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Ancord: juro baixo incentiva diversificação de investimentos e deve beneficiar corretoras

08 fev 2018, 7:31 - atualizado em 08 fev 2018, 1:32

Por Arena do Pavini

A queda dos juros básicos da economia para o nível mais baixo dos últimos 60 anos vai reduzir os ganhos da renda fixa tradicional e incentivar os investidores a diversificarem mais suas aplicações, o que beneficiará as corretoras de valores, afirma Emílio Otranto Neto, diretor-geral da Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (Ancord). Segundo ele, papéis de renda fixa isentos de imposto ganham mais competitividade, assim como ações.

Otranto lembra que o atual nível de juros não é sustentável no longo prazo e reflete mais uma queda mais forte da inflação por conta da atividade econômica ainda fraca. As projeções são de um IPCA ainda abaixo de 4% este ano, mas no ano que vem, além da redução da meta de 4,5% para 4,25%, a inflação deverá voltar a subir e o Banco Central (BC) vai ter de subir os juros. “Estamos aproveitando um momento muito bom de inflação e de grande liquidez internacional, que derrubou o dólar aqui e no exterior para menos de R$ 3,30”, diz.

Para os tomadores de crédito, porém, a redução da Selic ainda vai demora para se refletir em alguma diminuição no custo dos empréstimos. “Pequenas e médias empresas e pessoas físicas não vão sentir a queda dos encargos muito rápida e de forma relevante, pois o repasse para os empréstimos vai  depender do ciclo econômico, que leva mais tempo”, explica.

O efeito imediato da queda dos juros ocorre nas aplicações financeiras, como na caderneta de poupança, que agora segue o juro da Selic nos depósitos feitos a partir de 4 de maio de 2012. Esses depósitos rendem 70% da Selic. Também os títulos do Tesouro Direto vão sentir o impacto da queda dos juros, em especial o Tesouro Selic, ou LFT, que passa a render 6,75% ao ano até o fim de 2018 talvez. Fundos de investimento de renda fixa também sofrerão, pois além do imposto de renda eles pagam uma taxa de administração para o banco que pode chegar a 3% ao ano, ou seja, quase metade do ganho bruto da aplicação.

Com isso, mais investidores vão procurar alternativas de maior rendimento, como fundos multimercados, fundos de crédito, fundos imobiliários, papéis isentos de bancos, como Letras de Crédito Imobiliário (LCI) ou do Agronegócio (LCA) e papéis emitidos por empresas, como os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e do Agronegócio (LCA), ou debêntures incentivadas. Todos esses papéis são oferecidos pelas corretoras, o que deve aumentar a procura dos investidores. Hoje, o total de investidores cadastrados na bolsa está em 620 mil, pequeno para um país como o Brasil. E o crescimento dos últimos anos ocorreu mais por causa do interesse pelo Tesouro Direto do que pelas ações de empresas.

Alongar o prazo das aplicações para obter maior retorno também deve ser mais comum. E, finalmente, há o mercado acionário, que vem se destacando nos últimos dois meses. “As corretoras estão vivendo um período mais favorável este ano pelo aumento do volume negociado e do preço das ações”, afirma Otranto.

A alta forte do Índice Bovespa este ano, com significativa entrada de estrangeiros, atraiu mais investidores pessoa física para a bolsa, em um movimento que deve continuar este ano. “Ainda há oportunidades, apesar da forte alta das últimas semanas, especialmente depois da realização dos últimos dias pelo nervosismo no exterior”, explica. O mercado mundial está muito líquido e o Brasil, apesar de ter seus problemas sérios, é atrativo para o investidor de tiro curto.

Otranto espera que a bolsa, com esse juro real mais baixo, continue nessa tendência de alta, beneficiada também por fatores como a privatização da Eletrobrás prevista para este ano e a negociação da Embraer com a Boeing, que pode mexer com a estrutura de papéis de empresas com ligação com o governo. O juro baixo também favorece as ações ao reduzir o custo das empresas mais endividadas. Algumas empresas devem também aproveitar para alongar o perfil de suas dívidas a um custo menor, o que aumentará a oferta de papéis de renda fixa também.

“As corretoras estão vivendo bom momento pela evolução da bolsa”, diz Otranto. “O dinheiro dos gringos voltou, apesar de ser ainda de curto prazo”, diz. Ele acredita que esse ambiente positivo vai durar pelo menos até o fim do primeiro semestre. “Depois começa a corrida eleitoral pela Presidência, e isso pode afastar o investidor mais conservador, mas ao mesmo tempo atraindo o que gosta de volatilidade”, explica.