Argentina: Entenda o que muda na política de câmbio e como isso afeta o Brasil
A Argentina fechou um acordo Fundo Monetário Internacional (FMI) para renegociar o seu programa de empréstimo em meio à crise econômica. Com isso, o governo anunciou algumas mudanças em sua política de câmbio com o objetivo de evitar a saída de dólares.
A primeira trata-se de uma nova cotação para as exportações de cultivos de grãos, que passou de 300 pesos para 340 pesos por dólar nas exportações liquidadas até 31 de agosto de 2023. O país vizinho estima arrecadar US$ 2 bilhões em exportações com a mudança no “dólar agro”.
Além disso, o Impuesto Para una Argentina Inclusiva y Solidaria (PAIS) foi estendido para a compra de dólares para poupança e importação. No caso das importações, o imposto será de 7,5% – as exceções são para combustíveis, medicamentos e insumos e intermediários para a cesta básica; esses produtos serão isentos. Também terá uma taxa de 25% para todos os serviços, os únicos isentos são os setores de Educação e Saúde.
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Já na parte da poupança, a mudança foi a seguinte: o valor para a compra de dólares, também conhecido como “dólar ahorro” ou “dólar poupança”, passará a ter o mesmo valor do “dólar tarjeta”, que era destinado para cartões de crédito, com limite de US$ 300 mensais. O “dólar Qatar”, que é o de turismo, segue valendo para as compras que ultrapassam os US$ 300 mensais.
Bruno Musa, economista e sócio da Acqua Vero Investimentos, destaca que a Argentina está quebrada e que as reservas em dólar do banco central argentino estão um pouco mais de US$ 1 bilhão de dólares negativas.
“O câmbio oficial está para um dólar para 250 pesos, mas ninguém usa isso lá. Basicamente, na rua você troca um dólar por 480 pesos. Ou seja, o câmbio real está mais de 100% desvalorizado que o câmbio oficial. Esses 250 pesos são só uma mera formalidade que faz com que as pessoas corram para o mercado clandestino para conseguir dólares”, afirma.
E o Brasil com isso?
As medidas são destinadas para a população, o que significa que não deve impactar tanto os brasileiros. Gabriel Ribeiro, trader do Braza Bank, afirma que parte do turismo, a busca pela Argentina como um destino de férias deve seguir em alta.
“O turismo entre Brasil e Argentina seguirá florescendo, como já está sendo no decorrer do ano, com preços mais atrativos e como um dos principais parceiros comerciais do Brasil. Podemos ter um novo aumento de comércio com o nosso vizinho”, aponta.
Por outro lado, a nova cotação para as exportações pode gerar uma leve dor de cabeça para o agronegócio brasileiro, que pode perder um pouco de espaço internacional com preços mais competitivos por parte da Argentina.
Marcelo Cursino, gerente de estratégia comercial do Braza Bank, afirma que a medida deve afetar diretamente os negócios atrelados a soja, milho e trigo, e também ao gado bovino em menor proporção.
“Porém, a meu ver, esse impacto tende a ser bem pequeno, pois esses ciclos (de safra, por exemplo) são de médio prazo e não ofuscam ou conseguem competir com a eficiência do mercado e do agro brasileiro”, diz.