Aumentar a Selic é realmente melhor forma de controlar a inflação?
Para tentar controlar a inflação que só aumenta, o Banco Central (BC) tem usado a política monetária. Ou seja, ao mesmo passo em que o IPCA sobe, a taxa de juros básica (Selic), também cresce.
Atualmente, a Selic está a 9,25%, enquanto o IPCA fechou o ano de 2021 em 10,06%, a maior alta desde 2006.
Mas será que essa é realmente a melhor forma de controlar a inflação?
Dois pesos, duas medidas
“Conhecemos uma política básica monetária que consiste na ideia de que, se a inflação esperada desvia da sua meta, você precisa subir a taxa de juros”, explica o economista e consultor, Alexandre Schwartsman.
Segundo ele, a adoção dessa política leva a “uma elevação da taxa do juros além do aumento da inflação esperada significa uma elevação da taxa atual de juros, o que leva a uma desaceleração da economia, reduz a pressão do mercado de trabalho, de demanda sob a capacidade produtiva da economia, e isso faz com que a inflação caia também”.
“A decisão e a vantagem de seguir essa regra é que ela faz com que você tenha o balanço bastante fluído”, diz. “Aumentar a Selic é a pior forma de controlar a inflação, exceto as demais”, completa.
Imagine uma gangorra: é como se, em um lado, estivesse a inflação e, do outro, a taxa de juros básica. Com a alta do IPCA e a Selic lá embaixo, existe um desequilíbrio. Quando ambas tem aproximadamente o mesmo peso, a situação fica um pouco mais igualitária.
Para Zeina Latif, economista e consultora da Gibraltar Consultoria, o mecanismo “está mais do que consolidado” e, embora não seja o único capaz de controlar a inflação, é o melhor a ser adotado.
Latif ainda cita que outro fator deveria ser levado em conta para equilibrar o IPCA: o compromisso com o lado fiscal do país, que deveria partir do governo e do ministério da Economia.
“Sabemos da potência da política monetária conseguir controlar a inflação e minimizar o sacrifício da sociedade, mas ela só consegue isso se tiver um compromisso com as compras públicas, principalmente em um país com o nosso histórico. E é nisso que estamos falhando”, diz. “Se tivéssemos um ambiente com um mix de controle fiscal, certamente as expectativas inflacionárias teriam outras dinâmicas e o Banco Central não teria que subir a Selic tanto quanto agora”, afirma.
O que impulsiona a inflação
De acordo com os economistas ouvidos pelo Money Times, a inflação brasileira está pressionada por uma série de questões. A principal delas é a oferta. Ou a falta dela.
“Temos vários problemas de oferta, então desde alta de preço de automóvel por causa dos problemas nas cadeias globais de produção, até a alta nos preços de commodities, que é magnificada por nosso câmbio muito depreciado, e impacta em preços de soja, milho, gasolina, e essa é uma parte da nossa inflação”, explica Alessandra Ribeiro, economista e diretora da consultoria Tendências.
Segundo Ribeiro, aumentar a Selic não é a solução para todos os problemas, mas, a curto prazo, é o que deve dar “uma folga” para a população brasileira.
“Quando pegamos bens industrializados, ligados ao câmbio, como o aço, algumas linhas que dependem de outros custos, percebemos que está tendo uma disseminação maior dessas pressões que vêm de choques que a política monetária não conseguiria controlar. Mas isso está se disseminando, e afetando outros preços, então estamos tendo efeitos secundários desses choques. E é aí que a política monetária atua: para limitar a demanda para reduzir o repasse de preços para o consumidor”, diz.
É por isso que o professor de economia da FEA-USP, Paulo Feldmann, discorda da estratégia utilizada pelo BC do Brasil para pressionar o aumento inflacionário.
“A minha posição não é a de que a Selic deva aumentar. A Selic é usada para combater a inflação quando a inflação é resultado do grande consumo, quando você tem muito consumo, então assim, tem que aumentar a taxa de juros porque aí você vai causar uma recessão”, diz.
O dólar, o consumo e tudo que há no meio
Segundo Feldmann, ao aumentar a taxa de juros, o consumo é desincentivado, o que tem impactos sérios na economia. Para ele, estratégias como a política monetária funcionam apenas em países e em situações muito específicas — e são incapazes de controlar a situação brasileira.
“É exatamente o que está acontecendo agora nos Estados Unidos. Por lá, o aumento se justifica, porque eles tiveram o que chamamos de inflação de demanda. No Brasil, a inflação não é pelo aumento de consumo, mas sim pela falta de oferta, e pelo aumento do dólar”, afirma.
Para o professor, duas outras formas poderiam funcionar nesse caso: a primeira delas seria pela injeção de dólares na economia, retirado de reservar internacionais.
“Quando você inunda a economia de dólares, você fortalece a moeda local. Assim, o real ficaria mais forte, porque seria mais fácil trocar o real pelo dólar”, diz.
A segunda forma, segundo Feldmann, seria por meio da diminuição dos impostos de produtos importados.
“O governo deveria facilitar a importação de produtos que são muito importantes para o país e que repercutem demais na vida de todo mundo, como produtos eletrônicos”, afirma.
Latif, no entanto, afirma que a ideia de fazer mais dólares circularem no país pode sair pela culatra.
“O que não pode fazer é tentar o controle artificial de preços, isso é um tiro no pé. Você vê, por exemplo, e precisamos ter aprendido aquilo pós-governo Dilma. Todo aquele artificialismo forçou uma queda de tarifas, com todo impacto disso na inflação, e depois ter de fazer um tarifaço adiante”, diz.
“Nós somos um país com muitas restrições. O BC não reagir causaria uma piora, com uma inflação muito mais elevada, um retrocesso grande”, continua.