Internacional

Auditores também batalham por democracia em Hong Kong

09 dez 2019, 11:17 - atualizado em 09 dez 2019, 11:17
China Política Comunismo Bandeira
Os 44 mil membros do instituto de contabilidade votam em 9 de dezembro, e o campo pró-democracia recorreu às redes sociais para angariar apoio dos mais jovens na profissão (Imagem: Reuters/David Gray)

Menos de um mês depois que eleitores de Hong Kong proporcionaram uma vitória esmagadora aos candidatos pró-democracia nas eleições distritais, a batalha pelo futuro da cidade está sendo transferida para um lugar inesperado: o mundo da contabilidade e auditoria.

Candidatos ao conselho do Instituto de Contadores Públicos Certificados de Hong Kong são avaliados, em grande parte, com base no apoio ou não ao movimento pró-democracia da cidade ou se estão alinhados ao sistema pró-Pequim.

Não é a primeira vez que debates da cidade influenciam o instituto, que certifica contadores e é responsável por supervisionar os padrões do setor. Mas as eleições deste ano se mostram especialmente disputadas após os protestos que abalaram o centro financeiro por quase seis meses, segundo Rosalind Lee, entre os seis candidatos pró-democracia.

Esse movimento destaca o grau em que as forças pró-democracia e pró-governo lutam por influência em Hong Kong, mesmo em instituições que têm pouco a ver com política. Conflitos semelhantes teriam ocorrido em graus variados em outros grupos profissionais de arquitetos, engenheiros, médicos e advogados.

Os 44 mil membros do instituto de contabilidade votam em 9 de dezembro, e o campo pró-democracia recorreu às redes sociais para angariar apoio dos mais jovens na profissão.

Firmas de contabilidade pró-Pequim e organizações relacionadas têm instado as equipes a apoiarem seus candidatos favoritos, enquanto funcionários do Escritório de Assuntos de Hong Kong frequentam banquetes e fóruns do setor.

Todas as empresas de auditoria global – as chamadas Big Four: Deloitte, PricewaterhouseCoopers, Ernst & Young e KPMG – enviaram listas idênticas de candidatos pró-China aos funcionários, segundo comunicados vistos pela Bloomberg. Todas as quatro empresas têm grande presença na China. Porta-vozes da EY, Deloitte e KPMG não quiseram comentar. A PwC não estava disponível para comentar.

O governo chinês está usando vários grupos em Hong Kong, conhecidos como associações satélite, para mobilizar apoio para seus candidatos preferidos, disse Benson Wong, cientista político e ex-professor assistente da Universidade Batista de Hong Kong.

Para alguns profissionais pró-democracia do setor, as tentativas de Pequim de influenciar a eleição parecem excessivas. “É muito ruim para a profissão e ruim para o ‘um país, dois sistemas’”, disse Kenneth Leung, auditor que faz parte do Conselho Legislativo, em referência à lei que regula as relações entre China e Hong Kong.

Frankie Yan, porta-voz para serviços financeiros do Professional Commons, um grupo de pressão afiliado à democracia, disse que não se opõe que o Escritório de Assuntos de Hong Kong se reúna com cidadãos da cidade de diferentes setores para “construir um entendimento mútuo”, mas acrescentou que “não deve influenciar nossa decisão ou dar instruções.

Os profissionais de Hong Kong devem ter sua própria postura e julgamento profissional.”

O conselho contábil, que teve o secretário de Finanças de Hong Kong, Paul Chan, entre seus ex-líderes, disse em comunicado que está “confiante na integridade” da eleição. “Confiamos e esperamos que nenhuma das partes manipule o sistema, pois a integridade é a base da profissão CPA.”

O Escritório de Assuntos de Hong Kong não respondeu a um fax com pedido de comentário.