Arthur Igreja: O metaverso é uma farsa?
Por Arthur Igreja
Metaverso. O termo não é novo, foi criado pelo escritor Neal Stephenson no livro “Snow Crash” de 1992, onde humanos interagem usando avatares em um mundo tridimensional. Stephenson descreveu esse ambiente como o sucessor da internet. A aposta da Meta (antigo Facebook) e de diversas outras empresas é exatamente essa.
Alguns apontam que a troca de nome por parte da empresa, no final de 2021, foi uma espécie ‘’brandwashing”, termo usado para a estratégia que busca tirar o foco em uma crise de imagem. Creio que muitos movimentos foram antecipados pelos problemas que o Facebook vinha enfrentando desde o escândalo com a Cambridge Analytica. Porém, pelo menos desde 2016 que Mark Zuckerberg afirma que o futuro da empresa consistia na simbiose de conectividade, inteligência artificial e realidade virtual/aumentada.
É impressionante também o poder de influência que essa guinada trouxe. O metaverso virou o elefante virtual na sala desde então. Estima-se que nos próximos anos o mercado do metaverso ultrapasse a casa dos US$ 800 bilhões.
Será que não é um grande exagero? Uma mistura de hype com mais uma tentativa de colocar a realidade virtual como grande tendência do momento? Vale lembrar que não seria a primeira vez. Ao longo de 2017, a Samsung fez um grande esforço para emplacar seu óculos de realidade virtual para abandonar completamente a iniciativa meros três anos depois. Acredito que desta vez é diferente.
As coisas não vão mudar magicamente de uma hora pra outra, o que não quer dizer que o metaverso não esteja acontecendo. O atual estágio ainda é inicial e confuso, parecido com a internet em meados dos anos 1990. A diferença é que tivemos quase 30 anos para compreender a internet 1.0 e 2.0. Hoje, ninguém seria capaz de negar sua importância vital para qualquer negócio.
O metaverso vai muito além da realidade virtual. Ele se beneficia do amadurecimento de um ecossistema de tecnologias complementares, como NFT, 5G, miniaturização de processamento, memória, telas (basta lembrar que até recentemente os óculos precisavam estar conectados a um poderoso computador, hoje alguns modelos são dispositivos standalone).
O metaverso não substitui a realidade, ele a complementa. Seu principal potencial está em criar uma camada entre a internet 2.0 e o mundo físico. A internet 2.0 é planificada nas telas dos smartphones, computadores e tablets. O metaverso é imersivo, tridimensional e social. Pode trazer uma capilaridade inédita para marcas, tudo com uma experiência muito mais rica do que qualquer vídeo ou postagem em rede social.
Um dos melhores exemplos é a loja no metaverso do Boticário. Criada em agosto de 2021, ela recebeu em menos de um mês mais de 7 milhões de visitantes. Número que supera os 6,3 milhões de turistas que visitam o Brasil todo ano.
Outro ponto importante são os produtos e serviços que passam a ser criados para serem consumidos no próprio metaverso, como roupas, tênis, casas, entre outros. Assim como temos desenvolvimento em cidades que expandem seu plano diretor, estamos testemunhando literalmente a construção de um outro mundo, sem as limitações territoriais e físicas.
Para as marcas é fundamental acompanhar e participar desse movimento. Mesmo sem criar canais de venda sempre foi importante ter site e redes sociais, a lógica é a mesma. O metaverso funciona também como canal, sua próxima reunião para fechamento de negócio pode ser presencial, remota por vídeo planificado ou no metaverso. Quem não estiver preparado começa a perder oportunidades.
Minha recomendação prática é adotar uma postura de equilíbrio em sua estratégia. Não se pode negar o potencial do metaverso, avalie iniciativas de outras empresas de seu segmento em mercados mais maduros. Por outro lado, muito precisa evoluir para que a visão de Zuckerberg se concretize.
*Arthur Igreja é TEDx speaker. Autor. Palestrante. Especialista em Tecnologia, Inovação, Tendências e Segurança Digital. Masters em International Business pela Georgetown University (EUA), Masters of Business Administration pela ESADE (Espanha) e Mestrado Executivo em Gestão Empresarial pela FGV. Pós-MBA e MBA pela FGV. Autor do livro “Conveniência é o Nome do Negócio”. Professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Certificações executivas em Harvard e Cambridge. Atuação profissional em mais de 25 países. Anualmente, ministra mais de 150 palestras no Brasil, EUA e Europa.