As ações que as gestoras estão comprando para o 2º semestre
Gestoras seguem com ações que devem ser beneficiadas pelo início do ciclo de cortes de juros, como varejo e setor bancário, com a avaliação geral de que mesmo com alta recente de alguns papéis os preços seguem deprimidos.
A dúvida, no entanto, é de o quanto a exposição a alguns setores deve ser aumentada.
A CIO da Studio Investimentos, Beatriz Fortunato, afirma que o último ciclo de baixa da Bolsa foi impulsionado pelo aumento da inflação. Logo, diz, o que vai enterrar o bear market será a queda da inflação. “Há um caminho grande para [os preços] continuarem arrefecendo”.
Segundo ela, o período do início de 2022 até agora “sem dúvida” representa uma janela atrativa para investimento em Bolsa. “Tem muito retorno de juro real em cima dessas ações”, afirma.
Fortunato diz que a queda dos juros futuros seria correspondente a um aumento de 30% da Bolsa, que subiu cerca de 17%.
A diferença do potencial avanço e a alta que ocorreu está na preocupação em torno da política econômica, diz.
“Acho que a reforma tributária é menos ambiciosa do que poderia, mas os impactos em perda de rentabilidade para as empresas vão ser muito baixos e a transição vai ser longa”, afirma.
Ciclo empresarial ruim
A gestora da Studio avalia que o Brasil vem de um ciclo empresarial “muito ruim” por conta da covid-19 e da rápida variação da Selic, o que impactou no custo de capital.
Em 2022, lembra, um série de empresas boas decepcionaram, como Hapvida (HAPV3), Natura (NTCO3), Alpargatas (ALPA4) e XP Investimentos (XPBR31). “Empresas que comentaram erros internos caíram 50% e até 80%”, diz. “São empresas boas que entraram em um ciclo ruim”.
Segundo Fortunato, o mercado reviu para baixo o lucro de várias empresas no final do ano passado. As companhias, explica, passaram a buscar o mais básico da operação em busca da volta da rentabilidade – o que agora, segundo a gestora, pode fazer com que a projeção de redução de lucros seja até revista.
A gestora diz também estar otimista com Renner (LRNE3), Itaú Unibanco (ITUB4) e BTG Pactual (BPAC11).
Ações baratas
Para a cofundadora da Dahlia Capital, Sara Delfim, apesar da alta recente de várias ações, os preços continuam baratos, considerando o indicador preço sobre lucro (P/L). “Os ativos continuam baratos porque os lucros não se deterioram”, defende.
Delfim conta que a discussão na gestora hoje gira em torno da exposição e da alocação, que poderia ser maior em empresas que se beneficiam da queda dos juros. “Mas o viés é se expor mais, mantendo a ‘pizza’, mas aumentando exposição aos setores que são ‘mais Brasil”.
A gestora diz que está mais otimista com a Bolsa do que a média do mercado. Ela comenta que o início do ano foi mais difícil por conta da expectativa negativa sobre o governo, mas pondera que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mostrou ter perfil conciliador.
“A gente evoluiu bem no primeiro semestre, a reforma tributária avançou e a inflação desacelerou”, comenta. “O mercado diverge sobre os juros, mas o que importa é o que o trabalho foi feito. A inflação cedeu”.
Delfim lembra que a perspectiva macro atual deve reduzir o custo de crédito para as empresas. “É uma combinação muito boa para o setor do varejo, para as empresas de aluguel de carros e bancos não tradicionais [em especial XP Investimentos e BTG Pactual]”, afirma.
A sócio da Dahlia também vê efeito positivo para os bancos tradicionais, com inadimplência diminuindo e menores provisões, diz, citando Itaú Unibanco e Banco do Brasil (BBAS3).
Todos os setores da Bolsa
Segundo a gestora da Dahlia, a carteira hoje contempla todos os setores da Bolsa. Há commodities, com “um pouco” de Vale (VALE3), minério e petróleo, porque é, segundo ela, case de valuation Brasil descontado mas que também pode ser beneficiado para o caso de a China “virar”.
“Os dados da china tem melhorado marginalmente mês a mês, o nível de crédito concedido no real state tem subido e o chinês acumulou muita poupança”, explica. “A poupança deve virar casa, construção, bolsa da Louis Vuitton, passagem área… demanda luxo”.
Delfim afirma que os EUA seguem ‘OK’, que a economia do país segue forte mas desacelerando. “Isso deve manter o dólar fraco”, comenta. A moeda norte-americana mais fraca, destaca, também potencializa a alta das commodities.
A gestora acrescenta que o investidor global tem poucas escolhas. “China não é um lugar óbvio porque tem controle de capital, Rússia está em guerra, Índia está muito cara, México também já andou bastante…”. “Hoje, grande parte da nossa exposição é bolsa no brasil”. Ativos doméstico correspondem a 60% da exposição, diz.
Segundo Delfim, no varejo vão se dar bem as empresas que tem poder de preço, que têm marca. “A gente apostou muito em Arezzo (ARZZ3) e Vivara (VIVA3) e vem adicionando varejo”, diz, destacando Renner. Localiza e setor aéreo também estão entra as opções da Dahlia. Iguatemi (IGTI3), diz, é outra ação muito descontada.