Aperto monetário mais rápido entre emergentes pode ajudar moedas
Moedas de mercados emergentes, atingidas pela sinalização de aperto da política monetária do Federal Reserve, podem em breve recuperar o desempenho recorde em relação ao dólar.
Isso devido às expectativas de que o ciclo de alta dos juros de bancos centrais de países em desenvolvimento poderia ser mais rápido do que nos Estados Unidos.
As moedas do Brasil, Rússia, República Tcheca, África do Sul e Hungria – países que implementaram vários aumentos dos juros ou que devem fazê-lo em breve – por enquanto mantêm os ganhos trimestrais e superam pares.
Outras moedas podem seguir a tendência, com crescentes expectativas de juros mais altos em países como Chile e África do Sul, já que a atividade econômica e a inflação voltam a ganhar força após a crise causada pela pandemia.
Já o Fed sinalizou que deve elevar as taxas de juros apenas em 2023. Embora os ganhos recentes do dólar tenham freado o avanço de moedas de mercados emergentes, esse quadro pode mudar assim que o suporte ao dólar com as mudanças de posicionamento diminuir, de acordo com o Bank of Singapore e JPMorgan Asset Management.
“Os bancos centrais de mercados emergentes devem começar a aumentar as taxas de juros muito antes que o Fed”, disse Mansoor Mohi-uddin, economista-chefe do Bank of Singapore. “Durante o verão, a menor volatilidade pode levar investidores a realizarem carry trades sazonais novamente, o que ajudará moedas de mercados emergentes de maior rendimento”, disse, em referência às operações de arbitragem de juros.
As condições financeiras dos EUA estão intimamente relacionadas à demanda por ativos de risco, que incluem ações e moedas de mercados emergentes.
Embora a expectativa de redução do estímulo tenha sido foco de preocupação dos investidores, o mercado vai ficar atento aos sinais de aperto das condições financeiras, o que pode desencadear uma onda vendedora, segundo Neels Heyneke, estrategista do Nedbank Group, em Joanesburgo.
Esse ainda não é o caso, pois os custos de financiamento nos EUA ainda estão perto de mínimas históricas, de acordo com o índice de condições financeiras do Goldman Sachs.
Indicadores que acompanham ações e moedas de mercados emergentes recuaram de máximas históricas, mas ainda acumulam ganhos neste trimestre.
Com a improbabilidade de o Fed subir os juros em 2021 ou 2022, “as condições monetárias e financeiras devem permanecer frouxas por algum tempo”, disse Didier Lambert, gestor-chefe de portfólio para renda fixa de mercados emergentes da JPMorgan Asset Management. “Os bancos centrais de mercados emergentes que conseguirem controlar as expectativas de inflação de maneira confiável – como Rússia, a República Tcheca ou Brasil – podem ver uma maior demanda por suas moedas.”
Enquanto algumas commodities sentiram o impacto da recente sinalização de aperto monetário do Fed, outras continuam apoiando moedas de mercados emergentes vinculadas aos preços das matérias-primas.
Commodities como cobre, carvão e minério de ferro atingiram máximas históricas no mês passado, pois a recuperação nas maiores economias do mundo puxa a demanda por metais e energia em meio à oferta ainda limitada.
Com isso, a Aberdeen Asset Management aproveita qualquer período de baixa para aumentar as apostas altistas em moedas atreladas às commodities, como o real e os pesos do Chile e da Colômbia.
“No mínimo, esta é a ratificação de que o crescimento global é forte, assim como a demanda por commodities”, disse Edwin Gutierrez, chefe de dívida soberana de mercados emergentes da Aberdeen, em Londres.
Ganhos do real
O real mostra o melhor desempenho entre moedas de mercados emergentes neste mês, seguido por moedas atreladas às commodities, como o rublo da Rússia e o peso da Colômbia. Forinte, zloty e a coroa tcheca tiveram desempenho mais fraco.
Na quarta-feira, o Banco Central elevou a Selic em 0,75 ponto percentual e sinalizou aumentos ainda maiores em meio a previsões de inflação mais alta.
“O Brasil é provavelmente o exemplo mais claro de uma combinação de melhores perspectivas de crescimento, redução do ruído político, um banco central mais ‘hawkish’ e moeda desvalorizada para justificar o recente desempenho superior”, escreveram estrategistas do BofA.