Azul (AZUL4) deve concluir acordos com todos as empresas de leasing nas próximas semanas
A companhia aérea Azul (AZUL4) poderá utilizar seu programa de fidelidade de clientes para levantar capital adicional após fechar acordo com empresas de leasing sobre pagamentos de aluguel de aeronaves que formam a maior parte de sua dívida, afirmaram executivos da empresa nesta segunda-feira.
“O que temos visto é todas as empresas (do setor) usarem seus programas de fidelidade para levantar capital… E estamos dizendo para o mercado que temos esse ativo”, disse o presidente-executivo da Azul, John Rodgerson, sobre o programa TudoAzul, em entrevista a jornalistas.
“Com o custo de capital mais alto neste momento, é muito melhor usar um ativo para reduzir o custo de capital”, disse o executivo em referência aos juros elevados. “Em alguns meses poderemos levantar novo capital (com o programa de fidelidade)”, acrescentou.
Mais cedo, a Azul anunciou que fechou acordo com a maior parte dos arrendadores de aeronaves da empresa, representando 80% de sua dívida bruta, o que vai liberar capital suficiente para companhia não ter mais uma previsão de falta de caixa da ordem de 3 bilhões de reais este ano e rever a expectativa de 2024 para fluxo de caixa positivo em vez de “equilibrado”.
As ações da companhia dispararam com a notícia, avançando perto de 60% mais cedo e ajudando a puxar para cima os papéis da rival Gol. Às 16h50, as ações da Azul saltavam 40,4%, enquanto o Ibovespa mostrava valorização de cerca de 1%.
Segundo o vice-presidente financeiro da Azul, Alexandre Malfitani, a Azul tinha “um problema de fluxo de caixa no curto prazo… e agora parte disso (dívida de alugueis) vai virar ações da Azul e parte será pago em 2030 a valores de mercado”.
O presidente da companhia aérea acrescentou: “Tratamos do curto prazo. O que estava mais no curto prazo foi jogado para 2030”.
Empresas de Leasing
Como a empresa ainda não fechou acordo com todos os arrendadores de aeronaves, os executivos não deram detalhes sobre questões que incluem eventual diluição de acionistas.
A expectativa é que em duas a três semanas a Azul consiga acordos com todas as empresas e possa informar os detalhes, disse Rodgerson.
O executivo comentou que não espera que a diluição seja grande dado que as negociações foram feitas com base nas condições mais recentes de operações da Azul, que têm evoluído junto como setor aéreo após o fim das medidas de isolamento social.
Segundo o executivo, a Azul renegociou toda a sua dívida com as empresas de aluguéis de aeronaves, algo que soma cerca de 14 bilhões de reais. O valor inclui somas originadas durante a pandemia, quando medidas de isolamento social praticamente paralisaram o setor aéreo global por vários meses.
Malfitani afirmou que o acordo não muda a estratégia de negócios da Azul e que a companhia seguirá recebendo novos aviões para a frota. Nos últimos cinco meses, a companhia, que tem uma frota de cerca de 170 aviões operacionais, recebeu 12 novas aeronaves da Embraer e da Airbus. Para este ano, a expectativa da empresa é receber entre 6 a 8 jatos E2 da fabricante brasileira.
A Azul divulgou mais cedo que encerrou o quarto trimestre do ano passado com alta de cerca de 40% no prejuízo líquido ajustado, mas o foco dos investidores recaía sobre a renegociação das dívidas.
Analistas do Itaú BBA afirmaram em relatório que os resultados da Azul vieram em linha com o esperado, avaliando que os números, que incluíram alta de cerca de 19% no faturamento, reforçaram tendências positivas de demanda e de preços de passagens aéreas.
“O ponto alto, porém, foi a reestruturação de dívida, que deve aliviar o fluxo de recursos relacionados aos leasings das aeronaves”, disse Daniel Gasparete, do Itaú BBA. “Entretanto, notamos que a companhia não forneceu detalhes numéricos sobre cronograma de amortização e diluição de acionistas para entendermos potenciais desvantagens”, acrescentou.
Por sua vez, o Goldman Sachs, que manteve recomendação “neutra” para as ações da Azul, afirmou que a notícia da reestruturação de dívida “deve ser positiva para a companhia pois acreditamos que o risco de crédito vinha sendo um tema importante para o setor aéreo”.