Internacional

Avanço do tráfico de drogas abala imagem da Cidade do México

02 ago 2019, 12:55 - atualizado em 02 ago 2019, 12:55
Desde que o presidente Andrés Manuel López Obrador chegou ao poder em dezembro, a criminalidade se tornou assunto número 1 de conversas em cafés, bares e escritórios (Imagem: Alejandro Cegarra/Bloomberg)

Na porta de uma boate, um segurança verifica todas as bolsas, bolsos e nécessaires de maquiagem com uma pequena lanterna. No banheiro, outro vigia enquanto traficantes vendem cocaína em sacos marcados com caveiras. Esse segurança escolta os festeiros para uma área onde podem cheirar com privacidade.

Quadrilhas de traficantes estão cada vez mais poderosas na Cidade do México, e até mesmo casas noturnas mais exclusivas se veem acuadas em ter de deixá-las vender suas drogas. É melhor do que a alternativa: fora do clube – perto da Fonte de Cibeles, em um bairro popular entre turistas norte-americanos – o dono de outro bar foi morto a tiros. Mais recentemente, dois homens com narcóticos no carro foram mortos a oito quarteirões de distância em plena luz do dia, e atiradores mataram outras duas pessoas em um shopping sofisticado.

A Cidade do México sempre foi um refúgio das decapitações e valas comuns que afligem o país. Mas, como os homicídios têm aumentando ano após ano, a cidade começou a se parecer mais com o resto do México. Desde que o presidente Andrés Manuel López Obrador chegou ao poder em dezembro, a criminalidade se tornou assunto número 1 de conversas em cafés, bares e escritórios.

Apesar das promessas de diminuir a violência ao combater a pobreza e a insatisfação da juventude, os homicídios na cidade aumentaram 15% este ano sob a administração da prefeita Claudia Sheinbaum, uma aliada próxima do presidente López Obrador.

Depois que tiroteios atingiram bairros chiques e dois jovens de famílias de classe média foram sequestrados e assassinados, Sheinbaum acionou a recém-criada Guarda Nacional, uma medida destinada apenas aos piores focos do narcotráfico. Agora, a percepção de que a criminalidade está saindo fora do controle em uma das maiores capitais do mundo preocupa investidores em uma economia que deve crescer este ano no ritmo mais fraco em uma década.

“Nossos clientes estão muito mais preocupados”, disse Gonzalo Nadal, que comanda a consultoria de risco ON Partners, da Cidade do México, cujos clientes incluem a Câmara Americana de Comércio do México. “Alguns manifestaram muita incerteza” sobre expandir as operações na capital.

Sheinbaum diz que a criminalidade está piorando há anos, mas que o governo anterior teria mascarado os dados para encobri-la. A prefeita divulgou novas estatísticas para o ano passado que mostraram que os homicídios eram mais altos do que se pensava antes dela assumir o poder. Com isso, a comparação com os números deste ano é menos impactante. Alguns crimes, como o roubo, mostraram queda, enquanto o número de assaltos caiu 23%.
Mas os homicídios ainda estão em alta – foram 898 vítimas entre janeiro e junho -, e os críticos culpam a prefeita e o presidente.

A Cidade do México precisa aumentar o número de detetives e promotores melhor capacitados, mas profundos cortes orçamentários anunciados pelo presidente mexicano dificultam o trabalho desses profissionais, disse Francisco Rivas, que lidera o Observatório Nacional dos Cidadãos, um grupo que busca melhorar a política de segurança. “Em vez disso, a cidade optou por mudar a cor dos carros de patrulha”, disse.

López Obrador disse em entrevista na segunda-feira que seus programas sociais abordam as causas da violência e que a Guarda Nacional está reforçando o combate ao crime. “Não delego este assunto a ninguém. Estou lidando com isso diretamente ”, disse.

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