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André Franco: não lute contra quem você (ainda) não pode vencer

04 maio 2020, 11:02 - atualizado em 26 maio 2020, 11:06
Analista do site cripto Messari comparou Jerome Powell, presidente do banco central dos EUA (o Federal Reserve) ao personagem Thanos, dos Vingadores, que faz o que quer com apenas um estalar de dedos (Imagem: Messari)

“Toda vez que Jerome Powell [presidente do FED] fala, ele pode criar, destruir ou transferir trilhões de dólares em riqueza global com o estalar dos dedos. Ele é basicamente o Thanos das finanças modernas.”

Qiao Wang, analista da Messari

Em uma cena do filme “Vingadores: Guerra Infinita”, o Doutor Estranho, que pode prever o futuro, visualizou mais de 14 milhões de possibilidades de desfecho para a batalha que se aproximava com Thanos e, em apenas uma delas, os Vingadores seriam os vencedores.

Traçando o paralelo com a fala de Qiao, ir contra as medidas que Jerome Powell, o “Thanos das finanças modernas”, tem instituído é quase como querer vencer Thanos, o original, sem saber as linhas do tempo que podem ser traçadas para o futuro.

Seria como se as chances de vencer fosse uma dentre mais de 14 milhões. E, com “vencer”, quero dizer apostar em um bear market mais profundo, com queda nas bolsas americanas, e ganhar dinheiro. Para defender meu ponto de vista, vamos analisar o que o banco central americano tem feito até o presente momento para tentar conter a crise financeira.

O FED tomou uma série de medidas desde o dia 3 de março para conter a queda dos mercados e, no dia 23 desse mesmo mês, fez a seguinte declaração:

“O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) comprará títulos do Tesouro e títulos lastreados em hipotecas de agências nos montantes necessários para apoiar o bom funcionamento do mercado e a transmissão efetiva da política monetária a condições financeiras mais amplas à economia.”

Essa declaração coincide com o ponto mais baixo do S&P, principal índice da bolsa americana.

Jerome Powell é o presidente do banco central dos EUA, o Federal Reserve, e está fazendo de tudo para manter funcionais os mercados globais (Imagem: Facebook/Board of Governors of the Federal Reserve System)

Por isso, ao contrário do Thanos no filme da Marvel, Powell está longe de ser o vilão muito pelo contrário: ele tem mais a alcunha de um herói. Digo isso porque o mercado financeiro dos EUA e, por consequência, o mundial, dependem das medidas adotadas pelo FED para decidir o que fazer adiante.

É muito normal para o analista pegar suas planilhas a atualizar o valuation das companhias por ele cobertas e ver oportunidades mas, caso o FED não decida salvar o mundo injetando liquidez, as projeções de ganhos não irão convergir para o que a planilha mostra.

Powell, por meio de entrevistas e comunicados oficiais, deixou claro que o FED tomará as medidas necessárias para manter os mercados funcionais. Para isso acontecer, não poupou esforços.

Em relação aos anúncios mais comuns e de fácil entendimento, temos a redução da taxa de juros que, na primeira quinzena de março, colocou os juros que estavam em 1,5% para zero, um movimento que não acontecia há pelo menos cem anos.

Mas o FED não parou por aí e seguiu com cortes na taxa de empréstimos, com a qual os bancos podem tomar emprestado com o próprio banco central (processo chamado de “discount window”). A taxa saiu de 1,75% e atingiu 0,25%. Para alinharmos todos na mesma página, vale uma explicação.

A taxa de juros básica da economia é arbitrada pelo FED e define o juro cobrado entre os bancos para emprestarem dinheiro entre si. Já o juro que falei no parágrafo acima se refere ao cobrado quando se toma dinheiro emprestado com o próprio banco central.

A medida de colocar as duas taxas bem próximas uma da outra é para facilitar a vida dos bancos; caso eles não tenham com quem tomar dinheiro emprestado, o FED funciona como o último recurso com taxas igualmente baixas.

A manopla com as joias do infinito de Powell é a força do dólar como moeda e reserva de valor global. Assim, se ele perder sua manopla, também perderá seus poderes (Imagem: Crypto Times)

Além das medidas citadas, o banco central americano passou a emprestar dinheiro para outros bancos centrais pelo mundo, municípios americanos, pequenos e médios negócios etc.

Não importando a praça ou quem precisasse, o FED estava disposto a salvar a sua economia e, talvez, até a do mundo inteiro. Por isso, temos que saber reconhecer que, dentro de 30 dias, Powell fez tudo o que estava ao seu alcance para manter a engrenagem funcional da economia.

Se me permitem fazer uma analogia neste ponto, o que o banco central americano fez foi colocar graxa na engrenagem da economia de forma precisa e em todas as peças que achou serem necessárias.

Sim, funcionou por enquanto. O S&P atingiu sua mínima em 23 de março e, desde então, já subiu mais de 25%.

No entanto, todo esse dinheiro (a graxa das engrenagens) colocado a serviço do mercado financeiro, em sua maioria, foram empréstimos que têm data para serem pagos.

Vale lembrar que esse tipo de iniciativa, como o TARP, programa de recompra de ativos afetados pela crise de 2008, que salvou o setor financeiro com um empréstimo de U$S 475 bilhões, deu certo e, provavelmente, serviu de inspiração para que o FED estipulasse as medidas atuais.

No entanto, essa crise atual não é apenas do setor financeiro e, com certeza, tem dimensões maiores que a anterior.

Por isso, mesmo que você concorde que o FED conseguiu domar os ciclos econômicos e que, momentaneamente, não temos com o que nos preocupar, isso pode mudar na sequência e você tem que estar preparado para mudar também.

Hoje, brigar com FED parece imprudente, mas lembre-se que Thanos era o ser mais poderoso do universo por conta de sua manopla e das joias do infinito. Sem esses artefatos, Thanos não tinha como criar e destruir planetas e seres vivos com um estalar de dedos.

De modo paralelo, o poder de Powell e do FED residem na força do dólar como moeda e reserva de valor global. Da mesma forma, caso o dólar venha a perder essa alcunha, os poderes de Powell irão diminuir consideravelmente e talvez esse seja o sinal para poder lutar contra o “Thanos das finanças modernas”.

E você? Acha que apostar no bear market é possível? Tem outra ideia sobre esse assunto? Qualquer dúvida ou crítica, entre em contato comigo pelo Instagram e me diga. Sempre gosto de ouvir a sua opinião sobre o que escrevi.

Abraços e até a próxima.

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