Aposta futura: Unica vai à China promover etanol com Pequim adiando mistura maior
O staff da principal associação de usinas do Centro-Sul ainda arrematava os preparativos para mais uma missão à Ásia para promover o etanol, com a cobiçada China no meio, quando Pequim anunciou ontem (8) a suspensão de seu programa de aumento da mistura do biocombustível à gasolina. Deixou um pouco mais longe as chances de o Brasil pegar um pedaço do déficit de 12 bilhões de litros que a elevação a 10% de anidro acarretaria.
A viagem, a partir da última semana de fevereiro, não está morta, contudo. Mesmo porque ainda se entende que seja uma “frustação comedida”, já que a China enfrenta desafios ambientais e deverá retomar a política no mínimo a partir de 2021, na expressão de Eduardo Leão Souza, diretor-executivo da União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica).
O governo abortou o programa temendo pelos estoques de milho e a tendência de explosão de preços globais em 2020.
O hiato que o país dará ao seu processo de mitigar o efeito estufa – hoje o maior emissor global – e diminuir a poluição das cidades, sendo 60 delas entre as mais poluídas do mundo (de acordo com a Organização Mundial de Saúde), também pode ser visto pelo lado positivo.
Na medida em que o Brasil tem pouca capacidade de incrementar volumes maiores de exportações de etanol, diante de um cenário interno desafiador na balança oferta-demanda, ao menos a missão ajudará a entender o que os chineses pensam para o futuro.
“Esperamos que a China sinalize claramente o que pretende para que os países fornecedores dimensionem volumes e timing”, explica. Uma questão, portanto, de planejamento futuro.
Entra nessa história o que Pequim pensa também sobre a taxa de importação, que hoje é salgada, de 30%.
O giro da diretoria e técnicos da Unica passará por Tailândia, Paquistão e Índia também. Mas nestes por razões diferentes. Canavieiros e açucareiros – e que adoram subsídios que deprimem a commodity no mercado internacional, especialmente os indianos –, esses países poderiam usar mais cana para etanol, encurtando a oferta de açúcar. Igual a melhores preços.
Daí que os produtores brasileiros insistem em manter um diálogo constante com governos e empresários (como vem ocorrendo com a Índia), a fim de eles conhecerem e entenderem melhor as vantagens e a importância do etanol, a partir da experiência brasileira de mais de 40 anos.
Mais do que ensinar a fazer, o que não é bem o caso, vale o destaque que o executivo da Unica defende: levar o conhecimento técnico do aumento da mescla na gasolina, que no Brasil já está em 27%.
Potencial dos EUA
A China, por exemplo, tem empresas com grande potencial para produção de etanol, sendo que dos 4 bilhões de litros atuais, em torno de 20% é de mandioca e o restante de milho. O país tem uma relativa produção de cana, mas parece a Eduardo Leão que não fabrica o biocombustível dessa matriz.
Mas o gap entre o que fabrica e o que precisaria para chegar aos 10% de mistura, algo como 16 bilhões de litros, certamente demandaria uma janela aberta para o mundo. “O primeiro passo seria aumentar o acesso aos produtos importados”, avalia ele.
Porém, nada como ser realista como uma entidade tem que ser. Além de visualizar apenas no futuro as chances do Brasil ocupar esse espaço com grande importância, Leão Souza vê apenas os Estados Unidos com a bola na marca do pênalti. Sempre lembrando, mais uma vez, se e caso a China quiser fazer parte desse esforço de transformar o etanol em produto global.
Os americanos teriam, nas contas da entidade, uma sobra estrutural de 4,5 bilhões de litros, mas com acesso hoje no mercado chinês praticamente fechado pela tarifa acima de 60%. Finda a guerra comercial entre as duas potências, certamente cairá.
A grande conta que se faz sobre a China, e como tudo lá é superlativo, é a frota veicular. Esqueçamos o 1% de carros elétricos.
Hoje rodam 240 milhões de veículos. Estudos mencionados por Eduardo Leão Souza dão mostras de que em 25 anos dobrará.
O último embarque de etanol brasileiro para lá foi em 2016, 35,1 milhões de litros, com um começo promissor um ano antes, de 119,2 milhões.
Num cenário de mais 10% de mistura, já, nem faria estatística.