Apetite do Mercosul por acordos comerciais está em alta
Potenciais parceiros comerciais buscam o Mercosul depois que um amplo acordo com a União Europeia mostrou que a maioria dos membros do cone Sul está aberta a negociar, de acordo com o ministro de Relações Exteriores do Uruguai, Ernesto Talvi.
Pelo menos quatro países, incluindo algumas economias “muito importantes”, sinalizaram recentemente ao Uruguai que desejam explorar negociações comerciais com o Mercosul, disse Talvi em entrevista em 5 de março, em Montevidéu.
Ele não quis identificar os países porque as reuniões foram confidenciais.
Ao fechar um acordo com a UE em junho passado, o Mercosul sinalizou que leva a sério a intenção de ter um papel de maior peso na economia global.
A diversificação dos parceiros comerciais é uma necessidade crescente, já que a demanda chinesa é atingida pela epidemia de coronavírus.
“A marca do Mercosul se valorizou enormemente porque começamos a mostrar que queríamos nos integrar e nos abrir assinando acordos de livre comércio de ponta”, disse Talvi.
O ministro tomou posse em 1º de março, quando o presidente Luis Lacalle Pou iniciou um mandato de cinco anos.
Diplomatas do Mercosul estão focados em negociar com a Coreia do Sul, Canadá e Cingapura, enquanto Indonésia e Vietnã são possíveis candidatos.
Além disso, um acordo com a Associação Europeia de Livre Comércio – o bloco que representa a Suíça, a Noruega, a Islândia e o Liechtenstein – está na fase final.
Flexibilidade
Talvi atribuiu a recente disposição do Mercosul de buscar acordos comerciais a uma crescente percepção entre a comunidade empresarial brasileira de que um maior acesso ao mercado externo é fundamental para sua sobrevivência.
“Minha percepção é de que três países – Brasil, Paraguai e Uruguai – decidiram por uma inserção global dinâmica e rápida.”
“A Argentina, por enquanto, está muito condicionada por problemas de curto prazo”, acrescentou. A economia da Argentina, a segunda maior da América do Sul, deve encolher pelo terceiro ano consecutivo em meio à inflação de dois dígitos, controles de capital e complicada renegociação da dívida do governo. Empresas e políticos da Argentina também relutam em abrir a economia, uma das mais fechadas do mundo, em um momento de alto desemprego.
Talvi destacou o pacto com a UE como exemplo de como o bloco pode adaptar acordos comerciais às necessidades de seus países membros.
Uma vez ratificado pela UE, o tratado entrará em vigor em uma base bilateral entre a UE e cada nação do Mercosul que o aprovou. “É um elemento muito importante de flexibilidade”, disse Talvi.
“Não nos movemos na velocidade do país mais lento. Aqueles que estão com pressa podem se mover mais rapidamente.”
O Uruguai quer modernizar o Mercosul com medidas que facilitem as cadeias comerciais e de suprimentos dentro do bloco quando ocupar a presidência rotativa da organização durante o segundo semestre, disse Talvi.
O Uruguai depende dos mercados de exportação para vender os amplos excedentes de soja, carne bovina e laticínios que seu mercado interno de apenas 3,5 milhões de pessoas não pode absorver.
No entanto, as exportações caíram 13% nos primeiros dois meses de 2020 em relação ao ano anterior, para US$ 1,17 bilhão, devido à lenta recuperação econômica no Brasil e à epidemia de coronavírus na China.
É uma má notícia para o governo Lacalle Pou, que enfrenta o desafio de impulsionar a economia que eliminou mais de 50 mil empregos desde 2014. Analistas esperam que o PIB cresça 1,5% este ano e 2% em 2021, segundo dados compilados por Bloomberg.
Sem outros acordos comerciais, o Uruguai corre o risco de perder não apenas o acesso aos principais mercados de exportação e empregos, mas também a coesão social à medida que desempregados rurais migram para cidades, disse Talvi.
A promoção comercial “é uma estratégia absolutamente fundamental, não apenas em termos econômicos, mas para a reconstrução de nosso tecido social”.