Antigo marco do “boom de commodities”, cidade australiana abre caminho para recuperação
No maior terminal de minério de ferro do mundo, localizado na cidade australiana de Port Hedland, no Estado da Austrália Ocidental, enormes embarcações se alinham próximo à costa de terra vermelha característica, aguardando pelos carregamentos da matéria-prima siderúrgica.
Um pouco mais ao sul, o cinturão do trigo do Estado já iniciou o plantio da principal safra deste ano, impulsionado pelos altos preços dos grãos e pela forte demanda global por farinha.
Com esses setores de commodities sofrendo apenas pequenas interrupções devido à pandemia de coronavírus, a Austrália Ocidental é atualmente um dos poucos pontos positivos do mundo, ainda que a economia do país, de forma mais ampla, enfrente sua primeira recessão em três décadas.
Economistas, mineradoras e agricultores acreditam que a demanda global por alimentos e minério de ferro vai marcar a volta por cima de uma região que entrou em crise em 2014.
O produtor Lyndon Mickel iniciou recentemente o plantio de trigo em sua propriedade de 6 mil hectares, localizada perto de Esperance, na região sul do Estado. Ele vê os negócios “caminhando normalmente”, com bons preços para vendas de grãos no mês passado.
A Austrália é uma das maiores produtoras de trigo do mundo, e as exportações de grãos da Austrália Ocidental representam cerca de 40% do total do país.
“A Austrália Ocidental é menos dependente do turismo internacional, que vai ser a última coisa a voltar. É uma fornecedora maciça de minério de ferro, e os preços se sustentaram”, disse à Reuters o estrategista-chefe de investimentos da AMP Capital, Shane Oliver.
Enquanto as finanças de outros Estados australianos e a nível federal tendem a se deteriorar, com as receitas recuando e os gastos disparando, a Austrália Ocidental deve manter um orçamento equilibrado, de acordo com economistas.
As cotações do minério de ferro se mantiveram resilientes durante a pandemia, em torno de 80 dólares a 85 dólares por tonelada, sustentadas por cortes de produção da Vale (VALE3) e interrupções de embarques em outros locais.
Com governos investindo em grandes projetos para reativar o crescimento econômico, é esperado que os preços da matéria-prima siderúrgica continuem se sustentando.
Dessa forma, os embarques estão caminhando a todo o vapor, segundo John Finch, diretor-geral de operações da Pilbara Ports, que canaliza as maiores exportações de minério de ferro do mundo.
“Março foi nosso terceiro melhor mês da história. Não perdemos tempo. A demanda está muito, muito forte, e ainda temos os mesmos 30 ou 40 navios esperando para atracar”, disse ele à Reuters.