Anderson Gurgel: As perspectivas para negócios criativos em 2022
Em tempos de crise e pandemia, a criatividade é um tipo de vacina para sobrevivência de negócios e estratégias de empresas e empreendedores. Para a economia criativa, os tempos que vivemos são um desafio e uma oportunidade para firmar de vez um novo paradigma centrado em sustentabilidade, inovação e pensamento humanístico.
Neste texto, com o apoio de nove especialistas que transitam em vários segmentos das indústrias criativas, fazemos um balanço do que será tendência em 2022 e, também, quais foram os destaques do ano de 2021. Vamos lá?
2021: Sobrevivência por meio do pensamento inovador
Lyara, Oliveira, criadora de conteúdo audiovisual e de experiências imersivas, professora e atualmente diretora de Inovação e Políticas do Audiovisual da SPcine, destaca os eventos híbridos. Para ela, vários realizadores de eventos de comunicação, artes e audiovisual se esforçaram muito para realizar suas primeiras edições híbridas, com ações presenciais ainda reduzidas, mas já existentes e ações também na web utilizando site e plataformas de vídeo conferência e plataformas de streaming.
Ela lembra, ainda, o crescimento das plataformas de Streaming: “o aumento de adesão ao consumo de conteúdos audiovisuais através dos serviços de streaming segue aumentando e novas empresas entraram nesse negócio ao mesmo tempo em que algumas empresas criaram suas plataformas para acesso exclusivo a seus conteúdos.”
Segundo ela, foi destaque a alta demanda por conteúdos audiovisuais – a demanda por conteúdo audiovisual original aumentou também puxada pelo próprio crescimento das plataformas. Alto fluxo de produção de conteúdos audiovisuais – na segunda metade de 2021 houve uma explosão de produção de conteúdos audiovisuais também na esteira da alta demanda e porque a produção este represada entre o primeiro semestre do 2020 e primeiro semestre de 2021.
Lyara Oliveira também acrescenta a consolidação da comunicação. Propaganda, tutoriais, aulas, manuais, plataformas de venda online. “Tudo agrega de certa forma conteúdos audiovisuais.”
Na mesma direção, o jornalista e pesquisador da área de audiovisual e entretenimento Guilherme Bryan destaca a consolidação de estratégias e o crescimento de empresas dedicadas a transmissões ao vivo, como Zoom e Meeting. Para ele, essas ferramentas vieram para ficar. Outra ferramenta ligada a vídeos que também se consolidou foi o Tik Tok.
Para o professor do Centro Universitário Belas Artes, essa rede social está “cada vez mais presente, principalmente entre crianças e os jovens”. Ainda no território de audiovisual, ele destaca que o Oscar 2021 foi praticamente movimentado com filmes exibidos em streaming. Segundo ele, esse segmento ainda se destacou com o aumento de reality shows e teledramaturgia.
Mudando para outro importante setor da economia criativa, Andrea Vialli, especialista em sustentabilidade, comenta que entre os fatos que marcaram os negócios criativos em 2021 o destaque foi a realização da conferência do clima (COP26) em Glasgow. “Ela foi marcada pela intensa presença de empresas de variados setores e ativistas – não só ambientalistas, mas indígenas, movimento negro, feminista.”
Outro ponto apontado por ela foi o avanço da vacinação favorecendo a reabertura de empresas e, também, de locais de cultura. Além disso, ela lembra que os estados da Amazônia, como Pará e Amazonas, estão cada vez mais se articulando para criar políticas públicas de incentivo à bioeconomia da floresta, criando incubadoras e aceleradoras de empresas para fomentar startups que utilizem tecnologia para agregar valor aos produtos florestais.
Carol Garcia, especialista em negócios e comunicação digital, afirma: “No meu entender, essa tendência, que já apresentava perspectivas de crescimento desde 2020, seguramente vai se estabelecer como um clássico – ou seja, um mindset de longa duração e que exige resiliência, adaptabilidade e saúde mental tanto em termos individuais quanto corporativos.”
Ela destaca ações como a atitude do Facebook de renomear seu negócio como Meta e ampliar o foco da corporação, mas também em aquisições como a feita pela NIKE em relação à startup RTFKT para a produção de tênis digitais ou da Sony em termos dos direitos autorais do patrimônio do cantor Bruce Springsteen, incluindo hits como “Born in the USA”.
Esses são claros indícios de que o metaverso, transformando as relações pessoais, de trabalho, de negócios. Mas ela lembra que atenção às fakes news disseminadas por hologramas e avatares, além de algoritmos em redes sociais devem ser cada vez maiores.
No mundo editorial, Marcio Coelho, especialista no ramo de livros e negócios literários, destaca que, em 2021, foi marcado pela expansão de clubes de assinaturas dos mais variados, além de oferta de aplicativos de entrega em até 15 minutos. Outro ponto importante para ele foi a expansão de projetos de livros digitais para educação.
Bruno Ranieri, da Livemode, especialista em mídia e esporte, diz que um destaque inovador de 2021 foi a ação chamada de Eurolampions, criada pela Ambev para a marca Brahma em ativação na Copa do Nordeste. Foi genial, pensando em esporte, uma ideia muito criativa e que até ganhou o Prêmio Effie de Publicidade.”
2022: Criatividade como ponto de partida
Sustentabilidade: Para 2022, Andrea Vialli, destaca o surgimento de negócios ligados ao mercado de créditos de carbono, já que o tema foi regulado na COP26 e deve ganhar alcance mundial; há empresas de consultoria ambiental até lastreando créditos de carbono com criptomoedas;
Outra frente importante para ela deve ser o empreendedorismo indígena. “Os indígenas estão cada vez mais conectados e vendendo produtos que remetem aos seus povos; a literatura indígena também tem ganhado espaço e canais de difusão e comercialização.” Fora isso, ela espera a ampliação de negócios e startups ligados a cannabis.
Audiovisual e entretenimento: Para Lyara Oliveira, os destaques de 2021 seguirão sendo relevantes em 2022. Ela ainda acrescenta que o crescimento dos conteúdos audiovisuais curtos – algo que já vem tendo destaque nos dois últimos anos e que estamos prevendo que vai explodir em 2022. principalmente em termos de reconhecimento da grande mídia que já está aderindo também a essa tendência.
Além disso, o aumento do interesse do público em geral por conteúdos de realidade virtual e aumentada – interesse impulsionado pelo anúncio recente dos investimentos da empresa Meta na criação e desenvolvimento do metaverso.
Guilherme Bryan, ao falar do novo ano, aposta em mais expansão do streaming. Ele ainda acrescenta “a estreia de Silvio de Abreu na HBO Max com a aposta em teledramaturgia.”
Contudo, ele vai além, ao comentar que as redes sociais devem ser protagonistas em importantes momentos de 2022. Para ele, haverá uma “ainda maior influência das mídias sociais digitais nas eleições brasileiras.”
Em outras frentes, ele defende o crescimento do formato híbrido em reuniões e eventos e até na educação. Além disso, ele lembra do “retorno dos grandes festivais musicais, como Lolapalooza e Rock in Rio.”
Gastronomia: Para Arnaldo Lorençato, jornalista de Veja São Paulo e especialista em gastronomia, o ano de 2021 foi o da retomada dos negócios gastronômicos. E, para ele, “2022 deve ser o ano da consolidação.” Ele defende que, quem teve chance de investir, encontrou oportunidades, com aluguéis mais baratos e negociáveis.
Além disso, esses empreendedores puderam atingir um público que estava ansioso pelo retorno. E isso ajudou em muitas aberturas em segmentos já consolidados, como culinária italiana. Mas ele destaca as ousadias e novos segmentos, como a ampliação de oferta por comida vegana e ampliação de espaços para experienciar aventuras gastronômicas autoriais, principalmente dentro do repertório alimentar brasileiro.
Cultura e vida digital: Para 2022, Carol Garcia aposta que os destaques virão das inovações provocadas pelas mudanças climáticas e obviamente, mudanças de estilo de vida. “Priorizar a saúde e a felicidade pessoal é uma realidade diante das ameaças à vida de todos os seres e a fragilidade humor hiper exposta durante a pandemia.”
Outro ponto importante para ela será a economia circular, biomimética, preocupação ambiental e sanitária. Ainda são relevantes a guerra de talentos no setor de recursos humanos, já que o trabalho não é mais prioridade na pauta individual como referente de sucesso. Fora isso, com o home office, a casa ganha importância e a provável especulação imobiliária e aumento dos aluguéis em regiões metropolitanas com melhor qualidade de vida é uma perspectiva bem real.
As mudanças urbanas vão levar a mais novidades nas cidades conectadas e inteligentes para permitir reações rápidas a pandemias e urgências climáticas. O lado sombrio está na incerteza alimentar e disrupção de padrões alimentícios.
Segmento educacional e literário: Para Marcio Coelho, em 2022, devem ser destaque o trabalho híbrido, as escolas abordando o contato com a natureza para desenvolvimento pessoal e o ensino de educação financeira.
e-Sports, tecnologias no entretenimento e streaming: Para Marcelo Bechara, especialista em entretenimento digital, e-Sports e streaming, a tendência para 2022, nessas áreas, é de uma disputa ainda maior por direitos de transmissão no universo digital, na internet, principalmente entre YouTube e Twitch.
“Além do ‘local’ de transmissão, novos formatos de narradores e comentaristas também estão sendo formados. Ao invés do tradicional narrador, as transmissões acontecem como uma conversa entre amigos, que é possível torcer para o determinado time. A interação em tempo real com os expectadores no chat também ajuda a aumentar o engajamento das lives.” Um ponto que ele lembra é a consolidação da Twich como espaço para transmissão de eventos importantes do mundo dos esportes digitais.
Para 2022 Ranieri defende que teremos duas frentes que devem se destocar mais. A primeira envolve as ativações ligadas a 5G. “Isso vai abrir muitas oportunidades de ativações, como já acontecem nos Estados Unidos. Um exemplo é o uso de exibição de jogos multitela; wearables dentro do campo com ativações em juízes, técnicos etc.” A segunda força será dos criptoativos. No Paulistão e na Copa do Nordeste, usaremos criptoativos em ativações, isso já vem sendo pensado pela Livemode.
Cultura e artes: Fernanda Nardy, especialista em marketing esportivo e cultural, lembra que, no âmbito das artes performáticas, espetáculos e apresentações híbridas foram destaque. Além disso, colaborações globais, entre artistas de diferentes nacionalidades e aumento das produções independentes e colaborativas foram importantes. “Isso gerou o surgimento de novos formatos narrativos”.
Para 2022, ela acredita que continuidade dos modelos colaborativos e pontua a expansão da artvertising, dos espaços híbridos compartilhados (salas de ensaio, apresentações) e dos festivais online.
Com esses depoimentos deixo meus votos de um 2022 criativo para todos e todas nós!
Anderson Gurgel é jornalista de economia, negócios e marketing, professor universitário da Universidade Presbiteriana Mackenzie e do Centro Universitário belas Artes, além de pesquisador, consultor e produtor de conteúdo. Conectando todas essas várias frentes de ação estão os negócios criativos, do entretenimento e do esporte, segmentos que o profissional vem se dedicando ao longo dos quase 25 anos de vida profissional. É autor de livros, produtor de eventos e já ganhou alguns prêmios, sendo um destaque a Menção Honrosa em 2019 pela Universidade Presbiteriana Mackenzie pela atuação na área de inovação na educação.