Assaí (ASAI3) corta ‘na carne’ para passar por alta da Selic; motivo para se preocupar?
A Assaí (ASAI3) pisou no freio e espera crescer menos em 2025 diante da alta dos juros. O Brasil deverá passar por mais um ciclo de aperto monetário para tentar colocar a inflação no centro da meta. A expectativa é que o país termine com a Selic a 11%, mas alguns economistas veem altas ainda maiores.
- VEJA MAIS: ação de construtora com upside estimado de até 64% é a principal escolha do BTG pactual no setor de baixa renda. Clique aqui
Segundo fato relevante divulgado na última quinta-feira, a empresa pretende
- abrir 10 lojas, contra a expectativa anterior de 20 lojas;
- R$ 1 a 1,2 bilhão em termos de caixa para 2025, incluindo R$ 650 a 750 milhões em aberturas de lojas;
- dívida líquida/Ebitda em torno de 2,6 vezes ao final de 2025;
O Assaí ressaltou que já vem passando por um ciclo de expansão acelerado desde 2021, com a abertura de mais de 120 lojas (incluindo a conversão de 64 hipermercados) e investimentos relevantes para incluir novos serviços nas lojas.
Segundo a companhia, esse movimento antecipou o crescimento planejado e permitiu que acessasse regiões estratégicas. Frente a isso, com o aumento dos custos de financiamento, optou por ajustar seu ritmo de expansão, focando na redução da alavancagem e no crescimento sustentável.
No ano, a ação desaba 47,6%.
Como o mercado leu?
De maneira geral, o comunicado não pegou o mercado de surpresa. Isso porque a maioria das casas já havia cortado as estimativas da companhia.
Um dos principais pontos de preocupação do Assaí é justamente sua alta alavancagem, atualmente em 3,65 vezes, mas que o Carrefour (CRFB3) e bem maior que o Grupo Mateus (GMAT3), que está em 1,2 vez.
“Embora a inflação dos alimentos possa ser um fator positivo nos próximos meses, beneficiando os varejistas, especialmente no segmento de cash&carry, os investidores ficaram mais preocupados com a concorrência potencial (com alguns players aumentando suas ofertas de crédito para aumentar os volumes), o que poderia pressionar a lucratividade”, destaca o BTG em relatório.
A XP também classificou o anúncio como neutro, uma vez que o guidance divulgado vieram aproximadamente em linha com as estimativas, exceto pela expansão de 2026, para a qual adotou uma postura mais conservadora, dada a alavancagem ainda alta da companhia ao final do ano e riscos de alta para as taxas de juros.
“Além disso, enxergamos potenciais acordos de desimobilização de imóveis (sale and leaseback) como uma alavanca para reduzir a indenização 2025, embora às custas de despesas adicionais com aluguel”, diz.
Na visão da Genial, a divulgação do guidance é um catalisador positivo que pode trazer redução na posição short (atualmente em cerca de 6% do free float) e pavimentar o caminho para um fluxo comprador ao longo das próximas semanas.
“Infelizmente, dado a volatilidade da curva de juros e cenário fiscal ainda incerto, sabemos que o risco Brasil ainda é um grande empecilho para o investidor gringo aumentar exposição em seu portfólio”.
Em comentário, o Safra afirmou que o Assaí manda um bom sinal de que está comprometido com a desalavancagem através de um ritmo mais lento de aberturas de lojas e investimentos controlados.
O problema da alavancagem do Assaí
O Bradesco BBI ressalta que focar principalmente no processo de desalavancagem é muito bem-vindo. Segundo os analistas, a maior alavancagem (dívida líquida de R$ 14 bilhões e 3,7x o EBITDA no 2T24) aumenta a vulnerabilidade dos lucros e prejudica o poder de fogo do investimento, especialmente no contexto de um ciclo de alta da taxa de juros.
“O capex (investimentos) para abertura de lojas é uma das poucas alavancas que a gestão tem para controlar a alavancagem porque a inflação dos alimentos, a concorrência, etc., estão além de seu controle. No entanto, a empresa poderia usar “facilitadores”, como sale and lease back, bem como built-to-suit para ajudar, em menor grau, a otimizar o fluxo de caixa”, diz.
Nos cálculos do BBI, o serviço da dívida consome aproximadamente 45-50% do EBITDA a partir de 2024, e é o principal encargo que prejudica a trajetória de desalavancagem da companhia. Além disso, a cada 1 ponto percentual de ajuste Selic impacta o lucro antes de impostos do Assaí em aproximadamente R$ 110 milhões a R$ 120 milhões (impacto de aproximadamente 10%).
O BBI ainda vê estimativas de dívida líquida/Ebitda acima do guidance da companhia (de 3,4x e 3,1x para 2025 e 2026, respectivamente, vs. acima dos 3,2x e 2,6x da companhia), parcialmente explicadas por premissa de capex mais alta (R$ 1,0 bilhão R$ 1,2 bilhão vs. R$ 1,4 bilhão do BBI), e, em última análise, sugerindo que temos números mais conservadores para o Ebitda, capital de giro ou taxas de juros.
Mesmo assim, a recomendação é de compra com preço-alvo de R$ 10 para 2025 com base no valuation (ASAI3 negocia a 9,9x o múltiplo P/L esperado para 2025), “embora reconheçamos que o momentum de curto prazo pode permanecer fraco”.