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Apesar da crise do petróleo, fundos árabes reforçam carteiras que poderiam ter o agro brasileiro

15 maio 2020, 10:37 - atualizado em 15 maio 2020, 18:38
Minerva
Exemplo de empresa com recursos árabes no Brasil pode ser seguido por outras (Imagem: Gustavo Kahil/ Money Times)

A iminência de que o fluxo de investimentos de grupos empresariais e fundos privados sejam muito podados, na onda de reconstruções que virá na sequência da crise sanitária, deverá trazer para o centro de interesses a riqueza acumulada por governos que investem mundo afora. Os fundos soberanos árabes são fontes naturais.

Muito embora a crise do petróleo esteja no centro da crise da pandemia, exigindo necessidade de reequilíbrio de caixa e cuidados redobrados em relação a ativos potenciais, vários movimentos já foram registrados nas últimas semanas em reforço de posições e controle acionário.

E o Brasil pode ser candidato, colocando o agronegócio na linha de frente – até por poucas opções mais seguras – tanto quanto a exploração do petróleo do pré-sal (já recebe investimentos cruzados).

Alguns desses fundos, como o Mubadala, dos Emirados Árabes Unidos, já estão presentes, mas no agro o exemplo do Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita (PIF, da siga em inglês), um dos principais cotistas do Minerva Foods (BEEF3), por meio da Saudi Arabian Livestock Company , pode ser seguido, explica Michel Alaby, da Alaby & Consultores Associados.

Além de ativos de mais de US$ 350 bilhões e pouca oportunidade de reinvestimentos em seu próprio reino, o especialista em mercados árabes chama a atenção, em especial, para a necessidade cada vez maior do principal país do petrodólar tem de “investir em segurança alimentar, garantindo fontes de suprimentos hoje mais supridas pelas importações, e em especial após essa crise atual sem precedentes”, afirma Alaby.

Mais ou menos o que a China e a Rússia também fazem, embora através de empresas, mas que pela natureza política desses países são praticamente estatais. Do primeiro, a mais conhecida é a Cofco (grãos, açúcar, café e algodão); do segundo, a Sodrugestvo (soja e derivados).

Pela natureza das relações diplomáticas dos países árabes, as câmaras oficiais têm papel direto no comércio, inclusive certificando as exportações para lá (Imagem: Reuters/Ahmed Yosri)

Compradores líquidos de alimentos – estando entre os principais destinos das carnes bovina e aves, além de açúcar, entre outros – os países árabes também vão precisar ser mais criteriosos nos seus portfólios de investimentos globais, condição que os riscos inerentes à crise atual vão exigir.

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Segurança jurídica

E o agronegócio brasileiro se destaca por oferecer maior segurança dada a sua força e qualidade, podendo até suplantar a insegurança institucional e jurídica que o Brasil oferece, “mas que não podem ser desprezadas como riscos”, avalia o CEO da Alaby, por muitos anos interlocutor direto com governos árabes e na organização de missões brasileiras, além de intermediário de contatos com empresas no Brasil, na condição de secretário-executivo da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira.

Pela natureza das relações diplomáticas dos países árabes, as câmaras oficiais têm papel direto no comércio, inclusive certificando as exportações para lá.

Nos últimos dois meses, o PIF, da Arábia Saudita, fez lances agressivos na Repsol, Royal Dutch Shell, Equinor, Eni, em empresas de tecnologias e até entretenimento e turismo, notou Michel Alaby, se aproveitando da expertise que já possui (nas carteiras de empresas de petróleo) e com o barateamento dos preços dos ativos com a crise.

Mas a expectativa de que o fundo soberano saudita pudesse desovar US$ 10 bilhões no Brasil, segundo anunciou o presidente Jair Bolsonaro quando visitou o Oriente Médio em outubro, está longe de ser real ainda.

A expectativa é de que o fundo soberano saudita pudesse desovar US$ 10 bilhões no Brasil, conforme sinalizou Bolsonaro em sua viagem oficial ao país  (Imagem: Wikipedia/B.Alotaby)

A potencialidade existe e agora é necessário também um trabalho direto das empresas de agronegócio com os gestores desses fundos, incluindo também o Mubadala, o Fundo de Investimento de Abu Dhabi e o Fundo Soberano do Qatar, que, juntos, somam patrimônio beirando US$ 1,5 trilhão.

O maior fundo soberano do mundo, o da Noruega, foi muito afetado pela crise do petróleo – mais que os árabes, que possuem reservas maiores e um portfólio menos diversificado – e foge do Brasil na esteira das críticas daquele governo às políticas ambientais. O fundo alemão idem.

Sobram os fundos árabes, avalia Alaby, também consultor da Pnud/ONU, para assuntos de countertrade.