Money Times Entrevista

Azul (AZUL4): ‘A melhor coisa para o acionista é uma fusão’, afirma CEO; veja as expectativas para a fusão com a Gol (GOLL4)

20 jan 2025, 7:00 - atualizado em 17 jan 2025, 18:42
Azul John Rodgerson
O CEO da Azul, John Rodgerson, falou ao Money Times sobre o andamento da possível fusão com a Gol (Imagem: Divulgação/Azul)

O CEO da Azul (AZUL4), John Rodgerson, apaziguou as preocupações em torno dos acionistas minoritários no processo de fusão com a Gol (GOLL4). Segundo ele, “se é um bom negócio, é bom para o minoritário, é simples assim”.

Em entrevista ao Money Times, Rodgerson defendeu que quando se tem algo que pode fortalecer a empresa, ajudar no crescimento e trazer sinergias, então é a melhor coisa para o minoritário

Questionado se acredita que as preocupações acerca do assunto são infudadas, foi enfático ao afirmar que sim. “A melhor coisa para o acionista é uma fusão”, disse.

Na última semana, as aéreas tomaram os holofotes do mercado após anunciarem a assinatura do já aguardando Memorando de Entendimentos Não Vinculante (MoU) para uma possível combinação de negócios. O MoU foi assinado pela Azul e pela Abra Group, a holding controladora da Gol.

Após o anúncio, o Instituto Ibero-Americano da Empresa (Instituto Empresa) divulgou comunicado expressando preocupações com a possível fusão, tendo em vista a concentração de mercado que a combinação das aéreas deve gerar.

Conforme o comunicado, o Instituto pondera que, para viabilizar a transação, é provável que haja emissão de novas ações, o que pode diluir a participação dos acionistas minoritários e comprometer a transparência e o equilíbrio das decisões societárias.

“Os minoritários precisam de garantias claras de que seus direitos serão respeitados em um processo dessa magnitude. A ausência de medidas adequadas de proteção pode enfraquecer a confiança no mercado de capitais como um todo”, afirma Eduardo Silva, presidente do Instituto Empresa.

O CEO da Azul foi firme na visão de que o andamento da fusão configura uma solução para o Brasil benéfica para todos. Ele acredita  que o negócio será concluído ainda este ano.

Cade pode cancelar este voo?

No radar dos analistas está a aprovação — ou não — da fusão pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para o negócio. Isso porque a transação resultaria em uma participação de cerca de 60% no mercado doméstico, ultrapassando os 40% da concorrente Latam, conforme dados da  Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Para John Rodgerson, a fusão é uma opotunidade de crescimento para o mercado brasileiro. “O Cade tem o papel dele, é independente e é um orgão que respeitamos muito. Mas eu vejo essa oportunidade para crescer o mercado e acho que o Cade vai ver que o mercado tem 10 voos e precisa de 100 voos ou mais”, disse.

O CEO da Azul aponta que, como quando fez a fusão com a Trip e como oturas fusões que aconteceram entre aéreas no mundo, o mercado cresce. Ele destaca ainda que a Azul tem cidades servidas no país que não estão conectadas com Congonhas e Brasília, onde, em contrapartida, a Gol é muito forte.

“Nós estamos muito animados para ter esses clientes e habilidade para fluir em uma malha aérea bem maior. O papel desta fusão é ter mais conectividade e o que o Cade quer é mais oferta no mercado. Nesse sentido, eu acho que estamos alinhados”.

Questionado sobre a disponibilidade de slots — que dá direito as decolagens e pousos nos aeroportos — e uma eventual invibialização da entrada de novos concorrentes devido a um duopólio, Rodgerson apontou que pensa além de São Paulo (Congonhas).

“Pensando em Congonhas, ainda falta conectividade com cidades menores”, afirma.

Sinergias

O CEO da Azul enfatizou uma diferença entre o Brasil e companhias áereas de outras partes do mundo: aporte governamental. Ele exemplifica que grandes nomes como American Airlines, United e Delta Airlines receberam ajudas, enquanto o setor aéreo brasileiro carrega sozinho, desde a pandemia, todos os desafios.

No entanto, com a união, o CEO vê como possível a redução do custo capital e criação de sinergias para Azul e Gol.

Rodgerson conta que fechou 12 cidades no início deste ano devido ao salto do dólar. “Se houvesse conectividade da Gol para alimentar essas cidades, elas não teria sido fechadas”.

Como exemplo dessa configuração, ele ressalta a melhora na estratégia para utilização de aeronaves maiores ou menores de acordo com a rota, reduzindo custos e garantindo a mesma receita.

“Estamos trabalhando em uma fusão depois da recuperação judicial do Gol e da reestruturação da Azul. São duas empresas mais fortes. Eu pretendo ter custo de capital menor, pretendo ter sinergias, pretendo ter habilidade para colocar mais capacidade no mercado e mais aeronaves no ar. Com isso, vamos fortalecendo a malha brasileira. Isso é o que outros países fizeram”, defende.

Em relatório, analistas do Santander ponderam que a nova empresa, resultado da fusão, sofreria em algumas frentes, como integração de frota, dado o uso de aeronaves diferentes pelas empresas que se fundem. Isso implicaria em falta de sinergias quando se trata de treinamento de pilotos, mecânicos de aeronaves, centros de manutenção, entre outros.

Questionado sobre o tema, o CEO da Azul não vê como dificuldade para as sinergias, considerando que as malhas serão separadas.

Apesar de separadas, segundo ele, as malhas poderão diversificar a frota de aeronaves — lembrando que a Azul possui uma frota de jatos regionais da Embraer e aviões de corredor único e duplo da Airbus. Já Gol utiliza exclusivamente aeronaves Boeing 737.

“No Brasil, há vários ‘Brasis’. Tem o Brasil de São Paulo, tem o Brasil do interior do Mato Grosso, tem o Brasil do Norte. Não pode ter a mesma máquina voando en cidade com 100 mil habitantes em que você voa em outra com 20 milhões”, defende.

A Latam na história Azul e Gol

Sobre a Latam, que ficaria como uma parcela menor do mercado com a concretização da combinação dos negócios, John Rodgerson aponta que a companhia domina o mercado do Chile, enquanto outras companhias como Air Canada, Air France e Lufthansa dominam seus respectivos mercados.

Neste contexto, ele defende que não faz sentido argumentar que não pode no Brasil, mas em outros países pode.

Na avaliação de analistas do Santander, ainda que os efeitos de longo prazo da fusão possam ser negativos para a Latam, a empresa na verdade poderia se beneficiar da complexa integração da fusão da Azul por vários anos, tendo em vista que poderia dificultar um movimento mais agressivo da nova companhia.

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Repórter
Formada em jornalismo pela Universidade Nove de Julho. Ingressou no Money Times em 2022 e cobre empresas.
lorena.matos@moneytimes.com.br
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