Avanço do coronavírus ao interior desafia setor de carne bovina
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No momento em que os Estados Unidos começam a superar a crise no setor de carne, a rápida propagação do coronavírus pelo interior do Brasil apresenta um risco à produção no maior exportador mundial de carne bovina.
A JBS (JBSS3)recebeu ordem para fechar uma unidade de abate de bovinos em São Miguel do Guaporé, Rondônia, em uma decisão liminar.
É o primeiro fechamento de uma unidade de carne bovina no país devido ao surto, o que poderia ser um novo capítulo da crise para o setor no Brasil.
Os surtos iniciais e paralisações de frigoríficos ocorreram na região Sul, um polo de produção de aves e suínos. Agora, à medida que o vírus se espalha rapidamente pelo interior, cresce o desafio do setor de manter o ritmo da produção de carne bovina, já que muitos abatedouros estão localizados em áreas mais remotas.
No mercado de frango, a BRF (BRFS3) acelera contratações para repor trabalhadores afastados pelo coronavírus — agora a empresa planeja contratar até 5 mil pessoas enquanto a expectativa inicial eram 2 mil.
Na quarta-feira, o diretor-presidente da empresa, Lorival Luz, voltou a alertar para o absenteísmo e possíveis ordens de paralisação de autoridades locais devido à propagação do vírus.
Problemas mais significativos de oferta no Brasil poderiam causar grande impacto global no suprimento de carne, especialmente porque a produção ainda é limitada nos EUA, mesmo com a reabertura dos frigoríficos.
Os dois países respondem por mais da metade do comércio mundial de carne.
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Cortes persistentes da produção podem resultar em mais suprimentos para os mercados domésticos, com menor volume disponível para exportação.
Os surtos também afetam a produção em unidades de abate da Europa, onde mais de mil trabalhadores contraíram a doença.
No momento, apenas dois frigoríficos estão fechados no Brasil: uma unidade de frango da JBS em Santa Catarina e a de bovinos em Rondônia.
O País conseguiu evitar as grandes paralisações ocorridas nos EUA, onde a produção caiu cerca de 40% em relação aos níveis normais durante os piores momentos da crise.
O governo brasileiro também planeja introduzir novas diretrizes para proteger suprimentos e trabalhadores. E produtores, como JBS, BRF e Marfrig Global Foods (MRFG3), ampliaram as medidas de segurança.
Mas existe o receio de que a situação possa piorar, já que o Brasil se torna o novo epicentro mundial de coronavírus: o número de casos é o segundo mais alto do mundo e a pandemia agora atinge pequenas cidades do interior.
Relatos de infecções em frigoríficos de carne bovina começam a aparecer em estados da metade norte do País.
A JBS recebeu a ordem de testar todos funcionários da unidade de abate de bovinos fechada em São Miguel do Guaporé, segundo documento compartilhado pelo Ministério Público do Trabalho.
Em resposta a um pedido de comentário, a JBS disse que a saúde dos trabalhadores é prioridade e que está adotando protocolos rigorosos para evitar a contaminação por Covid-19.
A empresa não comentou especificamente a situação da unidade de São Miguel do Guaporé.
O frigorífico emprega cerca de 950 trabalhadores e tinha 29 casos confirmados de coronavírus em 25 de maio, segundo a procuradora do trabalho Helena Romera, que pediu o fechamento da unidade. O número representa 60% dos casos na cidade de 25 mil habitantes, afirmou.
“Vimos um rápido crescimento de relatos de coronavírus no município nos últimos dias e percebemos que boa parte deles eram trabalhadores da JBS”, disse a promotora em entrevista por telefone. “Dada a gravidade da situação, decidimos solicitar o fechamento.”
Na terça-feira, a Justiça do Trabalho em Mato Grosso determinou que a Marfrig faça ajustes em seu frigorífico de Várzea Grande para reduzir a exposição dos trabalhadores ao Covid-19, depois que 25 funcionários testaram positivo para o vírus.
A empresa deve adotar uma distância mínima de 1,5 metro entre os trabalhadores dentro da fábrica, o que pode reduzir a capacidade operacional da unidade.
Na semana passada, a Minerva (BEEF3) informou que 55 profissionais da unidade de Araguaína, no Tocantins, apresentaram resultado positivo no teste rápido para o coronavírus.
Todos foram afastados até que testes adicionais façam a comprovação final da contaminação.
A empresa decidiu aplicar os testes nos 730 trabalhadores da unidade devido à rápida evolução no número de casos no município.
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Em razão de medidas adotadas para conter a propagação do vírus, a empresa trabalha com 70% da capacidade em suas unidades, em média.