B3: Endividamento das empresas listadas chega a R$ 1,39 trilhão no terceiro trimestre
Dívida é uma palavra que assusta e que, quase sempre, carrega uma conotação negativa. Mas, dependendo da estratégia de mercado de uma companhia, pode significar a promessa de tempos melhores — e de mais lucro.
Uma coisa é dizer que uma empresa tomou um empréstimo de US$ 1 milhão. Outra é dizer que esse dinheiro será usado para ampliar a produção em 30%; produção essa que já está vendida para os próximos três anos, com uma margem EBIT de 30%. Perspectivas bem diferentes, não?
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Como está o endividamento das empresas listadas na B3?
Um exercício interessante, portanto, é investigar a situação do endividamento das empresas brasileiras de capital aberto.
Neste terceiro semestre, a dívida das empresas listadas na B3 atingiu R$ 1,39 trilhão. Trata-se do maior valor desde setembro de 2019, pouco antes do início da pandemia. O caixa chegou a R$ 466 bilhões.
A dívida líquida fechou setembro em R$ 914 bilhões, registrando queda pelo segundo trimestre consecutivo. Já a dívida de curto prazo encontra-se em seu nível mais elevado: R$ 263 bilhões.
E a relação Lucro EBIT/Dívida Bruta está caindo, encerrando setembro em 23,8%. Embora esteja em queda, o Lucro EBIT/Dívida Bruta ainda se encontra em um patamar aceitável, considerando que o seu destino prioritário é o pagamento dos juros da dívida, além de eventuais correções cambiais.
Com a Selic em 11,75%, as empresas estão gerando caixa suficiente para honrar tal compromisso. Claro que a situação era mais confortável no primeiro trimestre de 2022, quando o Lucro EBIT/Dívida Bruta bateu em 41%.
O fundo do poço mesmo foi em junho de 2020, no auge da pandemia, quando as empresas geravam R$ 14,8 para cada R$ 100 de dívida.
Sem recursos para arcar com as dívidas?
O fato do Lucro EBIT/Dívida Bruta estar em queda acende a luz amarela. Quanto menor o recurso para pagar os encargos da dívida, mais desafiadora a situação. Ao longo do tempo, se não houver uma recuperação, poderemos ver empresas enfrentando problemas de solvência.
A boa notícia é que os números mostram que o montante da dívida de curto prazo em setembro é menor do que o volume de caixa. Ou seja, as empresas mostram fôlego para cobrir as dívidas que vencem em menos de 12 meses.
Vale destaca que os dados apresentados aqui cobrem o período de setembro de 2019 a setembro de 2023, e que apontam a tendência do grupo das 256 empresas da amostra.
Além disso, as empresas têm de ser analisadas individualmente para se ter o pulso real da sua situação, levando-se em conta o seu objetivo. Muitas, por exemplo, não estão interessadas em zerar as dívidas, mas em gerar valor e assim distribuir ganhos aos sócios e acionistas.
A Apple, por exemplo, a maior empresa de valor de mercado do mundo, tem uma dívida de US$ 110 bilhões e uma relação EBIT/Dívida de 102,9%. Ou seja, gera mais que o volume da dívida em lucro.
No nosso quintal, a Petrobras(PETR3;PETR4) exibe uma dívida de R$ 305 bilhões e um EBIT/Dívida de 67,9% — pouco antes da Operação Lava-Jato, seu EBIT era negativo.