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Autoridade do BCE vê impasse sobre pacote como ‘irresponsável’

24 nov 2020, 12:28 - atualizado em 24 nov 2020, 12:28
BCE Zona do Euro
Com a possibilidade de que novas paralisações provoquem uma recessão dupla, o BCE já planeja mais estímulos monetários em dezembro (Imagem: Reuters/Ralph Orlowski)

Olli Rehn, membro do Banco Central Europeu, criticou o impasse político sobre os planos de recuperação da pandemia da região, em meio à crescente preocupação de que bancos centrais serão novamente obrigados a se encarregarem do apoio à economia.

O pacote de gastos de 1,8 trilhão de euros (US$ 2 trilhões) da União Europeia – um orçamento para vários anos e o chamado fundo Próxima Geração UE que, segundo a presidente do BCE, Christine Lagarde, deve ser operacionalizado sem demora – está sendo segurado pela Hungria e Polônia por causa de condições impostas para acesso aos fundos.

Com a possibilidade de que novas paralisações provoquem uma recessão dupla, o BCE já planeja mais estímulos monetários em dezembro. O risco é que, se a ajuda fiscal for reduzida, o banco central fique com um fardo maior para a recuperação em um momento em que seu arsenal já está esgotado.

“Acho irresponsável que o marco financeiro e a Próxima Geração UE tenham se tornado bolas de futebol políticas”, disse Rehn, ex-comissário europeu. “Espero que os estados membros resolvam este problema”, acrescentou em entrevista.

Autoridades do BCE enfatizaram que governos nacionais e a UE devem intensificar a resposta fiscal para combater a recente onda de casos de coronavírus, porque a política monetária por si só não pode criar a demanda necessária para proteger a economia.

“É importante que a política fiscal continue a fazer seu trabalho, e é por isso que a Próxima Geração UE é de suma importância para a recuperação econômica da Europa”, disse Rehn.

O presidente do banco central da Finlândia, de 58 anos, disse que o programa de compras de emergência na pandemia do BCE (PEPP), de 1,35 trilhão de euros, e os empréstimos ultrabaratos conhecidos como TLTROs são, em sua opinião, os principais candidatos a serem implantados para amortecer o golpe.

Isso ecoa o consenso sendo formado entre autoridades de política monetária antes da reunião do conselho do BCE em 10 de dezembro, quando o banco central anunciará mais medidas.

“Graças à flexibilidade do PEPP, o BCE também é capaz de oferecer estímulo monetário além de abordar os riscos de fragmentação”, disse Rehn, referindo-se ao impacto desigual do coronavírus no continente. “A flexibilidade significa tanto tamanho quanto duração.”

A maioria dos economistas prevê cerca de 500 bilhões de euros em compras adicionais de títulos, uma extensão do programa e mais empréstimos baratos de longo prazo. As autoridades se opõem, em sua maior parte, às expectativas de um corte dos juros devido ao efeito negativo sobre a rentabilidade dos bancos.

A incerteza sobre as perspectivas causa nervosismo entre bancos da zona do euro. A pesquisa mais recente do BCE mostra que as instituições esperam que as condições de crédito se tornem mais restritivas para empresas no quarto trimestre. Isso significa que as autoridades de política monetária “podem precisar recalibrar os TLTROs”, disse Rehn.

Ele não quis detalhar o modelo do pacote de dezembro, dizendo que está “sempre preocupado com expectativas muito altas na formulação da política monetária”. Também pediu aos governos que continuem fornecendo apoio por meio de gastos adicionais.

“Foi uma das lições da crise anterior – estou me referindo à crise financeira e à crise da dívida soberana da zona do euro – que a política monetária e a política fiscal precisam trabalhar em conjunto”, disse. “A questão essencial é como podemos garantir que as atuais condições de financiamento permaneçam no nível favorável atual pelo tempo que for necessário.”