Axel Blikstad, CFA: o que nos levou a lançar o primeiro fundo de criptoativos no Brasil
A BLP Asset nasceu como uma gestora de fundos alternativos, inicialmente focada em fundos estressados de créditos inadimplidos (NPLs ou non-performing loans), créditos estruturados (special situations) e precatórios.
Os gestores dos fundos de criptoativos se conheceram no início dos anos 1990 no Banco Garantia (posteriormente adquirido pelo Credit Suisse), cada um com sua bagagem de quase 25 anos no mercado financeiro e com distintas qualificações para deslanchar esse novo projeto de criptoativos no Brasil.
Glauco Cavalcanti, com uma longa jornada em computação e na gestão de fundos multimercados, Alexandre Vasarhelyi, CFA com grande experiência como trader proprietário em diversos ativos, e Axel Blikstad, CFA, com vasta experiência na área comercial e tesouraria.
Convencidos em trazer essa nova classe de ativos para o Brasil por meio de um fundo regulado, havia duas questões a se considerar. Primeiro, como a CVM analisaria o fundo, dado que criptoativos não são considerados valores mobiliários no Brasil. Segundo, qual seria o tipo de fundo: long-only, long-short ou arbitragem.
Para endereçar o primeiro item, diversos escritórios de advocacia de renome foram consultados. Dentre diversas orientações diferentes, decidiu-se seguir pela via mais conservadora, lançando um Fundo de Investimento Multimercado (FIM) somente para investidores profissionais, que investiriam comprando cotas do nosso Master no exterior, baseado na Resolução 555 da CVM.
Depois de uma criteriosa análise e due diligence das corretoras no exterior, ficou claro que não era possível se fazer um fundo long-short dado que seria muito difícil fazer a parte “short” sem correr o risco de crédito das corretoras que existiam na época.
Como os clientes prospects queriam ter exposição nessa nova classe de ativos, ficou descartado um fundo de arbitragem e optou-se por montar um fundo long-only, fazendo uma aposta diversificada no setor.
Convictos de que isso era tudo o que seria possível de se implementar com a vigente regulamentação e condições deste incipiente mercado, a próxima etapa foi montar uma Management Company no exterior para fazer a gestão do fundo Master.
Na sequência, buscou-se o melhor auditor, administrador e banqueiro desse novíssimo ecossistema, ainda nascente mesmo no exterior.
A abertura das contas nas maiores corretoras americanas e europeias foram acontecendo também em paralelo, sendo que, em alguns casos, o processo de diligência chegou a levar nove meses por se tratar uma gestora brasileira.
Graças a um bom networking, fomos apresentados aos melhores prestadores de serviço da indústria e, em seis meses, estava montada toda a estrutura operacional. Em paralelo, no Brasil, fomos atrás de um administrador e auditor local.
Com ambas as estruturas finalizadas, a próxima decisão difícil foi lançar (ou não) o fundo no final de 2017, depois de o mercado ter subido 20 vezes no ano e o bitcoin, uma das moedas que “under-performou”, terminou o ano subindo 14 vezes. Optou-se por lançar o produto com um seed-money dos sócios e algum dinheiro de friends & family.
Começamos operar o fundo no dia 1º de janeiro de 2018, lembrando que esse mercado funciona 24/7/365, então não tivemos festas de Ano Novo.
Nas primeiras semanas, o mercado foi de alta, mas, logo na sequência, chegou o “crypto winter”, onde vimos o mercado escorregar praticamente por 14 meses seguidos, com um drawdown de 80%… que timing para lançar o fundo!
Logo na segunda semana de janeiro (12/01/2018), a CVM publicou um Ofício Circular, indicando que criptoativos não eram considerados ativos financeiros elegíveis para fundos brasileiros e que ainda estaria regulando o investimento indireto no exterior, exatamente a nossa estrutura.
A próxima tarefa, então, foi procurar imediatamente a autarquia e se juntar a ela no esforço conjunto para darmos os primeiros passos nesse novo mercado.
Com o ofício da CVM, logo começaram as dificuldades de gerir um fundo de uma nova classe de ativos. Na seguinte janela de captação, no final de janeiro, nosso banqueiro local não sentiu conforto em fechar um câmbio para os clientes do FIM local.
Aos trancos e barrancos, achamos outro banqueiro a tempo, que leu e entendeu bem que o ofício da CVM não proibiu nossa estrutura. Tudo certo, mas que susto!
Finalmente, em setembro de 2018, foi publicado a Ofício Circular 11/2018, dispondo sobre os investimentos indiretos em criptoativos no exterior. Imediatamente, adaptamos nosso regulamento do primeiro fundo de investidores profissionais para investidores de varejo e lançamos nosso segundo fundo.
Então, começou a etapa mais desafiadora: como gerar alfa no fundo.
O mandato é simples: 80% dos ativos nos dez maiores protocolos (por valor de mercado) e 20% em protocolos menores ou novos ICOs (Initial Coin Offerings).
Naquele momento existiam aproximadamente três mil protocolos (hoje são mais de quatro mil). Como escolher a próxima joia com um grande potencial de multiplicação? Foram muitos estudos, visitas, conferências e calls com pessoas do ecossistema para entender o que poderia dar certo nos próximos cinco, dez, 20 anos.
Não existia um índice de criptoativos confiável naquela época, já que foi só em meados de 2018 que a Bloomberg, em conjunto com a Galaxy Digital, do famoso Mike Novogratz (ex-Goldman Sachs e gestor da Fortress), lançou o primeiro índice de criptoativos do mercado, o BGCI (Bloomberg Galaxy Crypto Index).
Outra dificuldade no início do fundo foi a parte de custódia. Estudamos a fundo o que os gestores faziam no exterior, sem custódia qualificada, e só nos restou fazer self-custody off-line, com um relevante aparato de segurança — algo não ideal para um gestor fazer, mas isso revela como ainda estávamos na infância desse novo mercado.
Felizmente, ao longo de 2019, robustas soluções de custódia qualificada apareceram e os ativos do fundo, hoje, são custodiados no exterior pela Coinbase Custody, que é o maior custodiante do mundo nesse mercado, com uma infraestrutura de segurança state of the art e uma extensa gama de criptoativos sob custódia.
Com uma gestão de risco criteriosa, não tivemos nenhum problema operacional, tampouco de hacks e geramos alfa ao longo de 2018, com o mercado em queda, bem como em 2019, com o mercado em alta.
Com o nosso fundo de varejo, temos muito orgulho de saber que um cliente com R$ 1 mil pode investir junto com clientes profissionais (com patrimônio acima de R$ 10 milhões) numa mesma estratégia e participar do nosso único ICO (KEEP), que entramos numa rodada privada com grandes fundos, como o a16z (de Andreessen-Horowitz), Polychain Capital, Paradigm dentre outros.
Hoje, temos o privilégio de distribuir o fundo de varejo em diferentes plataformas digitais.
Ainda há muito trabalho e desafios pela frente nessa jornada. Sabemos que ser pioneiros em algo totalmente novo e verdadeiramente disruptivo leva tempo, paciência e dedicação. Acreditamos muito na tese de investimento e só o tempo dirá se estamos certos.
A entrada de grandes players nesse ecossistema nos anima muito, desde a Fidelity, ICE (dona da NYSE) CME (Chicago Mercantile Exchange), Microsoft, Starbucks, Facebook (com a Libra) e até o famoso endowment fund da faculdade de Yale, cujo David Swensen é o gestor. Se essa turma está animada, acreditamos que tem algo potencialmente gigante para se materializar nos próximos anos.
Nos inspiramos, dentre outros, em Jim Simons, com seu recente lançado livro The Man Who Solved The Market: How Jim Simons Launched The Quant Revolution, no qual ele explica que foram mais de dez anos até que seu fundo Renaissance deslanchasse. Hoje em dia, Simons é conhecido como um dos melhores gestores de todos os tempos.
O mundo está mudando muito rapidamente com os avanços tecnológicos, as gerações estão mudando (millenials crescendo e tomando espaço dos baby boomers) e as pessoas querem reconquistar sua privacidade.
A tecnologia por trás dos criptoativos, o blockchain, pode ajudar nessa transição de um mundo centralizado para um mundo decentralizado com menos intermediadores.
Axel Blikstad, CFA se envolveu com criptoativos e venture capital desde maio de 2016, depois de partir do BTG Pactual, onde ele era sócio associado responsável pela Tesouraria do Grupo. Antes do BTG, Axel estava administrando o balcão de vendas de renda fixa para clientes institucionais no Banco Santander Brasil. Ele começou sua carreira em 1992 no ABN AMRO, na Holanda, e depois mudou-se para o Banco Garantia em 1994 (que mais tarde foi adquirido pelo Credit Suisse). Axel atua como um assessor para uma série de startups de tecnologia em que também é investidor. Possui um bacharel em Finanças, Investimentos e Economia pela Babson College em Boston e frequentou a US Berkeley, Haas School of Business, onde cumpriu o Programa Executivo Venture Capital.