Política

Cada vez mais “Dilma de calças”, Bolsonaro vive seu pior momento

20 mar 2020, 17:07 - atualizado em 20 mar 2020, 17:22
Jair Bolsonaro Coronavírus2
Sniper ou suicida? Metralhadora verbal de Bolsonaro saiu pela culatra (Imagem: Flickr/ Carolina Antunes/PR)

Com o Brasil na beirada de uma nova recessão e panelaços por dois dias consecutivos, o presidente Jair Bolsonaro segue os mesmos passos de Fernando Collor de Mello e Dilma Rousseff e começa a balançar no cargo. A avaliação é da MCM Consultores Associados, que divulgou um relatório contundente sobre sua situação.

“Bolsonaro passar por seu, até aqui, pior momento na presidência”, resume o texto, ao lembrar do aumento da reprovação do presidente, na primeira pesquisa de opinião pública realizada após a eclosão da pandemia de coronavírus.

Trata-se da pesquisa do Atlas Político, que mostrou que a avaliação negativa (ruim/péssimo) subiu de 37,8% para 41% em relação a fevereiro. Já a avaliação positiva (ótimo/bom) baixou de 29,4% para 25,6%.

“O saldo, de -15,4 pontos, é o pior desde o início (março/19) da série dessa pesquisa”, afirma a MCM. A deterioração da popularidade de Bolsonaro tem causas bem determinadas, segundo a consultoria. Entre elas, a declarada hostilidade com que trata o Congresso, a imprensa e os adversários.

“Esse é o risco que correm os governantes afeitos ao enfrentamento mais incisivo a seus adversários”, diz o relatório. “Enquanto estão fortes, são até capazes de dobrar ou acanhar os oponentes.”

“Dilma de calças”

Cada vez mais parecidos: Dilma também tratava o Congresso a pontapés – e caiu (Imagem: Divulgação/Twitter/Dilma Rousseff)

Para a MCM, a comparação com os dois presidentes que sofreram impeachment é inevitável.

“Porém, quando a maré muda, quando passam por intempéries, pagam o preço da soberba e da truculência praticadas no período de bonança. Foi assim com Fernando Collor e com Dilma Rousseff”, afirma a consultoria, sem meias palavras.

O cenário é agravado, pelo fato de que o apoio a Bolsonaro está se deteriorando, também, no Congresso e no meio político.

A MCM lembra que, nos últimos tempos, o presidente perdeu cabos eleitorais importantes, como a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP), uma das autoras do impeachment de Dilma.

Janaína, aliás, já defendeu publicamente a saída de Bolsonaro. Outro aliado de primeira hora, o ex-ator e deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP) também protocolou um pedido de impeachment nesta semana.

Pisando em ovos

A MCM alerta para o risco de que, uma vez superado o pico da pandemia do coronavírus, o Congresso volte a bater de frente com Bolsonaro. Diante da recessão que se espera, isso dificultaria ainda mais a aprovação de reformas capazes de tirar o país do buraco.

Na gaveta: pedidos de impeachment de Bolsonaro se acumulam no Congresso (Imagem: Agência Câmara/Saulo Cruz)

“Será que o centro político predominante no Congresso, que é constantemente achacado pelos bolsonaristas e pelo próprio presidente, aproveitará o antibolsonarismo militante para puxar o tapete de Bolsonaro?”, indaga a MCM.

A resposta passa pela força das eventuais manifestações contra o presidente, quando a pandemia estiver controlada. Lembrando que os opositores perderam o medo de protestar publicamente, a consultoria não descarta uma escalada nos conflitos de rua entre apoiadores e oposição.

Seja como for, os próximos meses serão tudo, menos tranquilos, para Bolsonaro. Com sete pedidos de impeachment protocolados no Congresso nos últimos dias, tudo o que ele não precisa é incendiar o país com sua retórica de redes sociais.

“Quem semeia ventos, diz a sabedoria popular, colhe tempestades”, adverte a MCM. Que o digam Collor e Dilma.