Entre Altas e Baixas

Aposte nesta ação do setor de saúde que ninguém está olhando ainda

24 maio 2023, 10:13 - atualizado em 24 maio 2023, 10:13
Planos de Saúde
Ação do setor de saúde (que poucos estão olhando) é aposta do analista Fernando Ferrer, da Empiricus, neste momento. (Imagem: Marcello Casal Jr)

A temporada de resultados referente ao primeiro trimestre do ano (1T23) se encerrou. Embora muita empresa tenha patinado, uma ação do setor de saúde desperta o interesse para investimento.

Tal qual já era esperado por nós, na média, os números vieram fracos, especialmente quando
comparados com o mesmo período em 2022.

A receita líquida consolidada excluindo-se os números de Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3) foi o único indicador no positivo, tendo avançado 6% na comparação anual.

Dos 18 setores da Bolsa brasileira, 14 apresentaram crescimento de receita, com destaque para o varejo e o setor de utilities.

Destaques

Tal desempenho deve-se primordialmente à inflação do período e ao forte crescimento inorgânico
de Carrefour e Assaí. Já o ebitda e o lucro líquido, decepcionaram.

Enquanto o primeiro caiu 1,4%, justificado pela desalavancagem operacional das companhias, o segundo caiu 23,4%, em virtude das maiores despesas financeiras.

O segmento que mais se destacou em termos de ebitda foi o de utilities, beneficiado pelo bom cenário hidrológico, pelo sólido resultado operacional das distribuidoras e pelos movimentos de fusões & aquisições no setor.

Do lado negativo, os segmentos de alimentos, mineração, siderurgia e óleo e gás foram os que mais tiveram seu ebitda pressionado tendo em vista a queda do preço das commodities.

Em termos de lucro, o segmento que mais se destacou foi o financeiro, com bons desempenhos de BB Seguridade, Cielo e Porto.

Outro lado da moeda

Do lado negativo, o setor de alimentos foi o que puxou a queda do lucro líquido.

Um setor que não foi mencionado como destaque nem do lado positivo e nem do negativo foi o de saúde.

Embora não tenha chamado a atenção nos principais rankings, foi possível ver uma importante melhora nos números das empresas, o que nos aproxima de um provável ponto de inflexão do setor.

Para quem não se lembra, vale a pena darmos um passo atrás para entendermos a dinâmica do setor e o que esperar para frente.

Uma sequência de resultados trimestrais recordes foi apresentada pelas empresas de saúde ao longo de 2020.

Não é trivial à primeira vista, devido à percepção de aumento nas internações na primeira onda de Covid-19, mas a verdade é que as empresas passaram por uma redução de custos sem precedentes.

Em virtude do isolamento social, as consultas e procedimentos eletivos, que são bem onerosos aos resultados das empresas, foram praticamente suspensos, melhorando significativamente o balanço operacional de praticamente todo o setor.

Além disso, os planos de saúde vinham em uma trajetória crescente de ticket médio devido aos reajustes anuais da ANS, contribuindo para o aumento nas receitas e para consolidação de níveis de sinistralidade historicamente baixos.

Da água para o vinho

No ano seguinte, contudo, a história foi completamente diferente.

As empresas de saúde saíram de um 2020 operacionalmente excepcional, para um 2021 que, até então, ficou marcado como por um dos piores resultados anuais para o setor.

Depois dos ganhos capturados em 2020, a maioria do setor entrou no ano seguinte com a ambição de ampliar sua base de beneficiários e, com isso, conduziram essa estratégia ao custo de uma forte redução de preços nos planos.

Três coisas que não estavam no radar fizeram com que a sinistralidade dessas empresas explodisse em 2021 e 2022:

(i) Internações 4 vezes maiores na segunda onda de Covid-19;

(ii) A partir do segundo semestre de 2021, o retorno bem acima da média histórica na demanda por consultas e procedimentos eletivos. Afinal, havia uma demanda reprimida para esse tipo de procedimento;

(iii) Em 2021, foi aprovado um reajuste negativo para os planos de saúde individuais de -8,2%, reduzindo a receita das operadoras.

Boas empresas também sofrem

Os sinais da dinâmica problemática para as operadoras começaram a aparecer em 2021, mas se agravaram em 2022.

Como os reajustes negativos são realizados gradualmente no aniversário contratual de cada plano, o ticket médio dos planos foi drasticamente reduzido, enquanto os custos ficaram cada vez mais elevados.

Assim, o efeito observado foi de uma sinistralidade recorde para o setor de 93%. E como fica a ação do setor de saúde favorita?

Nesse contexto, boas teses de investimento como Rede D´Or (RDOR3) e Hapvida (HAPV3) sofreram uma reprecificação brutal.



Enquanto a primeira chegou a cair -73% das suas máximas, a segunda caiu -89% em seu pior momento. Uma verdadeira destruição do setor.

Fique de olho

No meio dessa tempestade perfeita mora um dos principais pontos da nossa tese hoje em Hapvida.

A companhia teve seu resultado deteriorado devido a esse cenário, mas segue como ação do setor de saúde favorita.

No entanto, sua posição mais cautelosa ao longo de 2021 e 2022 trouxe uma importante vantagem competitiva frente aos seus pares.

Fora os reajustes dos planos individuais definidos pelo órgão regulador, a HAPV3 não implementou uma estratégia de precificação agressiva da mesma magnitude que os seus concorrentes nos últimos anos.

Assim, com receitas relativamente mais saudáveis e maior controle de custos e despesas em função da sua estrutura verticalizada, a sinistralidade da Hapvida hoje tem mais controle que a de seus concorrentes — apesar de ainda estar em níveis mais altos do que o histórico.

Não obstante, a companhia realizou três importantes transações neste ano, que auxiliaram na redução do seu endividamento em cerca de R$ 3 bilhões, de forma reduzir os rumores de que eventualmente poderia ter problemas de solvência.

Além de um follow-on (oferta de ações), houve uma operação de venda de ativos e o cancelamento da compra de uma operadora de plano de saúde.

Depois de um grande pessimismo em torno dos papéis, a Hapvida já sobe 94% do patamar atingido em março deste ano.

E, ao que tudo indica, a ação está passando pelo seu ponto de inflexão.

Os números dessa última temporada de resultados já nos mostram isso.

A receita líquida consolidada da companhia atingiu R$ 6,7 bilhões no período, alta de 12,8% em relação ao 1T22.

Os planos de saúde, que representam quase a totalidade do resultado, cresceram 14,9% na comparação anual.

Consequentemente, reflexo do aumento da base de beneficiários (+4,1%) e do ticket médio (+8,3%).

O principal ponto de atenção da companhia mostrou um importante alívio nesse trimestre.

Aposte nesta ação do setor de saúde

A sinistralidade caixa da Hapvida foi de 72,3%, queda de 0,6 p.p na comparação trimestral e 2,6 p.p na anual, superando nossas expectativas e as do mercado.

A companhia atribui a melhora ao aumento de preços e maior verticalização do negócio, vide o controle das contas médicas.

E apesar da sazonalidade ruim do primeiro trimestre, cresceu apenas 2,5% em relação ao 4T22.

As despesas com vendas, gerais e administrativas (SG&A) apresentaram leve diluição em relação ao último trimestre, mas os números ainda seguem elevados e superiores ao registrado no 1T22, em função da incorporação da HB Saúde.

Assim, beneficiado pela redução da sinistralidade, o ebitda ajustado atingiu R$ 635 milhões (+63,5% vs 1T22).

Já a margem de 9,4%, ganho de 2,4 p.p na comparação anual – longe do ideal, é mas um claro avanço frente aos últimos trimestres.

Em nossas estimativas, é plausível que a companhia atinja um ebitda consolidado para 2024 superior a R$ 3,5 bilhões.

E isso implica um desconto de valor da firma sobre ebitda importante em relação a sua média histórica.

Para àqueles que gostam de uma apimentada na carteira, depois de muitos meses o setor de saúde está voltando ao radar dos investidores.

Embora goste de algumas oportunidades ali presentes, Hapvida (HAPV3) é a minha aposta (pequena) do setor.

*Fernando Ferrer, graduado em Engenharia Mecânica pela UFRJ e com MBA de Finanças pela mesma instituição, atua na Empiricus como analista de investimentos há 5 anos.

Atualmente, é responsável pela série best-seller As Melhores Ações da Bolsa e faz parte da equipe que comanda o Carteira Empiricus, o portfólio multimercado que é o carro-chefe da casa.

Colunista da newsletter Day One, Fernando passou a integrar o time de colunistas do Money Times com sua série semanal Entre Altas e Baixas.

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