Verde compara tarifaço de Trump à Grande Depressão e revela suas apostas para os ativos

A Verde Asset Management considera que em março houve um otimismo excessivo no mercado acionário brasileiro, principalmente diante do cenário global, que se deteriorou de forma significativa no início de abril.
O principal índice da Bolsa subiu 6,8% no período, impulsionado por fluxo estrangeiro e expectativas otimistas com relação à eleição presidencial de 2026, mas já recua mais de 5% na última semana diante da escalada de tensões entre Estados Unidos e China.
- Bolsas globais tentam recuperação após o caos da guerra comercial: Acompanhe o que mexe com o Ibovespa hoje no Giro do Mercado desta terça-feira (8)
A gestora liderada por Luis Stuhlberger compara o momento atual ao Smoot-Hawley Tariff Act de 1930, uma medida que, embora tivesse a intenção de proteger a economia americana durante a recessão, acabou agravando o ciclo econômico global devido às retaliações que desencadeou.
A Verde fala em potencial para que os impactos do chamado “Dia da Libertação” de Donald Trump tenham consequências históricas semelhantes, afetando profundamente cadeias globais de produção e comércio.
A expectativa da Verde é de uma desaceleração relevante da atividade econômica nos próximos meses, provocada pela incerteza nas cadeias de suprimentos e pela paralisação de decisões de investimento por parte de grandes corporações.
A demanda está em desaceleração e o poder de precificação das companhias é limitado, o que pode pressionar margens e lucros, disse a gestora. Trata-se, sublinha a casa, de um choque de natureza estagflacionária — com inflação elevada e crescimento fraco — que dificulta a atuação dos bancos centrais.
Ativos ainda não estão baratos, diz gestora
Apesar da forte correção nos preços de ativos de risco, a Verde avalia que ainda é cedo para dizer que os ativos estão baratos. Os riscos que rondam a lucratividade da maioria dos negócios continuam altos e não foram precificados de maneira clara, avaliou a gestora.
O S&P 500 caiu 9,6% nos primeiros dias de abril, houve queda nas commodities e nas taxas de juros, e o comportamento das moedas foi misto: o dólar se depreciou frente ao euro e ao iene, mas se fortaleceu diante das moedas emergentes.
No caso do Brasil, a gestora avalia que a alta da bolsa em março não foi acompanhado por uma melhora estrutural nos fundamentos. A valorização foi impulsionada principalmente pelo fechamento do prêmio de risco das ações, enquanto as taxas de juro real de longo prazo permaneceram praticamente estáveis.
Para a Verde, esse entusiasmo está desconectado da realidade global e chega de forma precoce, considerando que ainda o pleito presidencial está distante.
No campo macroeconômico doméstico, a gestora observa que o governo tem tomado medidas de estímulo ao consumo com foco em estabilizar sua popularidade, como o relançamento do crédito consignado, que pode impulsionar a economia no curto prazo, mas ao mesmo tempo complica a tarefa do Banco Central.
As apostas da Verde
A Verde disse seguir com uma postura mais defensiva. Ao longo de março, a gestora reduziu seu nível de risco e, após o dia 2 de abril, voltou a ajustar parte das posições diante da nova configuração do mercado.
A gestora segue sem alocação em bolsa brasileira, está levemente vendida em bolsa global por meio de opções e aumentou a exposição a juros reais no Brasil.
Também manteve uma pequena posição em inflação implícita no mercado local e voltou a comprar proteção inflacionária nos Estados Unidos.
Além disso, a Verde estruturou posições vendidas no renminbi contra o euro e o dólar, enquanto preservou sua exposição a criptoativos, à posição comprada em petróleo e aos livros de crédito high yield tanto no mercado local quanto no internacional.