Auxílio Brasil ou Bolsa Família? Transferência de renda pode não ser solução para reduzir a pobreza
Os programas de transferência de renda podem não ser a resposta para a redução da pobreza e desigualdade no Brasil, e sim o mercado de trabalho, indica estudo de Ricardo Paes de Barros em parceria com pesquisadoras do Insper.
Os pesquisadores estudaram o período entre 2004 e 2014, quando o crescimento econômico chegou nas classes mais baixas, e os 10% mais pobres do país enriqueceram quase 8% ao ano, enquanto os 10% mais ricos tiveram uma expansão de 3,5% na renda.
Nesse intervalo, a pesquisa apontou que houve uma combinação de fatores entre o aumento da transferência de renda e a remuneração do trabalho.
Dos 8% de aumento real de renda dos 10% mais pobres do país, 52% veio dos programas de transferência de renda, enquanto 46% foi remuneração do trabalho.
Mas se ampliar o grupo, para os 20% mais pobres, há uma mudança na relação, que passa a ser 35% transferência e 63% renda.
Já no período entre 2014 e 2021, a pesquisa avaliou que a pirâmide da prosperidade se inverteu, e os 10% mais pobres foram os que mais perderam renda anualmente, uma média de 7,5%.
Nos últimos anos, contudo, a transferência de renda representou 27% dessa redução de 7,5% na renda dos mais pobres.
Mercado de trabalho
No Brasil, a taxa de ocupação caiu de 59% para 53% no período entre 2014 e 2021. Enquanto isso, o nível de ocupação dos 10% mais pobres caiu de 36% para 18% no período.
O intervalo entre 2001 e 2021 aponta para uma redução ainda maior no nível de empregabilidade dos mais pobres no país: de 48% a 18% no período.
O estudo aponta que uma grande dificuldade dessa classe é a inserção no mercado de trabalho, com um número elevado de pessoas desocupadas a dois anos ou mais.
No segundo trimestre de 2022, o IBGE calculou quase 2,9 milhões de pessoas desocupadas a dois anos ou mais, cerca de 30% do total de desempregados no país.
“Quando a renda cai, não é porque [os trabalhadores] passam a ganhar menos – os que se mantêm empregados não ganham comparativamente tão mal –, mas porque deixam de trabalhar. Falta de flexibilidade, e a correção chega pelo trabalho”, avalia Ricardo Paes de Barros.
Há 4,2 milhões de brasileiros em idade ativa e que querem trabalhar na faixa de renda mais pobre, dos quais 1 milhão estão trabalhando, aponta o estudo.
Além disso, 38% dos que estão empregados afirmam que trabalham menos horas do que gostariam, enquanto na média brasileira esse número é de 8%.
Dentre os fatores que podem levar a essa conjuntura, o economista avalia que a economia se modernizou e “pode ter expulsado muita gente do trabalho”.
“Pode ser que no mundo pós-pandemia tenhamos aprendido a viver sem os serviços oferecidos por esse grupo, e as estratégias com as quais até agora conseguiram sobreviver já não façam mais efeito, e aí a renda é zero”, explica Ricardo Paes de Barros.
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