Ata do Copom mostra que BC está pronto para elevar a Selic; câmbio e inflação são pontos-chave
A ata do Copom, divulgada na manhã desta terça-feira (6), transmitiu a mensagem que o comunicado da semana passada não entregou: o comitê está, em unanimidade, pronto para aumentar a taxa Selic se avaliar necessário.
“Se, no comunicado, não havia sinalização de um novo ciclo de alta de juros, apesar de o Comitê não ter fechado as portas para isso, na ata, essa possibilidade é alimentada”, diz o estrategista-chefe da Warren, Sérgio Goldenstein.
O tom da ata foi mais hawkish (duro), reforçando o desconforto com a ampliação da desancoragem das expectativas e a depreciação cambial. Os membros também mostram maior preocupação com a política fiscal, o dinamismo da atividade e do mercado de trabalho e a existência de mais riscos para cima na inflação.
Quanto ao câmbio, Goldenstein diz que o real está experimentando um overshooting (movimento que ultrapassa pontos de equilíbrio esperados), que pode ser revertido com o esgotamento do desmonte das operações de carry trade, o início do corte de juros nos Estados Unidos em setembro e o controle dos riscos fiscais.
O economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita, também acredita que o real deve se fortalecer nas próximas semanas, à medida que os mercados globais se acalmam — o que amenizaria a necessidade de novas altas. Portanto, o banco — assim como a Warren — mantém a previsão de que a Selic fechará o ano em 10,50%.
Mesquita, no entanto, alerta que, se o câmbio não reagir, um ciclo de alta, começando em setembro, “será inevitável”.
Vale destacar que o Comitê de Política Monetária (Copom) mencionou que a definição dos próximos passos da política monetária dependerá do desenrolar do cenário. Os membros, inclusive, não se comprometem com estratégias futuras.
A decisão do Copom
O Copom manteve a Selic no patamar de 10,50% ao ano na reunião da última quarta (31). Os diretores ressaltaram a desinflação mais lenta, a desancoragem das expectativas de inflação e o cenário global desafiador.
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“O Comitê, unanimemente, optou por manter a taxa de juros inalterada, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam acompanhamento diligente e ainda maior cautela”, afirmaram.
A decisão foi ao encontro das apostas do mercado, que já estava convencido da manutenção dos juros, após um agravamento da inflação e com a desancoragem das expectativas e o risco fiscal no radar.