Auditores do trabalho retomam operações contra escravidão após pausa por coronavírus
Auditores fiscais do trabalho realizaram a primeira operação contra a escravidão no Brasil após um hiato de dois meses provocado pelo surto de coronavírus, e disseram que as fazendas de café serão a prioridade máxima quando a colheita começar no mês que vem.
Como o coronavírus tem avançado pelo país, os auditores usaram máscaras cirúrgicas ou protetores faciais e respeitaram o distanciamento social quando resgataram 15 pessoas mantidas em condições análogas à escravidão para fabricar carvão através da queima de madeira em Minas Gerais.
Em março, a Thomson Reuters Foundation noticiou com exclusividade que tais operações estavam sendo suspensas devido ao risco de infecção de funcionários e autoridades, mas os auditores disseram que seu trabalho é importante demais para ser interrompido por tempo indeterminado.
“O trabalho que fazemos é uma atividade essencial porque serve uma população em uma situação na qual sua saúde e sua vida estão em risco”, disse Humberto Camasmie, que coordenou a operação da semana passada.
Os trabalhadores que eles encontraram estavam hospedados em abrigos superlotados sem água corrente –condições ideais para a disseminação do vírus altamente contagioso–, enquanto seu empregador usava uma máscara para se proteger, disse Camasmie.
Nas próximas semanas e meses, ele e sua equipe se concentrarão nas plantações de café mineiras.
“Não sei se conseguiremos fazê-los observar as medidas de precaução”, disse ele. “As condições oferecidas (pelos agricultores) normalmente são as piores possíveis”.
Após a operação de uma semana de duração, os trabalhadores receberam máscaras e medidas de distanciamento social foram implantadas no ônibus que os transportou do local.
Um deles, que tinha uma tosse persistente, foi mantido a uma distância maior devido à possibilidade de seus sintomas derivarem de uma infecção de coronavírus, e não da inalação de fumaça da queima de lenha.
De acordo com o Índice Global da Escravidão de 2018, cerca de 369 mil pessoas estão escravizadas no Brasil. Entre 1995 e 2019, mais de 54 mil pessoas foram encontradas por auditores fiscais do trabalho em condições análogas à escravidão.
No Brasil, a escravidão é definida como trabalho forçado, mas também cobre o aprisionamento para pagamento de dívidas, condições de trabalho degradantes, horas longas que representam uma ameaça à saúde e qualquer trabalho que viole a dignidade humana.