André Franco: Litecoin, o fim da “prata digital”
Por André Franco da Empiricus Research
“Nós não temos um modelo de negócio, mas a litecoin irá sobreviver.” — Xinxi Wang, cofundadora da Litecoin Foundation
Provavelmente, na primeira vez em que você ouviu falar sobre litecoin (LTC), deve ter escutado a teoria da prata digital como complemento da tese de bitcoin como ouro digital. Por muito tempo essa ideia perdurou e, para os mais despreparados, essa tese ainda continua valendo.
Neste texto, não quero entrar no mérito da questão, mas, dentro do que tenho lido e visto, o litecoin não configura como prata digital. Mesmo que fosse, o futuro pouco promissor do ativo colocaria em xeque o seu potencial de valorização e consolidação no mercado.
Então vamos ao que interessa e recapitular como a principal instituição por trás do ativo, a Litecoin Foundation, chegou ao estado crítico financeiro e, para piorar, sem possuir um modelo de negócio sustentável.
Litecoin Foundation: do zero ao fim
Em abril de 2017, a Litecoin Foundation foi fundada com zero dólares em conta e com o intuito de apoiar o desenvolvimento do ativo. Assim como vários projetos, o litecoin experimentou uma época de ouro naquele ano e viu o preço do LTC sair de US$ 10 e ultrapassar a marca dos US$ 200.
Um crescimento impressionante que fez com que os litecoin em reservas alcançassem um valor de mais de US$ 1 milhão. Esse capital seria suficiente para manter a instituição por vários anos se o fosse completamente trocado por dólares e não deixados em criptomoedas, mas não foi o que aconteceu.
Com a prerrogativa de apoiar o sistema, trocar litecoins por dólares era jogar contra o time e, por isso, a maior parte das reservas foi deixada em forma de criptomoeda.
Assim, atualmente, a Litecoin Foundation possui apenas US$ 200 mil em ativos e apenas um funcionário pago pela instituição; todas as demais pessoas trabalhando são voluntários e não recebem salário.
Vale lembrar que até chegar a esse ponto de possuir apenas um funcionário pago pela fundação, a Litecoin Foundation passou por um corte voluntário de salários desde agosto deste ano, segundo Xinxi Wang.
Ainda sem um modelo de negócio viável e escalável, a fundação sangra mensalmente com seus gastos recorrentes e só sobrevive por meio das doações que, em sua maioria, foram dadas pelo Charlie Lee, criador do litecoin.
De junho de 2017 a maio de 2019, Charlie Lee foi responsável por cerca de 80% do total doado à fundação.
Vale lembrar que, na euforia de 2017, no pico de preços dos criptoativos, o idealizador do litecoin vendeu toda sua posição em LTC, alegando que isso evitaria conflito de interesse da sua parte no desenvolvimento do projeto.
É exatamente por isso que Lee possuía mais de US$ 400 mil para contribuir com a Litecoin Foundation em dezembro de 2017.
Outra fonte de receita da fundação, os eventos, passaram a dar prejuízos. O último Litecoin Summit deu um prejuízo de US$ 50 mil à fundação, o que representa metade do capital que a fundação queima por ano para se manter viva, segundo Lee.
Isso implica que, considerando o caixa atual de US$ 200 mil, a Litecoin Foundation tem verba suficiente para se manter por apenas dois anos, caso não encontre nenhuma fonte de renda sustentável ou consiga doações significativas.
A partir desse momento, uma pergunta adicional surge na minha cabeça: Charlie Lee estaria disposto a doar mais uma bolada para a fundação?
Se ele abriu mão de todos os seus litecoins no pico de 2017, com o intuito de não criar conflito de interesse, mas afirmou que continuaria no projeto, uma doação para salvar a Litecoin Foundation estaria alinhada com esse propósito.
No entanto, acho muito difícil Charlie Lee querer apoiar a fundação dessa forma, isso porque ele mesmo já declarou que um projeto descentralizado não precisa necessariamente de uma instituição dessas.
Não acredito em uma volta por cima da Litecoin Foundation nem da litecoin em si. Charlie Lee saiu de uma grande referência no mercado cripto para apenas mais um coadjuvante, que promete muito e faz pouco.
Suas defesas em relação ao futuro da litecoin começaram a ser rasas e apoiadas ainda na teoria da prata digital. Nesse podcast é possível entender como Lee vê a evolução do protocolo que criou e como não possui consistência.
A única coisa que joga a favor do protocolo é o seu histórico, já que é um protocolo tão antigo quanto o bitcoin e possui sim uma massa crítica de desenvolvedores no seu entorno.
Uma prova disso é a recente proposta de melhoria submetida por Andrew Yang, David Burkett e Charlie Lee para adicionar privacidade às transações com litecoin.
Mesmo assim, não acredito que essa melhoria possa de fato ajudar na adoção do LTC como defende Lee. Acredito que as moedas de privacidade estão cada vez mais em xeque. Isso porque as exchanges asiáticas estão tentando se adequar a novas políticas de compliance e estão deslistando criptomoedas com essas características de transações privadas.
OKEx e Upbit foram as últimas a deslistarem criptomoedas como monero, dash e zcash, além de outras pouco conhecidas como a horizen.
Litecoin em contagem regressiva para o fim
Por isso acredito que é apenas uma questão de tempo até o litecoin se mostrar inútil ou pouco utilizável em relação a protocolos como o bitcoin.
Pode até ser que você queira argumentar que o próprio bitcoin não tem uma fundação por trás e, mesmo assim, triunfa como principal criptoativo do mercado, o que seria um argumento válido.
Por outro lado, o bitcoin cresceu de forma orgânica e, por muito tempo, foi o único ativo nesse mercado. Com isso, conseguiu atrair toda a massa de desenvolvedores interessados na criação de uma moeda descentralizada, o que não foi a realidade do litecoin.
Em um jogo em que o vencedor leva quase tudo, a similaridade com o bitcoin, que jogou a favor no começo, pode jogar contra nessa nova fase de consolidação do mercado.
Dessa forma, vejo que dificilmente uma virada acontecerá e litecoin vai ser mais um daqueles protocolos transitórios até chegarmos ao ápice desse mercado em cinco ou dez anos.
Gostou do insight de hoje? Para você litecoin ainda tem um futuro promissor?
Se quiser continuar esse papo, entra em contato comigo pelo Instagram e me fala o que você acha.
Abraços e até a próxima.