André Franco: quem pode parar a Binance?
Por André Franco, especialista da Empiricus Research
Certa vez, na minha conta do Instagram, mencionei como o modelo de token de exchange era um sucesso comprovado.
Esse modelo consiste em um token dentro de uma exchange de cripto que oferece desconto em taxas de negociação. Então, esses tokens são vendidos previamente em um ICO (Initial Coin Offering) e depois de adquiridos, se usados para pagar taxas, oferecem descontos.
A pioneira desse modelo foi a Binance, a principal exchange do mundo e a que possui a maior liquidez real comprovada. No entanto, lembrar da Binance apenas como a criadora das Binance Coins (BNB) é diminuir, e muito, o seu potencial disruptivo.
A Binance, na minha opinião, é o que chamo de “monstro”: pelo seu tamanho e pela sua capacidade de engolir os seus concorrentes à medida que o tempo for passando.
É exatamente sobre a magnitude dessa empresa que quero falar na coluna de hoje. Primeiro de tudo, vamos nos focar em falar um pouco sobre a sua história e depois traçar quais caminhos a empresa está seguindo e deve seguir daqui em diante.
Recapitulando: como a Binance surgiu?
A Binance foi uma empresa criada em julho de 2017 pelo seu atual CEO, Changpeng Zhao, mais conhecido como CZ. Com uma estrutura muito enxuta e focada em permitir apenas negociações de cripto para cripto, a empresa cresceu vertiginosamente e, em seis meses, alcançou o status de unicórnio, empresa com valuation de mais de US$ 1 bilhão.
Vale lembrar que a empresa capturou todo o ótimo momento do mercado em 2017 e, por isso, conseguiu crescer tão rápido em apenas seis meses. Mesmo assim, méritos devem ser dados à equipe liderada por CZ, pois, mesmo com diversos empecilhos durante toda a sua história, como a saída de quatro países, não deixou de prover um ótimo serviço ao mercado.
Com negociações de vários criptoativos em sua plataforma, a exchange lidera, até o momento, a liquidez do mercado. Dada a sua capacidade de criar e entregar, mensalmente, novos produtos e serviços, não consigo ver outra empresa assumindo o lugar da Binance nos próximos seis ou 12 meses.
Por que a Binance está liderando o mercado?
Esse mercado de corretoras, tanto das tradicionais quanto das de cripto, vale a regra de efeito de rede ou, se preferir, “winner takes almost all”. Isso significa que as empresas que atraem a maioria dos novos entrantes são aquelas que já possuem mais liquidez, dessa forma, se consolidando como líderes.
Isso acontece porque os investidores mais atentos querem negociar em plataformas que possam absorver as suas demandas de compra e venda sem gerar distorções no mercado.
Além disso, a Binance tem expandido o seu mercado para além de ser apenas uma plataforma de negociações de cripto. Outro modelo que vem dando muito certo para as corretoras de cripto, que se iniciou também com a Binance, foi o IEO (Initial Exchange Offering), uma evolução do modelo de ICO (Initial Coin Offering).
No modelo de IEO, a startup passa por um suposto crivo da corretora, que escolhe apenas os projetos em que acredita mais, e então uma oferta de tokens bem pequena é realizada, por volta de US$ 5 milhões. Esse suposto crivo, aliado a uma plataforma com grande liquidez gera escassez artificial do token, o que faz com que os investidores sejam tomados pelo FOMO (Fear of Missing Out), e então faz com que os preços desses tokens subam nos primeiros dias de negociação.
Além de lucrar com todas as negociações desse novo token na plataforma, a corretora também ganha uma parcela desses tokens como forma de pagamento da equipe por listar o projeto em uma exchange de grande liquidez. Dessa forma, a empresa ganha dinheiro de ponta a ponta na cadeia e ainda tem a opcionalidade de caso o token venha a se valorizar muito, ganhar com essa frente também.
Outra forma que a Binance achou de expandir seus negócios e atrair mais clientes foi oferecer alavancagem nas negociações para competir com empresas como a Bitmex, principal plataforma para negociações com alavancagem em cripto. Atualmente, dentro da Binance, é possível alavancar os trades em até 125 vezes, enquanto na Bitmex, esse número só chega até 100 vezes.
Consequentemente, a Binance, por ser essencialmente uma intermediária, pode oferecer serviços de empréstimos de ativos semelhante a empresas como a BlockFi.
De um lado, a empresa toma emprestado criptoativos dos seus clientes e os empresta para outros clientes se alavancarem em suas negociações. Conforme a empresa vai atraindo mais clientes para as duas pontas desse negócio, mais lucrativa essa iniciativa se torna.
Além disso, a empresa se prepara já para aquilo que pode disruptá-la em um futuro próximo. As exchanges descentralizadas (DEX) são uma possível ameaça em um futuro próximo, mas que ainda não se concretizaram em algo para gerar preocupação.
Mesmo assim, a Binance já possui o seu próprio projeto de DEX, na qual o token BNB é o token nativo da rede e o combustível para as transações serem realizadas, assim como o ETH é na rede do Ethereum.
Outro fator que chama bastante a atenção na forma como CZ toca a Binance é o seu foco também em criar pequenas Binances ao redor do mundo, para possibilitar que clientes possam fazer a conexão entre moeda fiduciária, como real ou dólar, com o mundo de cripto.
Além das inciativas em países como os Estados Unidos e a Ilha de Jersey, a empresa também quer possibilitar esse tipo de conexões entre moedas locais e cripto na China e na Rússia.
O que esperar da Binance daqui para frente?
A empresa caminha, muito provavelmente, para se tornar um banco mundial com presença em diversos países, mas sem precisar se submeter a apenas um marco regulatório. A aplicação na prática e a arbitragem regulatória bem-executada nos mostra que qualquer sanção de um país não será capaz de parar a evolução da empresa que, provavelmente, apenas deixará de atuar naquele país no qual foi sancionada.
Além disso, os serviços de empréstimo, de alavancagem e de ofertas públicas (IEO) nos mostram que a Binance continuou mantendo o mesmo ritmo que a transformou em um unicórnio em seis meses.
Muito provavelmente, a empresa está bem preparada para uma nova corrida de preços, igual em 2017 e, caso isso ocorra, deve se consolidar como a maior exchange do mundo.Um abraço!