Boca do jacaré em CXSE3, sem VALE3 e com PETR4: As ações (e as lições) de Louise Barsi, da AGF
Se investir em dividendos se tornou algo ‘pop’, parte da fama se deve ao maior investidor pessoa física da bolsa, Luiz Barsi.
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Foi ainda na década de 70 que ele ‘bolou’ um método capaz de trazer ganhos recorrentes em forma de proventos.
Hoje, 50 anos depois, Barsi acumula pelo menos R$ 4 bilhões em patrimônio e uma legião de seguidores que tenta replicar o método.
Para ajudar o investidor nessa tarefa, Louise Barsi, sua filha, junto com os sócios Felipe Ruiz, Fábio Baroni e Jean Melo, criaram a AGF (Ações que Garantem o Futuro).
Em entrevista ao Money Times, Louise, que também é economista e analista, traça o ‘caminho das pedras’ para quem deseja lucrar com dividendos.
Segundo ela, é preciso olhar para empresas que pagam com recorrência, não somente o dividend yield, métrica que mede o retorno do pagamento e olhada com lupa por muitos analistas.
Veja a entrevista completa abaixo:
“As pessoas confundem muito o que fazemos com yield a qualquer custo, como se a gente não olhasse outra coisa. Damos preferência por empresas que tenham um histórico, uma recorrência a maiores dividendos, por mais que não seja o maior pagador, mas é um excelente pagador há muito tempo”, diz.
E para o investidor que está começando a montar uma estratégia de dividendos, não há segredo. É preciso apostar em companhias com pagamentos recorrentes e menos cíclicas, como bancos, setor elétrico, seguro, saneamento e telecom.
“Conforme você for evoluindo, ganhando musculatura nos seus dividendos, aí você começa a olhar para setores um pouquinho mais complexos até de se analisar, que tem outras variáveis externas, como câmbio, preço da commodity, que tenham um custo de oportunidade um pouco maior”, destaca.
Quais ações Barsi investe
Dentre os papéis está a Caixa Seguridade (CXSE3), o braço de seguros da Caixa Econômica Federal. Desde a sua abertura de capital, em 2021, a companhia acumula ganhos de 40%. E, agora, segundo a Exame, estuda uma oferta secundária de ações.
“Se a empresa quer atrair uma nova base de investidores, geralmente dá-se um desconto um pouquinho mais atrativo em relação ao preço de tela. Então, estamos aguardando isso acontecer para, quem sabe, o jacaré fechar a boca em Caixa Seguridade”, explica.
Muito utilizada por Luiz Barsi, boca de jacaré significa que o investidor está a espreita, no aguardo para uma ação cair e, assim que o movimento se realizar, comprar mais papéis.
E apesar de relevar quais ações tem na carteira, Louise faz um alerta: cada investidor possui o seu momento e objetivo. Ou seja, comprar determinadas ações dependerá do quanto o seu portfólio está preparado para ‘aguentar desaforos’.
Sem Vale e com Petrobras
Louise também foi questionada se investe nas duas maiores pagadoras de dividendos da bolsa, Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4).
No caso da mineradora, a resposta foi um contundente não.
E o primeiro argumento é o fato da companhia ser uma ‘corporation’ — não possuir um controlador definido. Nos últimos meses, a empresa, inclusive, sofreu para escolher um novo CEO em meio à falta de consenso no conselho.
“Quem manda na Vale? Não sei. E fica uma guerra. É um jogo de interesses ali”, argumenta.
Ela recorda que em uma empresa grande como a mineradora, são muitas decisões para se tomar, o que pode tornar o negócio rígido.
“O comitê que olha o comitê, que vai olhar o outro comitê. Até eu tomar uma decisão, o bonde já passou. Então, eu tenho dado cada vez mais preferência para empresas que têm dono, por pior que seja o dono, inclusive”.
No caso da Petrobras, a investidora lembra que a cultura da empresa mudou, enquanto o negócio se verticalizou. Ela recorda que houve a criação de mecanismos de controle para acompanhar e proteger a empresa, como a Lei das Estatais.
“Hoje tem a mídia prestando atenção, o TCU, vários órgãos do governo, a SEC, a CVM, imagino que eles devam receber um ofício por dia, se não mais”, diz.
Louise diz ainda que muita gente no mercado financeiro “mordeu a língua”, e nesse ano teve que colocar a Petrobras na carteira, porque senão não ia entregar nada além do Ibovespa.
“Essa é a grande verdade. Então, de novo, sobre você comprar empresas impopulares em momentos impopulares da Bolsa”.
Apesar disso, o papel não é para qualquer um e é preciso ter estômago, diz.
No ano, a ação já chegou a afundar com a queda do ex-CEO Jean Paul Prates, após discordâncias com o ministério de Minas e Energia, Alexandre Silvério. Porém, já recuperou a alta.
“Comecei comprando na pandemia, tenho, gosto, e não pretendo vender”.