Opinião

Atas do Fed mostram uma forte divisão entre os membros sobre a política monetária

22 ago 2019, 14:36 - atualizado em 22 ago 2019, 14:38
Documentos confirmaram que o presidente da instituição, Jerome Powell, estava tentando caminhar sobre uma corda bamba (Imagem: Joshua Roberts/Bloomberg)

Por Darrell Delamaide/Investing.com

As atas da reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), realizada no fim de julho, foram divulgadas ontem após o atraso costumeiro de três semanas. Os documentos confirmaram que o presidente da instituição, Jerome Powell, estava tentando caminhar sobre uma corda bamba usando botas de combate, na medida em que procurou dirimir as diferenças de um Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) profundamente dividido.

Via de regra, as atas geralmente citam que “alguns”, “um pequeno número” ou “diversos” participantes tinham determinada crença, mas, ultimamente, o nível de detalhamento tem sido maior do que o de costume, indicando que “dois” participantes expressaram sua opinião diversas vezes.

De fato, “dois” participantes queriam um corte de meio ponto nas taxas de juros durante a reunião, em vez dos 25 pontos-base acordados.

Pode ser que se trate de membros não votantes ou votantes que não acreditavam que sua discordância chegaria ao nível de um dissenso formal. De qualquer forma, o dissenso de verdade veio de dois membros, Esther George, do Fed da Cidade do Kansas, e de Eric Rosengren, do Fed de Boston, que não queriam qualquer corte.

De acordo com as atas, “diversos” participantes queriam manter os juros estáveis, em razão do baixo desemprego. Nenhuma pista foi dada quanto a quem eram tais membros além dos dois discordantes, embora seja possível presumir que se trate de chefes de bancos regionais não votantes. “Um pequeno número” de participantes se mostrou preocupado com o fato de que um afrouxamento na política monetária pudesse refletir negativamente na economia.

A intensidade com que os formuladores da política pensaram tudo isso a portas fechadas ficou patente no relatório um tanto quanto incomum sobre a redução das posses de títulos adquiridos como parte da flexibilização quantitativa. A decisão de interromper essa redução dois meses antes do previsto originalmente pareceu consistente com uma política de juros acomodatícia, mas tudo indica que havia a preocupação de que essa iniciativa desse a “impressão errada” de que o balanço patrimonial era uma ferramenta ativa da política.

O escrivão das atas não deu qualquer indicação sobre a posição que “muitos” ou “diversos” membros adotaram nessa discussão.

A parte central das atas, no entanto, mostrou que os formuladores da política, “de forma geral”, queriam evitar “qualquer aparência de que estivessem seguindo uma linha predefinida”. Um corte de 25 pontos-base deveria ser visto como uma “recalibragem” da política ou, como Powell papagueou em sua coletiva de imprensa, “um ajuste de meio de ciclo”.

Esses eram exatamente os aspectos que atormentavam os investidores, que realmente queriam, e esperavam, uma linha predefinida de mais cortes de juros.

Pode ter havido certa hipocrisia nas atas do Fed, pois os investidores, em sua vasta maioria (98,5% de acordo com os contratos futuros dos fundos do Fed), esperam mais um corte de 25 pontos-base em setembro e, se algo ficou claro no Fed de Powell, foi que ele não quer perturbar intencionalmente os investidores.

A retórica em torno da flexibilidade pode simplesmente ter sido uma recusa de reconhecer as declarações oficiais via Twitter “daquele que não deve ser nomeado”, e a razão era que Powell estava usando botas de combate.

O presidente dos EUA, Donald Trump, percebeu que tudo o que precisa fazer para forçar o Fed a reduzir as taxas de juros é alarmar os participantes do mercado com ameaças de tarifas. Na segunda-feira, Trump exigiu um corte pleno de um ponto nos juros, embora, evidentemente, ficará satisfeito com 25 pontos-base, que o Fed dificilmente poderá negar.

Se ainda não ficou claro, trata-se de uma situação que está rapidamente ficando cada vez mais curiosa.

Os investidores estarão atentos ao discurso de Powell na sexta-feira durante a conferência de Jackson Hole, na esperança de ter mais indicações sobre os planos do Fed. Se Powell se mantiver fiel ao desejo do FOMC de evitar a aparência de uma linha predefinida, será extremamente anódino.

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