma tela com as ofertas e custos do aluguel de ações. O aluguel poderá ser usado pelos formadores no dia a dia, eliminando a necessidade de eles comprarem ações para negociar.

Pessoas físicas, como ampliar

Andrade considera que o número de pessoas físicas cadastradas na bolsa, em torno de 600 mil CPFs, considerado baixo diante do número de investidores do país, é um aspecto positivo pois mostra que há apetite por risco. “Temos procurado atrair esse investidor, e para isso criamos uma área de pessoa física, que busca conhecer os investidores e suas necessidades por meio de contato com os intermediários”, explica. Segundo Andrade, a bolsa quer conhecer como as pessoas físicas usam os canais da B3. Um exemplo é o Tesouro Direto, sistema de negociação de papéis federais. “Mas sabemos que é a queda dos juros que atrai a pessoa física, e por isso temos de estar prontos para essa demanda”, diz. “O investidor individual é parte relevante do mercado de capitais e temos de desenvolver esse segmento”, afirma.

Carta do Mercado de Capitais aos candidatos

O mercado de capitais já está apresentando forte crescimento este ano, em parte pela redução da atuação do BNDES no financiamento às empresas, diz José Carlos Doherty, superintendente-geral da Anbima. Segundo ele, as captações domésticas aumentaram 50% este ano, para R$ 105 bilhões, sendo que as debêntures responderam por R$ 60 bilhões. Destas, R$ 9,6 bilhões eram debêntures incentivadas, isentas de imposto para pessoas físicas.

Aproveitando esse crescimento, a Ambina e a B3 vão preparar uma carta do mercado de capitais com sugestões que serão levadas aos candidatos a presidente, afirma Doherty. A ideia é mostrar o quanto o crescimento do mercado de capitais traria de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ao aumentar os financiamentos das empresas. “É uma agenda de modernização do mercado de capitais que queremos levar aos candidatos com quatro pilares”, diz. O primeiro pilar é o estímulo ao financiamento de longo prazo, com propostas para aprimorar os modelos de concessões e a participação do investidor estrangeiro.

Segurança jurídica

O segundo pilar é aumentar a segurança jurídica, ao fortalecer a estabilidade das agências reguladoras, estreitando também parcerias com o BNDES, cuja participação é fundamental para atrair investidores. É preciso também fazer mudanças na lei 12.431 e nos fundos de infraestrutura, que dá isenção de imposto sobre os rendimentos das debêntures para pessoas físicas, benefício que deveria ser estendido para institucionais. Há também um esforço de melhorar as normas das ofertas públicas, seja a 400, completa, quanto a 476, com esforços restritos. Entre as sugestões da Anbima está acabar com o boletim de subscrição para algumas operações, que passaria a ser automatizado pela B3.

O terceiro pilar seria criar iniciativas para desenvolver o mercado secundário de títulos. “É preciso para isso padronizar as debêntures e reavaliar o papel do market maker, que precisa ser ampliado”, diz Doherty. Já com relação à instrução 476, que permite ofertas para grandes investidores apenas, a Anbima diz que é preciso aperfeiçoá-la pois ela as vezes é mal utilizada pelo mercado.

O quarto pilar é aprimorar a base de dados do mercado de capitais. “Esperamos concentrar tudo em uma só plataforma e, quanto mais informações tivermos para o mercado, mais ele vai estar preparado para crescer e estimular o mercado secundário”.

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