Azul (AZUL4): 4T23 foi um gostinho do que está por vir em 2024 – e Fed pode ajudar a alavancar –, diz CFO
Para a Azul (AZUL4), os números do quarto trimestre de 2023 (4T23) são bons indicadores do que está por vir este ano. É o que afirmou o diretor financeiro (CFO) da companhia aérea, Alex Malfitani, em entrevista ao Money Times.
A Azul reportou lucro líquido de R$ 403,3 milhões entre outubro e dezembro do ano passado — um aumento de 74,5% sobre o desempenho de um ano antes. Em termos ajustados, a companhia teve prejuízo de R$ 566,8 milhões — uma melhora em relação à perda de R$ 721,4 milhões em 2022.
Segundo Malfitani, a Azul está otimista em relação a uma recuperação em 2024. Seus três segmentos de atuação — doméstico de lazer e de negócios e internacional –, inclusive, “estão indo muito bem”, disse o CFO.
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No último trimestre, a companhia teve um aumento de capacidade de 6,5% e o tráfego de passageiros (RPK) subiu 9,1%. Já a taxa de ocupação foi para 80%.
Malfitani também está confiante quanto ao início do afrouxamento da política monetária norte-americana. “Quando os juros dos Estados Unidos começarem a cair e a Azul aumentar a geração de caixa, naturalmente, vamos conseguir financiar a operação da empresa, financiar aeronaves, refinanciar a dívida da empresa a um custo mais baixo”, disse à redação.
Confira a entrevista com o CFO da Azul
Money Times: Como você avalia os resultados da Azul no quarto trimestre de 2023?
Alex Malfitani: Nós vemos [os números do quarto trimestre de 2023] como bons indicadores de como a empresa está entrando em 2024, que é um ano em que estamos realmente muito animados. 2023 começou com um primeiro semestre um pouco desafiador, com o preço do combustível muito alto, mas, à medida que fomos caminhando para o segundo semestre, as coisas foram melhorando, principalmente, o Ebitda.
A gente teve um lucro grande [no quarto trimestre], mas, por conta da dívida em dólar, o resultado ajustado virou prejuízo. Mas, esse ruído, nós conseguimos tirar da frente olhando para o Ebitda, que é o lucro antes do pagamento de imposto, juros e depreciação das aeronaves. O Ebitda de 2023 veio como prevíamos, R$ 5,2 bilhões. Teve um grande aumento frente ao ano de 2022, que tinha sido nosso maior Ebtida até então, de R$ 3,2 bilhões.
Nós demos uma perspectiva para 2024 de gerar R$ 6,5 bilhões em Ebtida – mais uma alta de 1,3 bilhão. Então, se já aumentamos R$ 2 bilhões de 2022 para 2023 e com o que vimos no resultado do quarto trimestre, estamos bem animados com essa perspectiva.
Estamos revertendo para o que fomos desde o momento em que abrimos capital em 2017 até o momento da pandemia, período em que o Ebitda só aumentou. Nós crescemos, aumentamos a receita unitária, a rentabilidade, diminuímos o custo, ganhamos produtividade. Como saímos da pandemia com as nossas próprias pernas, sem ajuda do governo, sem recuperação judicial, sem dar calote em fornecedor, o balanço sai um pouco mais machucado, mas mostra que o negócio é muito sólido, gera caixa e é sustentável.
Money Times: A Azul aumentou as taxas de ocupação e a recuperação do mercado internacional no 4T23. Vocês estão otimistas quanto à retomada?
Alex Malfitani: Do lado da demanda, temos três segmentos: doméstico de lazer, doméstico de negócios e internacional — todos estão indo muito bem.
A demanda de lazer já cresce forte desde o final de 2020. A tecnologia, obviamente, diminuiu a demanda do mercado corporativo, mas aumentou muito do lazer, porque as pessoas não precisam mais estar sexta-feira no escritório — isso aumentou a disponibilidade para viagens.
O corporativo já voltou a 100% do que era pré-pandemia. E o internacional realmente está muito forte. Nós gostaríamos de ter mais aeronaves internacionais para fazer mais voos e, em breve, elas vão chegar. Parte da despesa do quarto trimestre, inclusive, subiu porque precisamos contratar pilotos. Além disso, estamos tentando virar o avião mais rápido para sair para novos voos. Só que para isso precisamos contratar mais gente no aeroporto.
Mas tudo isso só reforça essa perspectiva que temos demanda em todos os três segmentos que atendemos.
Money Times: O resultado financeiro da Azul segue pressionado. Como vocês querem reverter essa situação?
Alex Malfitani: A pandemia foi o grande legado negativo para o balanço da Azul. Nós conseguimos nos recuperar e fazer uma reestruturação. Ano passado, inclusive, nós sentamos com todos os credores e conversamos: “vocês estão apostando em um negócio sólido, mas precisamos de tempo para pagar”.
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Nesse momento da reestruturação, tivemos também que repactuar novas taxas de juros e o momento foi de juros altos. Os Estados Unidos estavam com uma taxa de 4,5% ao ano. Então, temos um bussines muito sólido, que gera muito Ebtida, mas que tem um ônus de juros altos. A estratégia é fazer o negócio gerar caixa e usar esse caixa para reduzir a dívida. Reduzindo a dívida, reduzimos o quanto pagamos de juros e, assim, gera mais caixa. Cria um círculo virtuoso.
Quando os juros dos Estados Unidos começarem a cair e a Azul aumentar a geração de caixa, naturalmente, vamos conseguir financiar a operação da empresa, financiar aeronaves, refinanciar a dívida da empresa a um custo mais baixo.
Hoje em dia, nós brincamos que estamos trabalhando para os bancos e para os donos de aeronaves. Nós queremos, na verdade, trabalhar para os acionistas.
Money Times: Quais são os desafios da Azul em 2024?
Alex Malfitani: Temos os desafios tradicionais característicos do setor. Eu tenho muita confiança no que está dentro do nosso controle, mas, como companhia aérea no Brasil, estamos sempre expostos ao dólar, ao petróleo e à demanda — que precisamos monitorar.
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Mas, desses três, o que realmente importa é a demanda. Porque com uma demanda forte, conseguimos lidar com um dólar forte e com o petróleo alto — como está acontecendo agora. Mesmo assim, continuamos aumentando nossa rentabilidade e geração de caixa.
Money Times: O dólar a patamares elevados assusta em relação à dívida?
Alex Malfitani: A gente tem uma dívida de aeronaves que vence todo mês, mas não é algo que pesa. Óbvio que, se o dólar aumenta, minha parcela aumenta, mas não afeta o nosso plano de crescimento.
Agora, o combustível em dólar é uma coisa que nós mesmos estamos questionando, porque o jeito que o querosene de aviação é precificado no Brasil — que tem um dos combustíveis mais caros do mundo — é ruim. Se colocamos o preço do petróleo e do querosene lá em cima, limitamos o acesso ao transporte aéreo só aos que têm poder de compra alto. Esse é um dos motivos por que só 15 milhões de CPFs viajam no Brasil, mas esperamos que saia algo positivo das conversas com o governo.