Analistas projetam ajustes no trecho curto da curva de juros na quinta-feira pós-Copom
O comunicado e a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central vieram de modo geral dentro do previsto, segundo profissionais ouvidos pela Reuters, mas é de se esperar ajustes de taxas na curva de juros brasileira na quinta-feira, em especial nos vértices com prazos mais curtos.
Para alguns analistas as taxas curtas tendem a cair no dia seguinte ao Copom, mas outros veem motivos para altas.
O colegiado elevou a taxa básica Selic em 100 pontos-base, para 13,25% ao ano, como era largamente precificado na curva, e manteve no comunicado a previsão de nova alta na mesma magnitude em março, sem se comprometer para a reunião seguinte, em maio.
Para o economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano, o fato de o BC não sinalizar uma elevação de 100 pontos-base em maio abre espaço, na prática, para que possa ocorrer uma redução do ritmo de altas.
“Como o BC não sinaliza maio, pode ser qualquer coisa. Então (a curva) ganha probabilidade”, explicou Serrano, projetando um ajuste de baixa nesta quinta-feira para as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) de curto e médio prazos, nos contratos até janeiro de 2028. “Poderia cair um pouco o curto e o médio, porque eles têm muito prêmio”, acrescentou.
Este também é o raciocínio de Claudio Pires, sócio-diretor da MAG Investimentos, em comentário escrito enviado à Reuters.
“Sobre o impacto na curva de juros, acho que os juros mais curtos podem ter algum alívio, dado que não teve indicação (no comunicado) de mais um aumento de 1 (ponto percentual em maio). Então, provavelmente, o ajuste na Selic em maio deverá ser inferior a 1 (ponto-percentual)”, afirmou.
No entanto, não há unanimidade sobre o efeito do resultado do Copom na ponta curta da curva.
O gestor de Renda Fixa Ativa da Inter Asset, Ian Lima, chamou atenção para o fato de o BC, no parágrafo do comunicado que tratou do “cenário mais recente”, excluir a avaliação sobre uma “maior abertura do hiato do produto”, mas citar em seu lugar “pressões no mercado de trabalho”.
Na avaliação de Lima, ao fazer a troca do “hiato” pelo “mercado de trabalho”, o BC não quis abrir margem para ser interpretado como dovish (brando com a inflação).
“Ele teve um cuidado substituindo as expressões. Trocou um risco por outro”, disse Lima, para quem isso é de certo modo um balde de água fria nas projeções.
“A ponta curta (da curva de juros) vai sentir mais e deve subir, até o janeiro 2027, que é onde (a curva) está mais amassada”, avaliou, lembrando que desde o início de 2025 a parte curta vinha passando por ajustes de baixa.