André Franco: uma mudança de paradigma ou uma crise como as anteriores?
Esta é a pergunta que mais tem dominado meus pensamentos: estamos diante de uma mudança de paradigma e o mundo vai mudar completamente até 2021 ou é uma crise como qualquer outra mais recente?
Para responder a essa pergunta, recorri ao texto de Ray Dalio, do dia 17 de julho do ano passado. Ele explicou que, aproximadamente a cada 10 anos, testemunhamos uma mudança de paradigma que altera a forma como vivemos.
“Nos meus 50 anos de investidor global, observei que há períodos relativamente longos (cerca de 10 anos) em que os mercados e as relações de mercado operam de uma certa maneira (que chamo de ‘paradigmas’) […].”
Assim começa o texto de Dalio no qual, ao final, ele explicitamente sugere o ouro como um ativo para diversificar, reduzir risco e melhorar retornos de um portfólio.
Por ser alocador em um fundo bilionário, Dalio tem que antecipar essas mudanças de paradigmas e investir em tendências que tenham a capacidade de absorver bilhões em investimentos e, ainda assim, gerar retornos acima da média.
Mesmo com uma boa antecipação de que estávamos próximos de uma mudança de paradigma, ele não entendeu que o coronavírus seria o gatilho para uma mudança mais drástica.
E sim, a essa altura, acredito que estamos vivendo uma mudança de paradigma. O mundo inteiro está preocupado com o avanço de um vírus ainda sem cura, sem vacina e que está obrigando bancos centrais a imprimirem dinheiro de forma desenfreada.
O Fed (Banco Central americano) já declarou que irá fazer o que for preciso para salvar a economia, mas não estabeleceu limites de impressão de dinheiro para atingir seu objetivo. O total de ativos no balanço do Fed está crescendo de forma vertiginosa e já marca US$ 5,2 trilhões.
Muito provavelmente, esse número vai ser maior dentro de algumas semanas; os efeitos de segunda ordem desse ato de desespero ainda são desconhecidos e não projetáveis.
O mundo nunca esteve diante de uma crise global como essa, que exigisse a impressão de dinheiro coordenado entre bancos centrais e, basicamente, sem limites.
O aumento nos números de casos em todo o planeta, de forma exponencial, aliado à recessão econômica certa, cria uma sensação de impotência, que nos coloca em uma posição majoritariamente de espectador.
A quantidade de moeda fiduciária no mundo, a grosso modo, vai dobrar. Os mesmos esteroides que foram usados para inflar o mercado de ações até o início dessa crise agora vão ser usados em doses maiores.
Nesses momentos de mudanças globais, recorrer à História pode ser a melhor forma de tentar traçar possíveis cenários de como o mundo irá emergir.
A primeira imagem que me vem a cabeça é a Roma Antiga e sua impressão de dinheiro, que resultou em um período de estagnação econômica conhecida como Idade Média.
Roma importou, dos gregos, a ideia de ter uma moeda e, em 300 a.C, cunhou a sua primeira, o ás, que era muito parecida com a moeda que haviam se inspirado. Basicamente, esse instrumento para troca valia o que pesava: cerca de 350 gramas.
O peso do ás começou a mudar 20 anos depois da sua criação: na primeira das Guerras Púnicas contra Cartago, o Estado romano teve que pagar seus soldados e comprar equipamentos em uma velocidade maior do que estava acostumado a fazer.
Por isso, a moeda teve de ser produzida a toque de caixa e isso fez com que seu tamanho fosse reduzido em cinco vezes para conseguir se adaptar à nova realidade de “impressão”.
Essa atitude foi extremamente necessária para Roma vencer a guerra. O problema veio depois, pois a alquimia de criar dinheiro do nada fez com que os romanos continuassem sua expansão monetária depois da guerra.
A vontade de criar um império cada vez maior fez com que o Estado continuasse gastando e, assim, gerando inflação.
Mesmo assim, foi só quando a Segunda Guerra Púnica começou que os romanos perderam o controle total da impressão do ás. Isso fez com que a população perdesse a fé no dinheiro e voltasse a negociar mercadorias utilizando coisas que tivessem valor intrínseco, como ouro, prata, sal e escravos.
Podemos estar próximos de viver algo parecido em um futuro próximo. Os estímulos trilionários na economia serão muito usados para resgatar grandes empresas, que empregam milhares de pessoas, e bancos, que são as bases do capitalismo.
Viveremos um misto de inflação nos preços e também inflação nos ativos, como ações em bolsa e participações em empresas.
Outro modo de olhar para isso é perceber a própria desvalorização da moeda indiretamente. Não são os ativos ou as mercadorias que ficarão mais caras, mas sim a moeda fiduciária que perderá parte do seu valor — aliás, já vem perdendo.
Desde 1950, o dólar perdeu 90% do seu valor e, desde 2010, perdeu 99,99% do seu valor, em comparação ao bitcoin. Esse cenário só deve piorar nos próximos seis a doze meses por conta de mais impressão de dinheiro. Por isso, não deixe o seu portfólio desprotegido, sem bitcoin e sem ouro.
E você, o que acha? Acredita que pode existir outro ativo que irá performar bem na atual crise? Se quiser, pode entrar em contato comigo pelo Instagram e me responder. Fique à vontade. Sempre estou aberto a ampliar minhas percepções.
Abraço e até a próxima.