As diferenças de hábito entre investidores americanos e brasileiros e como cripto pode ser uma via de acesso
Nesta reta final de 2020, muitos investidores, desde os institucionais até os de varejo, fizeram suas apostas sobre o mercado como um todo.
A recente eleição presidencial dos EUA só pôs mais lenha à fogueira entre mercado tradicional vs. mercado de ativos alternativos — mais especificamente, o mercado cripto.
Convidamos Rudá Pellini, cofundador da Wise & Trust, para evidenciar esses hábitos de investimento, principalmente usando criptoativos como proteção em meio à inflação dos mercados globais.
1) Qual a principal diferença entre o investidor do mercado brasileiro e o investidor americano?
Acredito que uma das principais diferenças é a cultura. Nos Estados Unidos, investir é mandatório para poder ter uma boa aposentadoria e uma vida confortável.
Isso exige uma preparação e um conhecimento maior sobre ativos e diversificação, além de criar um mercado muito mais aberto à tomada de risco.
As questões de estabilidade política e econômica também ajudam a reduzir as incertezas em relação ao futuro, facilitando uma visão de longo prazo com maior segurança.
No Brasil, a situação é diferente. Temos impeachment, hiperinflação, congelamento compulsório de poupanças e uma população altamente endividada, com pouco nível e capacidade de poupança.
Essa instabilidade dificulta a criação de um cenário de longo prazo, fazendo com que a visão de curto prazo acabe se concentrando em “oportunidades extraordinárias” ou na busca por dinheiro fácil e rápido.
Em suma, o brasileiro (quando investe) ou acaba sendo muito conservador — alocando em poupança e renda fixa, pois já perdeu dinheiro anteriormente — ou é mal assessorado e investe mal.
O ponto positivo é que esse cenário está mudando. Conforme o mercado vai crescendo, cresce também o acesso ao conhecimento de qualidade, sem promessas mirabolantes, mas que, de fato, educam o novo investidor a investir e poupar melhor.
2) Quais são as peculiaridades de se montar um fundo cripto no Brasil em relação ao mercado americano?
Acredito que as maiores diferenças são regulatórias mas, ainda assim, em termos gerais, as regras de oferta, compliance e auditoria não são muito diferentes.
No nosso caso, mudamos o perfil de oferta e o tamanho do mercado. Decidimos começar nos EUA e em investidores institucionais e “family offices” por entender que a demanda de produtos estruturados nessa classe de ativos estava mais madura para esses perfis.
Estamos estruturando o lançamento de produtos no Brasil voltados para o varejo.
3) Qual a sua sugestão para o investidor que ainda olha a classe inteira de criptoativos com desconfiança?
Dê um passo pra trás pra tentar entender esse movimento de uma forma mais holística.
Com o avanço da criação das moedas digitais emitidas por bancos centrais (CBDCs), o aumento do número de empresas e investidores “tradicionais” investindo e olhando para esse mercado, a injeção de trilhões de dólares nas principais economias do mundo como estímulo, é muito importante olhar pra esse mercado sem viés, buscando entender como pode ser uma alternativa para o futuro.
De fato, olhar e estudar sobre o assunto deve ser o primeiro passo, até pra não tomar medidas erradas ou cair desavisado em golpes e fraudes.
No final, ainda que a decisão seja de não alocar, vai ter compreendido um dos maiores experimentos tecnológicos e sociais dos últimos anos.
4) Quais são os cuidados que o investidor que deseja se expor a essa classe de ativos precisa ter ao adentrar nesse mundo?
– Expor seu patrimônio com cautela, aumentando os aportes à medida que o conhecimento vai aumentando;
– Respeitar seu perfil de risco, para que fique confortável com a volatilidade e tenha paz de espírito;
– Por fim, evitar promessas de dinheiro fácil e, caso decida delegar a gestão para um terceiro, busque instituições autorizadas pelos reguladores do país — no caso de fundos brasileiros, a CVM.
5) Grandes gestores e empresas listadas em Bolsa começaram a declarar estarem comprando bitcoin como investimento. O que você acha que motivou esses players a entrar nesse mercado?
Como falei anteriormente, acredito que é um caminho sem volta. Estamos diante de uma grande oportunidade, principalmente pelo fato dessa classe de ativos possuir uma baixa correlação histórica com outros mercados e moedas.
Investir em cripto e, mais especificamente em bitcoin, pode vir a ser um excelente hedge contra as incertezas do mercado ou de governos e políticas fiscais e monetárias.
Acredito que, depois de alguns anos, alguns gestores e executivos entenderam isso e decidiram agir antes da maioria. Fico feliz que, até o momento a estratégia, esteja funcionando muito bem!
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Rudá Pellini é cofundador e responsável pela área de novos negócios da Wise&Trust, fintech americana que aplica inteligência artificial e blockchain para desenvolver produtos financeiros com ativos digitais. Abriu seu primeiro negócio aos 14 anos e, desde então, vem ensinando e impactando milhões de pessoas positivamente.
Seu primeiro contato com o bitcoin aconteceu no fim de 2015 e, no ano seguinte, decidiu estudar e se aprofundar no tema. Foi nesse momento que percebeu a importância de um sistema descentralizado que possa garantir a liberdade dos indivíduos e como esse movimento já está revolucionando o mercado financeiro.