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Artificialismo da Petrobras (PETR4) e aumento na gasolina: O que mexe com o etanol?

09 ago 2023, 16:09 - atualizado em 09 ago 2023, 16:09
Gasolina
Presidente da Unica criticou o controle de preços de combustíveis fósseis, que chamou de “subsídio inadmissível” e afeta o etanol; entenda (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

Nas últimas duas semanas, o preço do etanol tem retomado patamares mais elevados, segundo o indicador do biocombustível do Cepea/Esalq, atingindo R$ 2,1297/litro até o dia 4.

Como você leu na semana passada, segundo Marcelo Di Bonifácio, analista de açúcar e etanol na StoneX, no dia 21 de julho, o biocombustível atingiu o “piso” de R$ 2,09 o litro.

Nesta semana, o destaque fica para os números de consumo do biocombustível de junho, a crítica do presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) para os “artificialismos” nos reajustes dos combustíveis fósseis, em especial a gasolina, assim como para um possível aumento da mistura de etanol na gasolina.

Artificialismo da Petrobras (PETR4)

Durante o Congresso Brasileiro do Agronegócio, promovido pela Abag, em São Paulo, o presidente da Unica, Evandro Gussi, disse que os “artificialismos” só fizeram o setor de biocombustíveis no Brasil sofrer.

Na visão de Gussi, o controle de preços de combustíveis fósseis é um “subsídio inadmissível” no século XXI.

Para o analista da StoneX, apesar de a fala soar polêmica, o comentário é natural por parte da Unica.

“Como falamos recentemente, há um espaço para um aumento no preço da gasolina por parte da Petrobras (PETR4), já que o valor do combustível está 21% defasado comparado com a antiga política de preço de paridade de importação (PPI), segundo a Abicom. No entanto, esse reajuste é favorável ao etanol, já que, se a gasolina sobe, a paridade na bomba cai ainda mais, o que tende a aumentar o consumo e o preço do biocombustível, sendo benéfico para as usinas”, explica.

Bonifácio relembra que, em 2021, a estatal realizou uma série de reajustes, a partir da PPI, com a maior parte deles resultando em altas para gasolina, política favorável ao etanol.

“Desde o fim da PPI, o momento de alta para gasolina não tem se refletido no preço da Petrobras, então há espaço para um aumento, o que favorece o biocombustível. Ao que tudo indica, a estatal tem evitado novos reajustes”, afirma.

Consumo de gasolina e etanol em junho

De acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o consumo de etanol hidratado atingiu 1,17 bilhão de litros no Brasil, sendo 1,07 bilhãode litros apenas no Centro-Sul, ambos registrando quedas mensais e anuais.

Segundo Bonifácio, a expectativa era de que o consumo de etanol crescesse no Centro-Sul, uma vez que a paridade entre o hidratado e a gasolina caiu, na média, cerca de 3,5% em termos mensais, mas ficou abaixo de 70% (favorável ao biocombustível) na região apenas em julho.

“Por outro lado, a participação do etanol hidratado no Ciclo Otto (gasolina + etanol) foi de 21,2%, 1% acima do registrado em maio, o que reflete esse ganho de competitividade relativo para o biocombustível”, diz.

Fora os dados da ANP, a expectativa fica para os números da Unica referentes à segunda quinzena de julho, que devem ser divulgados entre amanhã (10) e o início da próxima semana.

O mercado projeta um aumento na produção do biocombustível e nas vendas domésticas, uma vez que na segunda metade de julho já eram observados preços ainda mais desvalorizados, com a demanda se reaquecendo.

“O mix nas usinas, por sua vez, continua maximizado para o açúcar, uma vez que a commodity segue fortalecida em Nova Iorque, pagando bem mais que o etanol. Na primeira quinzena de julho, o mix foi de 50,1%, e esse patamar pode se repetir na segunda metade do mês”, comenta.

No acumulado, a StoneX estima que a safra 2023/2024 no Centro-Sul feche com um mix açucareiro de 48%.

Aumento de etanol na gasolina

Na última sexta-feira (4), a fabricante de biocombustíveis Be8 (antiga BSBios) anunciou os detalhes da construção de uma usina de etanol de cereais em Passo Fundo (RS), com investimento de R$ 556 milhões.

Durante o anúncio da nova planta, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, disse que o aumento da mistura de etanol na gasolina pode passar de 27% para 30%.

Apesar de o governo “flertar” com esse novo aumento da mistura, Bonifácio não enxerga essa elevação no curto prazo.

“Esse aumento está mais no campo do discurso neste primeiro momento, com o governo ‘testando’ o mercado e a população quanto a essa possibilidade. Caso aumente, isso deve resultar em uma queda nos preços da gasolina, já que aumenta a presença do anidro, favorecendo as usinas produtoras de etanol”, pontua.

Por fim, o analista vê a nova usina da Be8 como um catalisador no longo prazo, sendo capaz de atender essa demanda crescente pelo biocombustível.

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