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Entrevista: cenário azul para siderúrgicas não irá se repetir em 2021, diz analista da Ativa

29 jan 2021, 15:36 - atualizado em 01 mar 2021, 19:09
O segmento de mineração será o destaque dos resultados das siderúrgicas (Imagem: REUTERS/David Gray)

A nova safra de balanços corporativos começou nesta semana no Brasil, com Cielo (CIEL3) divulgando os primeiros números da temporada do quarto trimestre de 2020 e surpreendendo o mercado de maneira positiva. No geral, investidores e analistas estão confiantes com os resultados que as empresas vão apresentar. Para as siderúrgicas, a expectativa é ainda maior.

Gerdau (GGBR4), Usiminas (USIM5) e CSN (CSNA3) devem seguir a tendência de forte recuperação vista no terceiro trimestre do ano passado.

Entre julho e setembro de 2020, a Gerdau acumulou crescimento em base anual de 95% no lucro líquido consolidado ajustado, para R$ 795 milhões. A receita líquida subiu 23% e totalizou R$ 12,2 bilhões, enquanto o Ebitda ajustado avançou 46%.

A Usiminas e a CSN não ficaram para trás. A primeira chegou a reverter o prejuízo consolidado do terceiro trimestre de 2019 e lucrou R$ 198 milhões. Já a CSN bateu recorde em Ebitda (R$ 3,5 bilhões, alta de 124% no comparativo anual).

O desempenho dessas três companhias no período não passou batido pela corretora Ativa, que projeta mais um ciclo de ganhos sólidos, com destaque para o segmento de mineração.

“No terceiro trimestre, a gente vê que o peso de mineração foi muito forte [para as siderúrgicas]. Na Usiminas, aproximadamente 78% do Ebitda veio de mineração. Em CSN, esse percentual é bem próximo. Então, a gente vê que esse momento dos preços do minério de ferro vai reverberar novamente nos resultados do quarto trimestre”, afirmou Ilan Arbetman, analista da Ativa, para o Money Times.

Em relação ao desempenho do aço, é costume ver o segmento atuando com mais força no terceiro trimestre, enquanto as operações nos últimos três meses do ano costumam ser mais lentas. No entanto, 2020 comprovou ter sido um ano incomum.

Segundo Arbetman, a dinâmica de recuperação diferenciada leva a crer que o quarto trimestre das siderúrgicas foi forte e vai manter a tendência observada a partir da segunda metade do ano passado. Dados divulgados pela World Steel mostram que a produção de aço no Brasil se mostrou bastante resiliente em 2020. Apesar da queda de 4,9% no comparativo anual, o mercado brasileiro se saiu melhor do que a indústria do aço dos Estados Unidos (-17,2%) e da América do Sul (-8,4%), por exemplo.

“São números que mostram quão forte foi nossa recuperação e, sem dúvida, isso deve estar demonstrado tanto em Gerdau quanto em Usiminas e CSN – e Vale (VALE3), por motivos diferentes”, acrescentou o analista.

Destaque da temporada

A Ativa acredita que a Gerdau será o destaque da temporada. A corretora tem nesse momento preferência pela dinâmica de aços longos, o que justifica a recomendação de compra para a ação.

No entanto, as perspectivas sobre os resultados da Usiminas e da CSN também são bastante positivas. Os aços planos devem vir fortes, puxados pelo aumento de preços na cadeia produtiva.

A Usiminas e a CSN, que possuem recomendação neutra da Ativa, estão aproveitando uma escalada na recuperação. As duas empresas anunciaram recentemente mais um aumento, desta vez de 15%, nos preços de aço a partir de 1º de fevereiro. Esse reajuste ocorre por uma combinação de pressões sobre preços de matérias-primas, demanda saudável e força do câmbio americano.

No caso da CSN, vale lembrar que a unidade de mineração da companhia está em processo de listagem na Bolsa. A CSN Mineração fixou na semana passada a faixa de preço de sua oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês), prevista para 17 de fevereiro, entre R$ 8,50 e R$ 11,50 por ação. A CSN também sinalizou planos de listar sua unidade de cimentos.

A Gerdau é a principal aposta da corretora Ativa no setor de siderurgia, dada a preferência pela dinâmica de aços longos (Imagem: YouTube/Gerdau)

Perspectivas para 2021

Arbetman acredita que o cenário benigno do setor de siderurgia visto no ano passado não deve se repetir em 2021. No primeiro trimestre deste ano, a indústria vai ter uma dinâmica mercadológica próxima de 2020, mas provavelmente sofrerá transformações após esse período.

De acordo com o analista, 2021 trará mais desafios, com riscos criados pela dinâmica macroeconômica. Um fator que pode pesar nas ações das siderúrgicas é uma renda mais enxuta no Brasil.

“Sem renda, não há troca de serviços por bens de capital, então já vemos nisso um risco”, disse.

Em relação à influência externa, o mercado começou a ver nas últimas duas semanas uma escalada de riscos para os papéis das siderúrgicas, principalmente envolvendo cortes de subsídios por parte do governo chinês.

Apesar dos riscos, a Ativa segue otimista com a Gerdau. A corretora defendeu que a companhia continua reunindo predicados para entregar uma boa performance em meio a esse cenário mais desafiador.