Macro Summit Brasil 2024

Aposte na inflação para ganhar dinheiro neste ano, indicam gestores da Itaú Asset e Dahlia Capital

10 abr 2024, 19:00 - atualizado em 11 abr 2024, 14:58
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Ressonância: o que acontece na China e nos Estados Unidos, muitas vezes, tem um peso maior para o Brasil do que é comentado, lembram Mariana Dreux e José Rocha (à dir.) (Imagem: Macro Summit/ Bianca Barsotti)

O mercado financeiro global vive uma verdadeira montanha-russa, reagindo a cada sinal que reforce ou enfraqueça a expectativa do início do ciclo de cortes da taxa básica de juros dos Estados Unidos. O grande desafio para o Federal Reserve (Fed) é encontrar o melhor ponto de equilíbrio entre seus dois mandatos: gerar o máximo de empregos, mantendo o mínimo de inflação. É claro que os investidores brasileiros estão atentos ao que virá do Banco Central americano, já que as decisões do Fed impactam os preços de ativos em todo o mundo.

O cenário externo e seus efeitos sobre o mercado brasileiro foram analisados pelos gestores Mariana Dreux, da Itaú Asset, e José Rocha, da Dahlia Capital, durante sua participação no Macro Summit Brasil 2024, evento online gratuito sobre cenário macroeconômico e mercado financeiro realizado pelo Market Makers, um dos principais hubs de conteúdo financeiro do Brasil, em parceria com o Money Times e Seu Dinheiro.

Dreux lembra que 2024 chegou com a expectativa de que os juros americanos, enfim, começariam a baixar da atual faixa de 5,25% a 5,50%, na qual se mantêm desde julho do ano passado. O problema, segundo a gestora da Itaú Asset, é que a inflação teima em não sossegar. Segundo ela, houve um repique da inflação em janeiro e fevereiro, além de uma atividade econômica muito forte, favorecendo a criação de empregos nos Estados Unidos. “A expectativa de corte dos juros foi jogada para frente e com uma magnitude menor”.

Esse carrossel de expectativas e frustrações tem impacto direto no Brasil, segundo José Rocha, da Dahlia. Ele afirma que, apesar de o Banco Central brasileiro ter autonomia para decidir sobre sua política monetária, a realidade é que as decisões tomadas pelo BC dependem do que acontece nos Estados Unidos, que estabelecem uma espécie de piso para a Selic.

“A gente acha que as pessoas superestimam o cenário local no preço dos ativos. O que acontece no Brasil ou em Brasília é importante? Claro que é. Porém, o que acontece na China e nos Estados Unidos acaba tendo um peso muitas vezes maior do que é comentado”, afirmou Rocha.

Juros devem começar a cair antes na Europa

Dreux, da Itaú Asset, afirma que o cenário atual dos juros está volátil e com bastante incerteza, porém, considera razoável a precificação pela queda dos juros por analistas do mercado. Inclusive, lembra que Brasil e Chile já iniciaram seus processos.

Como, agora, espera-se que o Fed comece a reduzir os juros a partir de maio, a gerente de portfólios da Itaú Asset acredita que Europa e Reino Unido iniciem antes os cortes. “Os próximos dois dados de inflação serão os números mais importantes para uma decisão do Fed. Sem dúvida nenhuma, a grande surpresa no mercado foi a inflação [alta] no início do ano”, afirma Dreux.

Além disso, ela destaca o impacto da política monetária do Fed sobre as eleições presidenciais americanas neste ano. “O mercado tende a ver o governo Trump como mais fortalecedor de dólar, mais intervencionista no sentido de aumento de probabilidade de reposição de tarifas, principalmente para a China. Independente do presidente que vencer, a população americana vê essa concorrência chinesa como desleal, então, a forma de implementação e agressividade pode mudar entre os dois, mas a direção é a mesma”, diz.

Petróleo ainda é importante para o mundo (e para os investidores)

Rocha, da Dahlia, afirmou que separa o atual cenário financeiro em duas partes: cíclica (mais comentada) e a estrutural, que seria a menos discutida. A primeira trata do período que começou no pós-pandemia, que enfrenta onda inflacionária, mas mostra melhorias a partir de 2023. Já a estrutural é impactada a longo prazo pela Inteligência Artificial (IA) e a retomada da importância do petróleo.

Segundo ele, os avanços no uso das tecnologias que operam com IA em logística, transporte, automação, processamento e até mesmo produção de conteúdo e vídeos vão impactar no conceito de trabalho como conhecemos.

Ele destaca que as discussões sobre transição energética são necessárias, mas que a demonização do petróleo fez os investimentos nesse setor caírem, gerando escassez energética no mundo e inflação devido ao aumento do preço da commodity, principalmente, pela guerra entre Rússia e Ucrânia.

“Tentaram embargar o petróleo russo, mas não conseguiram. O Irã estava embargado e voltou ao mercado. Os EUA fecharam acordo com a Venezuela e aumentaram em 20% sua própria produção. Na COP28, no ano passado, a energia nuclear passou a ser considerada energia verde”, diz Rocha.

Segundo o CIO da Dahlia, Trump afirma que acabará com a guerra da Ucrânia, caso vença. “A gente acha que acabar a guerra é baixista para preço de comida e energia no mundo, ajudando a baixar a inflação. Uma das grandes lições de 2022 foi a importância do petróleo para o mundo. Quando o preço sobe, bagunça tudo; quando cai, melhora tudo”.

Ele alerta que a produção de petróleo americana subiu no governo democrata apenas com aumento de produtividade, sem perfurar novos campos. Num eventual governo republicano, mais sondas e novos poços poderiam ser perfurados.

Brasil: prova de fogo do arcabouço fiscal

Dreux, da Itaú Asset, considera que, em poucos meses, o arcabouço fiscal implantado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva passará por sua primeira prova de fogo, com uma provável revisão das metas para 2024 e 2025.

“O fato de não ter sido mudado antecipadamente, como foi ventilado no final do ano passado, foi positivo porque o esforço do ministro [Fernando Haddad] em conseguir implementar sua agenda foi mais potente. Tiveram algumas coisas positivas”, diz Dreux.

Mas ela pondera que o problema não é exclusividade do Brasil. “Todo mundo fez um monte de expansão fiscal e a dívida está alta no mundo inteiro. Uma história que era um pouco mais característica nossa, ficou muito comum no mundo inteiro”, afirma.

Apesar dos conhecidos e debatidos desafios brasileiros, Rocha considera que as oportunidades de investimentos no país são muito atraentes. “O yield no Brasil está no nosso portfólio. NTN-B beirando IPCA +6% chama muito a nossa atenção. E na bolsa tem uma série de ações que estão operando a IPCA + 12%, 13% e 14%”, afirma o gestor da Dahlia Capital.

Ao final do painel, os representantes da Itaú Asset e Dahlia Capital foram bem diretos em apresentar as melhores estratégias para investir neste momento:
● Mariana Dreux: comprar inflação no Brasil;
● José Rocha: carteira de yield no Brasil com tecnologia nos Estados Unidos (“combinação vencedora”).

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