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Após 16 anos, aposta da Vale (VALE3) em níquel parece vencedora

09 mar 2022, 12:44 - atualizado em 09 mar 2022, 12:44
Níquel-Vale
A turbulência do mercado de níquel pode ajudar a Vale a divulgar os pontos fortes de seu portfólio de metais básico. Veja mais

O aumento sem precedentes nos preços do níquel, impulsionado pela guerra na Ucrânia, está transformando um portfólio de minas já considerado problemático em ativos valiosos.

Durante o arrebatador superciclo de commodities dos anos 2000, a gigante brasileira de minério de ferro Vale (VALE3) fez uma aposta de US$ 17 bilhões em um metal usado principalmente na produção de aço inoxidável.

A compra da mineradora de níquel canadense Inco, anunciada em 2006, fazia parte do objetivo do então CEO Roger Agnelli de transformar a Vale em um peso pesado global diversificado em um momento de demanda chinesa aparentemente insaciável por matérias-primas.

Quando a corrida do níquel ganhou impulso no início de 2007, as ofertas agressivas de Agnelli aos rivais pelos amplos depósitos da Inco no Canadá, Brasil, Indonésia e Nova Caledônia pareceram um lance de gênio. Mas então os preços caíram e a incursão no níquel rapidamente se tornou um albatroz no pescoço da Vale.

“Foi um sonho de uma noite de verão”, disse José Carlos Martins, ex-executivo sênior da Vale, em entrevista na terça-feira. “O preço regrediu e ficou rodando por anos próximo do custo de produção.”

Mas a sorte do níquel começou a mudar quando se tornou um ingrediente-chave nas baterias recarregáveis. Com a revolução dos veículos elétricos ganhando força, o mercado de níquel para baterias começou a ficar apertado, aumentando o valor dos depósitos arrematados no acordo com a Inco. Então, a invasão da Ucrânia fez os preços do níquel dispararem, já que os temores sobre a oferta russa deixaram os compradores expostos a um aperto histórico.

O breve pico do níquel acima de US$ 100.000 a tonelada métrica na London Metal Exchange pode não ser sustentável. Mas, como segunda produtora mundial, a Vale deve se beneficiar das preocupações com o fornecimento da russa MMC Norilsk Nickel PJSC, a maior produtora.

Segundo o analista do Itaú BBA Daniel Sasson, cada US$ 10.000 de variação no preço do níquel se traduz em US$ 1,8 bilhão no Ebitda da Vale. Isso impulsiona os ativos que a Vale já cogitava desmembrar em uma tentativa de liberar o potencial de valor que a empresa calculou no mês passado em US$ 40 bilhões.

A decolagem vertiginosa do níquel nesta semana é um sinal para a Vale finalmente avançar no spinoff de metais básicos, dando transparência ao valor do negócio, diz Martins, agora sócio-diretor da Neelix Consulting Mining & Metals. “É hora de fazer uma operação ousada no níquel.”

A turbulência do mercado de níquel da semana passada pode ajudar a Vale a divulgar os pontos fortes de seu portfólio de metais básicos, que está se recuperando de uma série de reveses operacionais no Canadá e no Brasil. Preços mais altos também podem acelerar uma nova joint venture na Indonésia.

A Vale pode “fazer mágica acontecer” em metais básicos, disse Deshnee Naidoo, a nova vice-presidente executiva de metais básicos da empresa, em uma teleconferência de resultados em 25 de fevereiro: “Temos os ativos certos e uma base de recursos inigualável em jurisdições fortes com conhecimento técnico para desbloquear a cadeia de valor para atender a esse crescimento da demanda.”