Vacinas

Após Butantan anunciar vacina própria, governo federal divulga outro imunizante brasileiro

26 mar 2021, 18:44 - atualizado em 26 mar 2021, 18:44
Segundo Pontes, os ensaios clínicos de fases 1 e 2 serão realizados com 360 pessoas (Imagem: Pixabay)

O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcos Pontes, anunciou nesta sexta-feira que uma vacina 100% brasileira contra a Covid-19 desenvolvida pela Universidade de São Paulo (USP) com o apoio do governo federal apresentou protocolo à Anvisa para realização de testes clínicos, horas após o Instituto Butantan anunciar que pediria aprovação para testar a Butanvac, outro possível imunizante totalmente fabricado no país.

Os anúncios de duas possíveis vacinas brasileiras contra a Covid ocorre no momento em que o Brasil depende da importação de insumos para fabricar imunizantes contra a Covid, o que tem resultado em atrasos no cronograma de imunização no país, mas dificilmente as vacinas serão aprovadas em um curto prazo para uso na população.

Segundo Pontes, os ensaios clínicos de fases 1 e 2 serão realizados com 360 pessoas, ao longo de cerca de três meses, para atestar a segurança e a resposta imune da vacina, que já passou por testes com animais. Posteriormente, serão realizados os ensaios clínicos de fase 3, com número de voluntários de 20 mil e 30 mil, para testar a eficácia da vacina, de acordo com o ministro.

“É uma estratégia extremamente importante para o país o desenvolvimento de vacina nacional, primeiro porque existem mutações de vírus, então, tendo controle completo da vacina, a gente pode adaptar isso com a nossa tecnologia”, disse.

“Segundo porque fica mais barato. Terceiro porque lembrar que o desenvolvimento dessas tecnologias vão apoiar não só a vacina do Covid, mas também –e a gente vai ter outras pandemias, infelizemnte, a gente vai ter tecnologia para desenvolver rapidamente vacinas nacionais para as outras pandemias também”, acrescentou.

Logo após a fala do ministro, a própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou ter recebido pedido de autorização de estudo da vacina, chamada Versamune®️-CoV-2FC, desenvolvida numa parceria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP, a empresa Farmacore e a PDS Biotechnology, dos Estados Unidos.

“Segundo os procedimentos da Anvisa, a análise considerará a proposta do estudo, o número de participantes e os dados de segurança obtidos até o momento nos estudos pré-clínicos que são realizados em laboratório e animais”, disse a agência em nota.

A vacina é uma de três apoiadas pelo governo federal contra a Covid que avançou para a fase de testes clínicos, mas foi a que mais avançou nas conversas com a Anvisa para apresentar pedido de autorização para ensaio clínico, de acordo com o ministro.

A fala de Pontes, ao lado do novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, pareceu uma resposta ao anúncio feito mais cedo pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), sobre o pedido para realização de testes da Butanvac pelo Butantan, que é ligado ao governo paulista.

Doria é rival do presidente Jair Bolsonaro e ambos travaram uma disputa acirrada no ano passado no momento em que o governador trabalhava pela produção no Butantan da CoronaVac, vacina da chinesa Sinovac, e o presidente atacava a iniciativa e questionava o imunizante, que hoje é o mais usado no país.

No caso da Butanvac, os estudos de fases 1 e 2 contarão com 1.800 voluntários, e o Butantan espera obter o aval da Anvisa a tempo de iniciar os testes em abril para ter o imunizante disponível para aplicação na população em julho.

Pontes afirmou que foi uma coincidência os dois anúncios no mesmo dia.

“Do meu ponto de vista deve ter sido uma coincidência que ele apresentou em São Paulo essa outra possibilidade, o que é bom para o país. A gente precisa ter várias vacinas nacionais”, afirmou.

O Brasil, que enfrenta o pior momento da pandemia de Covid, com mais de 2.200 mortes por dia em média nas últimas semanas, sofre com o ritmo lento da vacinação desde o início em janeiro.

De acordo com o Ministério da Saúde, 12,7 milhões de pessoas foram vacinadas com a primeira dose, o equivalente a 6% da população brasileira.